Em entrevista publicada no site “Diário de Notícias”, de Portugal, reproduzida pelo portal nacional da sua legenda, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, criticou a entrada no governo Lula de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O PSB é o partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e Siqueira afirma: “Num país normal, quem escolhe quem está na oposição ou no governo é o eleitor, não são os políticos que vão mudando de lado”.
Para Siqueira, “esses partidos apoiaram Bolsonaro mesmo sabendo o desastre que ele era e os riscos que o país corria, até do ponto de vista democrático, com ele no poder; agora, estão no governo do presidente Lula”. O líder do PSB, que viu dois dos três ministros de seu partido perderem espaço na remodelação ministerial, recusa, porém, falar em “traição”. Ele argumentou: “Não me senti traído, não me deixou mágoa, não trabalho com mágoa, simplesmente foi tudo feito de uma forma inadequada”. E mais: “Sair do governo? Não, estamos nele por convicção desde antes das eleições, não por conveniência, mas somos críticos do deformado processo político do Brasil”.
O dirigente socialista refere-se, diretamente, ao PP e ao Republicanos, que classificou como partidos conservadores. “Esses partidos não representam nada, são meramente partidos eleitorais que visam estar no governo, seja ele qual for. Faz sentido termos partidos, como os citados e outros, que estiveram com Lula, depois com Dilma Rousseff, depois apoiaram o impeachment dela e estiveram com Michel Temer, depois com Bolsonaro e agora entram no governo Lula? É a despolitização da política, a desvalorização dos partidos num contexto de crise institucional. E é assim que as democracias morrem”.
Carlos Siqueira discorda da tese de que tais partidos podem contribuir para a aprovação de reformas no Congresso Nacional. “Esses partidos não fazem reformas, eles só olham para o Diário Oficial da União. Mais: em julho, antes desta remodelação, o governo teve cerca de 400 votos a apoiar a emenda à Constituição que permitiu a reforma tributária, quando precisaria só de 308 votos. Porquê então isto?”. Ele entende que o governo deveria ter promovido um debate franco com aliados verdadeiros como o PSB e não ficar “fritando” ministros no noticiário da imprensa. Temos um processo que não é transparente, do qual eu, que faço parte do governo desde sempre, não fui informado”. Reiterou que o PSB está no governo por convicção política e convergência ideológica. “Apoiamos o governo antes da eleição, apoiamos agora e vamos apoiar até ao final, não precisam preocupar-se; agora, isso não me impede de ter uma visão politica, não do governo, que acho que está dando certo, mas do deformado processo político democrático do Brasil”.