Nonato Guedes
A crise que rebentou no Partido Liberal de João Pessoa, com a imposição do nome do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para candidato a prefeito nas eleições de 2024, escancarou a divisão de interesses no bloco da direita bolsonarista e ameaça visivelmente o projeto de poder ambicionado desde 2020, quando o comunicador Nilvan Ferreira, embora concorrendo pelo MDB, logrou avançar para o segundo turno. Os deputados Cabo Gilberto Silva, federal, e Walbber Virgolino, estadual, continuam irresignados, embora reconheçam limitações de ordem legal para abandonar o PL e migrar para outra sigla com garantia de candidatura. Nilvan Ferreira, por sua vez, passou a trabalhar nos bastidores para viabilizar uma saída de emergência que lhe abra a perspectiva de figurar no páreo no próximo ano. O triunvirato mantém lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas o próprio Walbber já admite que no PL o metro quadrado ficou estreito demais para acomodá-lo e aos outros insubmissos.
Em contraste com essa crise pontual na Paraíba, que pode inspirar cisões em outros Estados, principalmente em Capitais, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, passa ao largo da realidade e prefere falar em fortalecimento do partido nas próximas eleições, bem como reiterar a oposição acirrada que será sustentada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT. Valdemar vende otimismo, como se depreende de uma entrevista publicada nos últimos dias abordando a conjuntura nacional. “Estamos estudando as Capitais. Em alguns lugares, vamos acompanhar outros candidatos. Ainda não está fechado, pois o Bolsonaro (Jair) é quem vai resolver. Não dou mais palpite sobre isso. Desde que o Bolsonaro disse que iria eleger o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o senador Marcos Pontes (PL-SP), não falo mais nada. Na época, o Tarcísio queria ser senador. Eu sabia que ele faria um bom governo, mas não tinha certeza de que o povo votaria nele. Bolsonaria sabia que Tarcísio cresceria. Quero que ele acerte o prefeito de São Paulo pelo bem da cidade”, esquivou-se Valdemar.
Ao ser questionado sobre o número de prefeitos que o partido pretende eleger em 2024, o dirigente nacional respondeu que o PL deve eleger 2,5 mil candidatos para as prefeituras de todo o Brasil. “Isso está completamente ligado aos deputados federais e estaduais. Atualmente, temos 480 prefeitos eleitos”, contabilizou. O presidente nacional revelou que o PL pretende fazer a maior bancada no Senado até o final de 2023, cogitando chegar a 17 ou 18 parlamentares, “pois temos mais um mandato pela frente, são três anos e meio”. A mágica consistiria na atração de políticos com mandato que estão filiados a outras agremiações, supostamente identificadas com o bolsonarismo. “Preciso “tourear” o Bolsonaro, pois os senadores querem vir com o apoio dele. A condição é essa. Eles querem o “222” para se reeleger em 2026”, acrescentou Valdemar da Costa Neto. Ele foi veemente ao definir que o PL é oposição e não faz aliança com o governo do PT. “Falaram que tem gente do PL que tem cargo no governo. Eu quero ver, porque, se tiver, vou convidar a sair do partido. Não podemos participar do governo, muito menos ser instrumento do petismo, que, de propósito, tenta confundir o cenário com manobras de cooptação de adversários políticos”, explicou Valdemar da Costa Neto.
Pelas suas palavras, a presença mais requisitada por pré-candidatos do PL nas eleições municipais de 2024, principalmente em Capitais, é a de Bolsonaro. O dirigente nacional comentou sobre a inelegibilidade do ex-governante, que é presidente de honra do Partido Liberal. “Estamos recorrendo ao Tribunal Superior Eleitoral e vamos recorrer ao Supremo Tribunal Federal depois. Daqui a dois anos, o Poder Judiciário pode mudar o comportamento e dar ao Bolsonaro a chance de ser candidato novamente, pois ele não cometeu nenhum crime. Ele está sendo condenado pelo que falou das urnas? Podemos falar tudo o que quisermos. Não tinha lei para condená-lo, mas isso pode ser revertido. As coisas mudam muito. Contudo, caso não aconteça, há excelentes para se candidatar”, concluiu, ao ser questionado quem o partido projeta como líder nacional, caso o ex-presidente da República fique inelegível. Seja como for, acredita que é indiscutível a influência que o ex-mandatário terá no pleito, pela orfandade que acometeu bolsonaristas com a ascensão, novamente, de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT ao poder.
Em relação ao ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, apesar da resistência que tem enfrentado por parte de alguns expoentes do PL paraibano, como Cabo Gilberto Silva, Walbber Virgolino e Nilvan Ferreira, ele tem agido com desenvoltura surpreendente para conseguir decisões de cúpula favoráveis ao seu projeto de ser candidato à sucessão de Cícero Lucena (PP), em João Pessoa. Queiroga também tem chamado a atenção pela ofensiva midiática que empreende, ocupando espaços em emissoras de rádio, redes sociais e outros veículos de comunicação em que começa a abordar temas ligados a propostas sobre virtuais mudanças administrativas que implementaria na Capital paraibana, caso venha a consolidar o projeto de candidatura. O ex-ministro combina essa estratégia com a defesa veemente do governo Bolsonaro, repetindo o bordão de que foi testado nesse governo em plena conjuntura dramática com a eclosão da pandemia de covid-19 e nem por isso se omitiu no enfrentamento à calamidade, contando com todo o apoio do então presidente da República. Nos círculos políticos, analistas ainda insistem em que Marcelo Queiroga precisa ter mais habilidade para costurar apoios ou firmar adesões ao seu projeto, sob pena de naufragar e, com isso, arrastar grande parte da direita bolsonarista que porventura pretenda investir fichas no seu nome.