Nonato Guedes
Com a autoridade de quem foi reeleito para um terceiro mandato, depois de ter enfrentado adversidades que incluíram sua prisão por 580 dias na Polícia Federal em Curitiba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mobiliza-se com seu “staff” e com as forças democráticas para resgatar o significado do Sete de Setembro, que é comemorado como o Dia da Independência do Brasil. Além de repatriar uma data que havia sido sequestrada pelos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula tenta, também, exorcizar de uma vez por todas o fantasma do golpismo que, aqui e acolá, é agitado pelos fanáticos derrotados nas urnas em 2022 e irresignados com o fracasso da sua permanência à frente do poder. Estará bem viva, na memória, a orquestração desencadeada no dia 8 de Janeiro pelos apoiadores golpistas da extrema-direita, com depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, num ato de insanidade absoluta e descontrolada.
Em sua live semanal, o presidente Lula não deixou de mencionar os tristes episódios que tiveram repercussão internacional, expressando que Bolsonaro (cujo nome não citou) estava prevendo ou preparando um golpe para se manter no poder, diante das atitudes tomadas ainda no período da campanha eleitoral, quando questionou a eficácia do sistema de votação através das urnas eletrônicas, com isto tentando incutir gestos de desobediência na mente dos seus seguidores. Falou, ainda, das incessantes pregações que foram disseminadas com vistas a incompatibilizar grupos sociais com poderes e instituições representativas do país. Lembrou o mandatário o ambiente de ódio que foi disseminado pelo país e aduziu que Bolsonaro, a quem chamou de “coisa”, ainda vai ser julgado por genocídio, diante das responsabilidades que lhe são atribuídas na contagem de 700 mil mortes verificadas no Brasil em decorrência da covid-19. Naquela ocasião, a postura do governo bolsonarista foi de “negacionismo” diante da calamidade, apesar de, sob pressão, ter deflagrado a campanha de vacinação anti-coronavírus.
Da parte do governo atual tem prosseguido a escalada de mandados de busca e apreensão contra figuras associadas à tentativa de golpe que chegou a ser arquitetada, sem êxito, bem como medidas de indisponibilidade de bens de empresários e apoiadores do decaído governo que financiaram deslocamento de manifestantes a Brasília para os atos de violência em janeiro. “O trabalho continua, em defesa da nossa Pátria, em uma semana tão simbólica. Que nunca mais queiram rasgar a nossa Constituição e destruir o nosso Estado de Direito”, reagiu o ministro da Justiça, Flávio Dino, ao anunciar os novos passos da “Operação Lesa-Pátria” que tem sido desfechada, em meio ao levantamento dos prejuízos acarretados ao patrimônio público, cujos valores podem chegar à cifra de R$ 40 milhões. A fase atual da Operação, contra os grandes financiadores dos atos golpistas, é considerada uma das mais importantes pela PF com vistas a identificar os mentores das ações de destruição que foram encetadas.
Para os eventos de amanhã, na Capital federal, que incluirão desfiles cívicos-militares, um forte esquema de segurança começou a ser articulado nas esferas de poder para o controle da ordem pública, diante das ameaças de remanescentes golpistas de partirem para novas aventuras que, de acordo com as autoridades, serão devidamente reprimidas na forma da Lei e com energia. Um gabinete de mobilização para o feriado da Independência foi criado no Distrito Federal, por iniciativa da governadora em exercício Celina Leão, do PP, após alerta do ministro da Justiça sobre possíveis problemas, decorrentes de convocatórias golpistas que estão sendo expedidas em redes sociais. A Capital Federal e outras Capitais já haviam sido palco de acampamentos e concentrações em frente a quartéis militares, com incitações e apelos à quebra do Estado de Direito e ao retorno do regime autoritário, tornando-se evidente a participação de liderados bolsonaristas em tais manifestações.
Para a mídia nacional, o Sete de Setembro de 2023 será um grande teste para a sobrevivência das instituições democráticas brasileiras sob a égide do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos dois governos anteriores, eventuais manifestações de rua continham críticas ao poder de plantão mas dentro da tolerância e não dentro de cenários de confronto, agressividade ou de desordem refletida na perturbação da segurança pública. As autoridades brasileiras – e não apenas o presidente Lula e seus ministros, têm consciência de que a semente do golpismo continua impregnada em parcelas irresponsáveis da sociedade, que, por sua vez, tentam a todo custo atrair adeptos para aventuras que somente contribuem para o agravamento da situação política-institucional no Brasil. A expectativa é que, desta feita, a reação da maioria da sociedade seja mais firme na defesa dos postulados democráticos e do avanço das reformas econômicas e sociais que são imprescindíveis para o estágio de desenvolvimento reclamado pelo seu povo.