Nonato Guedes
O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, segue em alta na cotação das cúpulas estadual e nacional do PL para viabilizar o projeto de ser candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições do próximo ano, desbancando nomes de projeção local como o do comunicador Nilvan Ferreira, do deputado federal Cabo Gilberto Silva e do deputado estadual Walbber Virgolino. Um exemplo do prestígio de Queiroga foi a sua escalação para aparecer nas inserções do partido em emissoras de TV, com exclusão dos demais pretendentes. O gesto deu a entender que o ex-ministro foi, mesmo, praticamente ungido com antecedência pelas cúpulas para a vaga de candidato, sem consulta a outros líderes e sem respeito ao critério da pesquisa preliminar reivindicada, principalmente, por Nilvan Ferreira e Gilberto Silva como condição para confirmar pretensões.
Cumulado com tantas atenções que, segundo se sabe, partem, também, do ex-presidente Jair Bolsonaro, empenhado em lançar ex-auxiliares do seu governo como postulantes em várias Capitais para turbinar uma provável candidatura do PL à Presidência da República em 2026, cabe ao ex-ministro Marcelo Queiroga o desafio de mostrar que a ambição de ser postulante a prefeito de João Pessoa não é uma aventura. Até aqui, há dúvidas sobre a sua verdadeira densidade eleitoral, já que o cardiologista nunca disputou mandatos eletivos no Estado, do qual, inclusive, andou afastado por um bom período, envolvido nas suas atividades profissionais em grandes centros do país e até do exterior. Seu nome entrou no radar da opinião pública quando ele foi nomeado ministro na crise que derrubou o general Pazuello e ganhou visibilidade por estar nessa condição em plena agudeza da pandemia de covid-19, que originou desentendimentos entre o então presidente da República e governadores de Estados, incluindo o da Paraíba, João Azevêdo, pelas medidas de restrição social que estes tomaram, seguindo recomendações da Organização Mundial de Saúde.
Não há polêmica sobre méritos de Queiroga para o exercício de cargos públicos – e, em certa medida, abstraindo algumas atitudes ortodoxas que ele tomou na pandemia, sua atuação foi até elogiada por, finalmente, dar partida a uma maciça de campanha de vacinação contra o coronavírus, operando dentro de um governo reconhecidamente negacionista e terraplanista. Queiroga foi quem emprestou um mínimo de credibilidade ao governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento à calamidade, contribuindo, de qualquer maneira, para evitar o agravamento da situação, que poderia ter alcançado proporções alarmantes não fossem a pressão e a vigilância da sociedade brasileira e de organismos internacionais renomados que monitoraram sistematicamente as medidas adotadas na fase crucial da doença. A restrição feita ao ex-ministro, no tocante a uma candidatura a prefeito de João Pessoa, envolve desconhecimento da sua trajetória política e, em paralelo, baixa receptividade ao seu nome em camadas influentes do eleitorado. Adicione-se a isto a falta de domínio por parte de Queiroga sobre problemas latentes do dia a dia da população pessoense, que cresceu na proporção em que cresceram as fronteiras territoriais da antiga Felipeia de Nossa Senhora das Neves.
Nilvan Ferreira, que foi candidato a prefeito de João Pessoa em 2020 e logrou avançar para o segundo turno, perdendo na undécima hora para Cícero Lucena, insiste em que o ex-ministro da Saúde não é conhecido por parcelas expressivas da população e que sua alegada candidatura está sendo imposta ou empurrada de cima para baixo, com o aval do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e do presidente estadual, deputado Wellington Roberto, numa atitude extremamente antidemocrática, que não leva em conta a realidade paraibana. Considera, por isso mesmo, que a ambição de Queiroga pode custar caro a um partido que teria condições plenas de ascender na conjuntura local, depois de ter sido bafejado nas eleições de 2022, no pleito proporcional, pela popularidade do próprio Bolsonaro, desafeto do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas. “É um grave equívoco (a candidatura) para o projeto de expansão do PL e do bolsonarismo”, ressalta Ferreira.
Seja como for, não há alternativa, a curto prazo, para Nilvan, senão abandonar as fileiras da agremiação caso deseje, realmente, manter de pé a intenção de candidatar-se novamente à prefeitura da Capital paraibana. Dificilmente haverá reversão por parte das cúpulas do PL na postura pró-Marcelo Queiroga para enfrentar a disputa eleitoral. Cogita-se, em alguns círculos, que o próprio ex-ministro da Saúde venha a retirar a postulação se concluir que, de fato, não reúne os requisitos indispensáveis para o crescimento da candidatura. O problema é que essa decisão pode vir a ser tomada tardiamente, quando Nilvan e seus colegas de “triunvirato”, como ele define, talvez já estejam em outras siglas, tentando sobreviver politicamente e manter seus espaços no cenário estadual. A dados de hoje, com ou sem votos, Queiroga é o nome “in pectoris” do ex-presidente Bolsonaro e das cúpulas para testar-se nas urnas em 2024 em João Pessoa.