Nonato Guedes
Na conversa que manteve com este colunista, cujos primeiros trechos foram publicados neste blog, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL, admitiu que tem vocação política firmada na própria família, onde um irmão, Marco Antônio, foi eleito vereador na Capital por duas vezes. No livro autobiográfico que lançou, ele confessa que sempre gostou de política e que, quando era residente, representava os colegas na Comissão de Residência Médica. “Percebi que tenho facilidades para promover articulações no meio associativo”, informou, contando que em 1984 foi com seu pai ao comício das Diretas-Já em João Pessoa. Posteriormente, viu Tancredo Neves em ação no Parque Solon de Lucena em sua jornada rumo à Presidência da República. Certa vez, leu na revista “Veja” uma reportagem que narrava as peripécias de um certo tenente do Exército chamado Jair Bolsonaro. “Não sabia o que o destino me reservava”, continua.
Marcelo Queiroga, que está mesmo obstinado em concorrer à prefeitura da Capital paraibana no próximo ano, revelou que usará a sua atuação à frente do Ministério da Saúde em plena pandemia de covid-19 como vitrine na disputa eleitoral, esclarecendo a opinião pública sobre medidas polêmicas que foram adotadas naquela situação de emergência e propagando méritos da sua própria atuação, marcada por dar partida a uma maciça campanha de vacinação, paralela à meta de equipar a rede pública para o atendimento à população. Lembra que mais de 80% dos brasileiros receberam o esquema vacinal primário, graças ao esforço do governo Bolsonaro que, não obstante, entrou para a História como “negacionista”, ante declarações ruidosas do ex-mandatário sobre a exploração na mídia da dimensão da tragédia. Em 22 de maio de 2022, Queiroga encerrou a Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional, um ano antes da Organização Mundial de Saúde, sem que houvesse agravo na situação sanitária do país. O Brasil – recorda ele – foi escolhido para representar os países das Américas na organização internacional incumbida de elaborar o tratado de pandemias na OMS.
Considera o ex-ministro que, além do enfrentamento à pandemia de covid-19, o Sistema Único de Saúde foi fortalecido, com mais de R$ 100 bilhões em créditos extraordinários, deixando como legado mais sete mil leitos de terapia intensiva. Durante sua gestão, a atenção às doenças cardiovasculares foi igualmente fortalecida, com reforço na linha de cuidado do infarto agudo do miocárdio e ressalta que adotou como lema “Onde há Brasil, há SUS”. Permaneceu no governo do presidente Jair Bolsonaro de 2021 a 2022, sendo o quarto titular a ocupar a Pasta e aquele que mais tempo permaneceu no cargo, com o desafio de chefiar o ministério no pior momento da pandemia de coronavírus no Brasil e no mundo. À época, havia pressão por vacinação em massa num cenário de carência global desse insumo estratégico. Numa terça-feira, 23 de março de 2022, o cardiologista paraibano foi chamado ao Planalto pelo presidente da República. “Queiroga, sou seu amigo. Vou te falar uma coisa para você não sair preso de Brasília. Seu Ministério tem um orçamento bilionário. Nesta Secretaria tem R$ 60 bilhões, nesta outra tem R$ 25 bilhões. Então, coloque auxiliares de sua confiança”, ponderou Bolsonaro. Ao que Marcelo Queiroga respondeu: “Presidente, a oportunidade que o senhor está me dando ninguém me deu, nem meu pai, pois não tinha condição. Pode ter certeza de que saberei honrar a confiança”.
Ainda no depoimento registrado no livro, o ex-ministro enfatiza que sugeriu que a sua posse fosse efetivada sem solenidade, em respeito ao momento que o país atravessava, de profunda comoção com um número alarmante de vítimas e outro tanto preocupante de casos de covid-19. Queiroga lembra que viveu momentos de forte emoção, evocando as suas origens num Estado carente como a Paraíba e, ao mesmo tempo, mirando as enormes responsabilidades que teria pela frente. “Claro que eu tinha experiência mas ninguém tem experiência para enfrentar uma pandemia da noite para o dia. Passado o tempo, digo que hoje, no Brasil, o único que tem essa experiência sou eu. É algo ímpar. Haja coração!”, testemunha o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Queiroga ressalta que por conta dessas credenciais se julga apto a administrar os destinos de João Pessoa, e promete fazer uma campanha inovadora, com propostas que se conciliem com o grau de expansão da Capital e as perspectivas de desenvolvimento integrado.
Queiroga mantém, sim, a expectativa de contar no seu palanque com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, considerando que ele se mantém como líder popular respeitado, “apesar da perseguição política sem precedentes que tem enfrentado desde que deixou o Poder”. Salienta que a campanha será uma oportunidade para redimir Bolsonaro de acusações que lhe foram feitas, a seu ver injustamente, tendo como pano de fundo o comportamento do governo no enfrentamento à calamidade sanitária. No prefácio do livro de Queiroga, Jair Bolsonaro conta que conheceu Queiroga ainda durante a campanha presidencial e que ele também integrou a equipe de transição do governo para assuntos do Ministério da Saúde. “Paraibano, cabra macho, Queiroga foi o Ministro da Saúde que mais tempo permaneceu no cargo em meu governo”, aduziu Bolsonaro, para concluir: “Ele cumpriu tão fielmente com o acertado que, mesmo no plano pessoal, jamais interveio no meu direito de escolha, deixando a decisão a meu critério. Ao longo do tempo surgiram problemas de natureza política e de outras ordens. Queiroga me apoiou com lealdade e soube traduzir meu pensamento em políticas eficientes. Assim, juntos, superamos a pandemia de covid-19, fortalecemos o SUS e ampliamos a capacidade produtiva do nosso complexo industrial da Saúde”.