Nonato Guedes
Com opção claramente definida pela política e obstinado no projeto de chegar ao poder, seja pela prefeitura de João Pessoa, seja pelo governo do Estado, o comunicador Nilvan Ferreira enfrenta uma verdadeira “saga” para encontrar um partido que acolha suas pretensões e lhe dê garantia de confiança e liberdade para que ele concretize as metas que persegue. Até agora, apesar de ter se firmado como fenômeno, inicialmente na cena política pessoense, depois avançando pela cena estadual, Ferreira tem tido contratempos quanto à segurança partidária. Teve que largar o MDB com a morte de José Maranhão porque não se afinava com o novo líder do partido, o senador Veneziano Vital do Rêgo. Passou pelo PTB, onde se deparou com óbices à sua liderança e migrou, então, para o PL, na ilusão de que estaria acobertado pelo guarda-chuva do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi golpeado com a filiação do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que já ingressou como “general” com promessa de apoio para candidatar-se a prefeito da Capital em 2024.
No momento, Nilvan promove “tratativas” com o União Brasil, presidido pelo senador Efraim Filho, que, no entanto, não bateu ainda o martelo sobre espaço para uma candidatura do irrequieto comunicador. O União Brasil, que tem representantes no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abriga políticos “independentes”, como o próprio senador Efraim Filho, que vota no Congresso de acordo com sua consciência. O partido oferece vantagens, como a capilaridade atestada em bom número de lideranças políticas no Estado e um valioso espaço de propaganda no rádio e na televisão, o que é cobiçado pela importância estratégica para visibilidade de candidaturas e fortalecimento da legenda. No paralelo, dois aliados de Nilvan que se rebelaram, junto com ele, contra a imposição de Marcelo Queiroga como candidato do PL a prefeito, sondam outros partidos onde o triunvirato possa acampar nas próximas eleições: o deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino, tudo indicando que há canais com o Partido Novo, a que é filiado o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Eles firmaram um pacto para definição, até o final do ano, da candidatura do grupo a prefeito de João Pessoa, com base em pesquisas transparentes.
Ontem, em meio à comemoração por ter sido absolvido pela Justiça em um rumoroso caso de suposta falsificação de mercadorias por lojas de sua propriedade, o que, segundo ele confessou, constituiu “pesadelo” até que houvesse um desfecho, Nilvan Ferreira admitiu estar virando a página da sua permanência nos quadros do PL, por absoluta incompatibilidade com o presidente estadual da legenda, deputado federal Wellington Roberto, que seria avalista de Queiroga para a disputa do próximo ano. O comunicador avalia que o PL está desfigurado na Paraíba, depois que um deputado, filho de Wellington Roberto, foi anunciado como apoiador do governador João Azevêdo. Na prática, o partido é uma torre de Babel, já que Queiroga carrega nas críticas a João Azevêdo e ao prefeito Cícero Lucena, bem como ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seja como for, Nilvan parece ter percebido que não há mais caminho de volta para uma convivência pacífica nas hostes da agremiação, e, por isso mesmo, está partindo em busca de novos rumos para o escoamento do seu projeto pessoal de poder. Ele está retemperado para os novos embates com que se defrontará na próxima jornada.
Na pesquisa divulgada pela cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores sobre preferências por possíveis candidatos a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira apareceu em segundo lugar, a uma boa distância do prefeito Cícero Lucena (PP), que é candidato à reeleição com o apoio de Azevêdo. Mas ele garante que dispõe de outros levantamentos mais confiáveis em que, aparentemente, figura na liderança dos percentuais de intenções de voto da corrida para 2024 em território pessoense. Em termos concretos, ele promove articulações para manter a unidade do grupo bolsonarista remanescente que o apoia e se mobiliza para definir logo a nova sigla, o que lhe permitiria acesso a recursos do Fundo Partidário para estruturar uma campanha que promete ser acirrada, dado o empenho que o governador João Azevêdo terá para favorecer a recondução de Cícero Lucena a um novo mandato. Nilvan tem consciência de que corre contra o relógio para viabilizar-se como alternativa de poder, novamente, na Capital, buscando repetir o feito de 2020, quando pulou para o segundo turno.
É evidente que a conjuntura será outra, com a eclosão de novos líderes políticos que tentarão cooptar votos dos eleitores indecisos, vencendo a resistência que é forte contra a classe política, por causa do desgaste experimentado por parlamentares e gestores ao longo dos anos no cenário brasileiro. Nilvan precisará aprimorar melhor a sua retórica, focada na defesa de pautas e bandeiras conservadoras, com nítida inspiração de direita, para não tropeçar na própria caminhada que agora empreenderá com outros parceiros. Outro desafio seu é dosar a forte predominância personalista que está tatuada no seu perfil e que pode ser fonte de atrito com outros líderes, na fogueira de vaidades pela ocupação de espaços políticos e de poder no Estado. São questões que estão condicionadas ao ponto crucial – a definição partidária. Nesta, Nilvan Ferreira se empenha com prioridade máxima, com vistas a fazer a melhor escolha, de tal sorte que não venha a se arrepender ou se queixar de espaços estreitos de convivência nas empreitadas difíceis que terá pela frente em 2024. Junto à opinião pública, o ambiente é de expectativa sobre o desfecho desse enredo.