Nonato Guedes
O deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) tornou-se um enigma político no cenário para as eleições à prefeitura de Campina Grande. Cortejado por aliados do governador João Azevêdo (PSB) para assumir novamente uma candidatura ao mandato que exerceu por duas vezes, ele não tem espaço de convivência no esquema do atual prefeito Bruno Cunha Lima, postulante declarado à reeleição, que o sucedeu no posto e virou aliado ostensivo do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), eleitor assumido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Veneziano tem aberto portas de ministérios para Bruno em Brasília, ao mesmo tempo em que toma a iniciativa de destinar recursos de sua quota de emendas contemplando prioridades da atual administração campinense. Romero demonstra não ter acesso a gabinetes influentes na Capital Federal, mas ao mesmo tempo faz mistério sobre seu alinhamento atual e futuro, e adota mutismo sobre a suposta pretensão de voltar a ocupar a prefeitura municipal.
No esquema político do governador João Azevêdo, o “clã” Galdino, do Republicanos, é o mais interessado em atrair Romero Rodrigues para as suas fileiras, com a garantia – reiterada inúmeras vezes – de que ele terá legenda para se candidatar em 2024. O presidente do diretório do partido em Campina é o deputado federal Murilo Galdino, mas é o irmão dele, Adriano, presidente da Assembleia Legislativa e um dos mais influentes interlocutores políticos do Estado na atual conjuntura, quem mais se empenha para persuadir Romero a mudar de partido, assumir a candidatura de oposição a Bruno Cunha Lima e liderar um grande movimento destinado a produzir uma reviravolta na história política campinense dos últimos anos. Bruno conta, além do apoio de Veneziano, que espera retribuição para concorrer novamente ao Senado em 2026, com o respaldo do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que disputou o governo do Estado no ano passado e avançou para o segundo turno contra João Azevêdo. Em posição de expectativa mantém-se a senadora Daniella Ribeiro (PSD), mãe do vice-governador Lucas Ribeiro (PP). Ela é cogitada para ser candidata a prefeita mas não avança o passo porque aguarda um sinal do governador, que, de sua parte, parece testar o real interesse de Romero em romper com os Cunha Lima.
Na órbita do esquema do governador, é mencionado, ainda, o nome do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, presidente municipal do PSB em Campina Grande, como opção para a prefeitura da Rainha da Borborema, atraindo o apoio de facções de esquerda que fazem oposição à gestão de Bruno. Mas a indefinição reinante – sobretudo o ‘enigma’ quanto ao projeto de Romero – tem deixado o jogo parado na esfera política de Azevêdo. Quem se movimenta sozinho, com ampla desenvoltura, é o prefeito Bruno Cunha Lima, que a partir da parceria firmada com o senador Veneziano Vital ganhou fôlego novo e condições de viabilidade administrativa que lhe pareciam remotas, diante da sua condição como eleitor do ex-presidente Jair Bolsonaro. Hoje, o gestor campinense vislumbra novas e promissoras perspectivas para a continuidade do seu mandato e passou a dispor de uma carteira de investimentos e obras que, até então, parecia de difícil alcance para ele e sua administração. Muito desse impulso deve-se, é evidente, à atuação do senador Veneziano em prol da prefeitura campinense, e o parlamentar emedebista já ganhou o direito de participar da atual gestão, indicando nomes de sua confiança até para pastas estratégicas.
A verdade é que Bruno, que parecia fadado ao ostracismo, tem se reabilitado política e administrativamente em alto estilo, devendo formalizar sua saída do PSD – onde não tem ambiente de convivência com a senadora Daniella Ribeiro – para ingressar em outro partido, supostamente o União Brasil, presidido pelo senador Efraim Filho, que, inclusive, entregou-lhe uma ficha em branco e aguarda sinalização favorável do gestor campinense. Por trás dos movimentos que se ensaiam entre as forças políticas de Campina Grande para as eleições de 2024 estão articulações visíveis para a montagem de chapas presumidas para 2026, envolvendo a conquista do governo do Estado e de vagas ao Senado Federal. Apurou-se que o ex-governador Cássio Cunha Lima, que está distanciado da luta política municipal, teria aconselhado correligionários a fazerem um esforço junto a Romero Rodrigues para a tentativa de reincorporação dele a um grupo político e familiar de que fez parte até então. Mas a recomendação não teria sido levada adiante em virtude das resistências que eclodiram pelo meio do caminho.
A fala do governador João Azevêdo de que Romero fez uma boa gestão e que seria bem acolhido no esquema, mesmo filiando-se ao Republicanos e não ao PSB, encorajou o prosseguimento das tratativas, pelo menos por parte do deputado Adriano Galdino, as quais objetivam, em última análise, rachar ao meio o esquema do prefeito Bruno Cunha Lima, na Rainha da Borborema. Habitualmente Azevêdo tem sido cauteloso em declarações sobre entendimentos políticos para as eleições do ano vindouro, o que não o impede de ser firme quando considera necessária tal postura – e é certo que ele tem agitado os meios políticos e a própria base ao admitir que em João Pessoa o PSB não terá candidato próprio a prefeito, devendo manter-se a aliança em apoio a Cícero Lucena (PP) ou que, em Campina, pode haver a aliança com Romero. O deputado Adriano Galdino prevê “muita conversa, ainda”, principalmente sobre o quadro político-eleitoral em Campina Grande, não descartando a possibilidade de reviravolta que, nas condições atuais de temperatura e pressão, passaria por um realinhamento do perfil político de Romero Rodrigues, o grande cobiçado nas articulações que são travadas a pleno vapor no campo da oposição a Cunha Lima.