Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) tomou a iniciativa de abrir oficialmente o diálogo com o PT da Paraíba em torno de uma aliança para as eleições de prefeito em João Pessoa no próximo ano, tendo como interlocutor preferencial Jackson Macêdo, dirigente da sigla petista no Estado. O gesto é encarado como demonstração de respeito republicano à hierarquia partidária e sinaliza intenção de estreitamento de laços, a partir da identificação de afinidades que possam respaldar o processo de construção da coligação. Com isso, Azevêdo foge da tentação de atropelar líderes locais para provocar um debate seu diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem, seguramente, tem canais. Ele tem a compreensão de que questões paroquiais devem ser esgotadas na esfera em que elas orbitam e também argumenta que há quadros do PT participando da sua segunda gestão, o que lhe credencia a um mínimo de deferência por parte dos verdadeiros expoentes petistas, ou seja, aqueles com assento na tomada de decisões.
O movimento ensaiado pelo chefe do Executivo paraibano é focado, claramente, na missão de arregimentar apoios para a candidatura do prefeito Cícero Lucena, do PP, à reeleição. Isto porque João tem compromissos com Cícero e, ao mesmo tempo, uma relação de parceria administrativa que tem sido extremamente importante para deslanchar obras e projetos importantes para a Capital paraibana. O governador conhece as fortes resistências a Cícero, agitadas por um agrupamento do PT que é alinhado com a liderança do ex-governador Ricardo Coutinho e que não reconhece em Lucena qualquer afinidade com o projeto das forças de esquerda, antes apontando-o como “oportunista”, como chegou a ser feito por Antônio Barbosa, presidente do diretório municipal. Esse agrupamento contrapõe à tese de apoio a Cícero uma outra tese de inegável apelo para o público interno – a do lançamento de candidatura própria, alegando que há quadros de valor dentro do Partido dos Trabalhadores que podem avançar em termos de competitividade numa disputa eleitoral.
Na prática, a situação política está embaralhada em João Pessoa – e para tanto contribuiu uma pesquisa encomendada pela própria direção nacional do PT, cujos resultados vazaram para a imprensa, detectando um pífio desempenho por parte de filiados à legenda, como os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos, no apurado das intenções de voto de parcelas do eleitorado, não logrando ultrapassar o percentual de 2% neste primeiro levantamento. Essa pesquisa teve o condão de açular as divergências internas no Partido dos Trabalhadores, com insinuações de “sabotagem” e, até mesmo, dúvidas sobre a autenticidade dos números, diante do pretexto de que há outros levantamentos com indicações diametralmente opostas. Pelo sim, pelo não, as cúpulas nacional e estadual do PT pediram que fosse evitada contestação, até porque pesquisas foram produzidas pelo mesmo instituto, o VER, em outras Capitais do Nordeste, e irão servir como elementos de referência para fundamentar debates que tendem a se aprofundar e até mesmo a se acirrar na seara petista. Há grupos que insistem nas candidaturas próprias invocando que a hora é agora, com o retorno do líder Lula ao governo e com os índices expressivos de aprovação que têm sido atribuídos à terceira gestão petista no Palácio do Planalto.
Em tese, os pontos de vista defendidos com foco na valorização dos quadros do PT são legítimos, não fosse o fato de que precisam estar sintonizados com a realidade dos fatos. O presidente estadual da legenda, Jackson Macêdo, já faz algum tempo que insiste em que o PT deve amadurecer no sentido de lançar candidaturas que sejam efetivamente viáveis, equivale dizer, competitivas e com chances de vitória nas eleições do próximo ano, evitando ater-se ao lançamento de candidaturas simbólicas que se prestam mais a uma reação de protesto do que a táticas de conquista do poder. Em suma: Jackson Macêdo pugna pela adoção de um comportamento pragmático por parte do PT, baseado em estratégias corretas que possibilitem a obtenção de resultados positivos, mirando-se, certamente, em outras experiências, mal sucedidas, que conduziram o partido ao “limbo”, bloqueando as suas chances de expansão na conjuntura paraibana e de consolidação definitiva como um partido com densidade eleitoral. Foram muitas as eleições em que o PT marcou presença, desde a sua fundação na Paraíba, incluindo as de governador – e o histórico final não chega a ser propriamente favorável no conjunto da obra.
O nome do prefeito Cícero Lucena está no radar das análises políticas devido ao espaço que ele tem para viabilizar um projeto de reeleição – e a aproximação com a esquerda se dá em virtude da sua ligação com o governador João Azevêdo, que é respeitado por ser do PSB e por ter apoiado a candidatura do líder Luiz Inácio Lula da Silva nos dois turnos, mesmo quando não obteve apoio dele na corrida pelo Palácio da Redenção. Azevêdo tem se empenhado em revestir a candidatura de Lucena de um viés de centro-esquerda, em sintonia com propostas defendidas por ele, como governador, e pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Faria parte dessa estratégia a movimentação do grupo de Cícero para controlar o PDT, uma legenda que se situa no arco das forças progressistas, mas as estratégias estão condicionadas ao acerto de pontos comuns em tratativas que se encontram em plena deflagração. Faltando praticamente um ano para as eleições municipais, tudo faz parte da rearrumação que antecede os grandes embates a serem travados, mesmo, em 2024. O papel de João Azevêdo é o de ampliar a base de Cícero, mediante atração do PT para o arco de apoios, um desafio que exige, realmente, muita habilidade.