Nonato Guedes
O senador Efraim Filho, do União Brasil, registrou no último dia 2, em redes sociais e em tom de entusiástica celebração, um ano de sua vitória para a Alta Casa do Congresso Nacional, repetindo vídeos da campanha, especialmente aquele em que se dirigiu aos paraibanos e paraibanas já como parlamentar eleito, ocasião em que prometeu entregar ao Estado “o melhor mandato” que ele já testemunhou. “Seguimos juntos e firmes pela nossa terra, como um representante legítimo do povo paraibano”, pontuou Efraim na reafirmação do seu compromisso, destacando, “com muito orgulho no peito”, que foi vitorioso com mais de 617 mil votos, numa competição que contou com pesos-pesados da política local e que, indiscutivelmente, empolgou parcelas do eleitorado nas mais diferentes regiões da Paraíba. Sem dúvida, ele protagonizou uma façanha e descobre, um ano depois, que também tem inspirado líderes que querem ousar na vida pública, desafiando-se a ocupar postos elevados em meio a um processo de transição que abre espaço para a renovação.
Basta lembrar o jovem vice-governador Lucas Bezerra, do Progressistas, cuja carreira política tem sido breve e triunfante, saltando do mandato de vereador em Campina Grande para a vice-prefeitura local e, na sequência, ascendendo à vice-governança, estando a um passo de se efetivar no mandato titular e, desse posto, pleitear a reeleição em 2026. Esta era uma hipótese que, até pouco tempo, nem de longe figurava no radar, o que também indica que a dinâmica política na Paraíba está acelerada. Além de Efraim, Lucas pode estar se inspirando, por vias oblíquas, no jovem ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, que em 2022 concorreu ao Executivo enfrentando o governador João Azevêdo (PSB) e avançando para o segundo turno em condições competitivas, a ponto de empreender batalha renhida, que se decidiu por margem pequena no apertado da hora, em segundo turno. A jornada de Efraim chamou a atenção porque ele fez movimentos em zigue-zague, arriscando o próprio pescoço, ao migrar de um esquema político para outro, e sobressair-se com galhardia, desafiando prognósticos que miravam favoritismo em outras direções. Ele ganhou a única vaga de senador em jogo obtendo 30,82% dos votos, o equivalente a 617.477 sufrágios, seguido pela deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), com 457.679 votos e pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PT) com 413.857 sufrágios.
Aquela foi uma eleição atípica, com cruzamento de votos em chapas adversárias e por assinalar, também, a quebra de um tabu, que consistia em fixar João Pessoa e Campina Grande como elementos de decisão de pleitos majoritários. Invertendo essa lógica e quebrando o paradigma, o governador João Azevêdo saiu-se triunfante em bolsões eleitorais de pequenos e médios municípios, acumulando revezes inesperados no entorno da Grande João Pessoa. Este resultado acabou levando Azevêdo a comprometer-se com o que definiu como marca da segunda gestão – o municipalismo, e é investindo nesse “filão” que ele persevera, sem deixar de plantar marcas do governo nos grandes centros, como a Capital e Campina, para compensar flancos que ficaram vulneráveis na última eleição. Como observei, em análise neste blog, a eleição de Efraim, por sua vez, foi o coroamento de uma jornada que principiou quando ele ainda era da base do governo de João Azevêdo e sustentou-se na oposição, quando o parlamentar migrou para a chapa de Pedro Cunha Lima ao sentir que não havia garantia de espaço do lado de lá. Fez a hora, não esperou acontecer, como na música do paraibano Geraldo Vandré.
Na prática, a campanha de Efraim Filho experimentou sinais de crescimento desde a largada, com o combate entre ele e Ricardo Coutinho, com uma diferença de 10% a favor deste na primeira pesquisa do Ipec. Já na segunda pesquisa, Efraim demonstrou fôlego, reduzindo a diferença para Coutinho e se mantendo à frente de Pollyanna, a última a ser lançada e que surpreendeu com o segundo lugar no dia do pleito. Ricardo esteve o tempo todo subjudice, diante da inelegibilidade decretada pelo TRE mas deu trabalho ao concorrentes em virtude do “recall” construído com sua passagem pelo governo do Estado e prefeitura de João Pessoa e o apoio declarado do líder Luiz Inácio Lula da Silva. O desgaste de Ricardo, que havia se manifestado na eleição para prefeito em 2020 e a insegurança quanto à sua elegibilidade, contribuíram para subtrair-lhe votos preciosos, da mesma forma como a entrada em cena de Pollyanna no campo da esquerda e na base de apoio a Lula minou a capilaridade do ex-governador.
O candidato Efraim Filho constituiu promissora surpresa no cenário político estadual, embora já cravasse experiência em mandatos de deputado federal. Ele cometeu um gesto arriscado ao manter a candidatura mesmo trocando de esquema com o jogo em pleno andamento – mas a conjuntura mostrou que sua situação era irreversível e estava praticamente consolidada. Sua estratégia, como deixou claro, nunca foi focada na presunção da inelegibilidade de Coutinho ou no impedimento de qualquer adversário. Ele decidiu apostar concretamente na conquista de votos – e foi com o discurso de ser um político que entrega resultados que se credenciou a chegar triunfante na contagem final dos votos no primeiro turno das eleições na Paraíba. O símbolo da sua campanha foi o de que “foguete não dá ré”, com isto sinalizando obstinação de vencer, e a vitória foi construída com muita estratégia, engenhosidade e espírito de luta. Do seu exemplo brotam pretensões atuais, como as do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de tentar ser prefeito de João Pessoa ou a do deputado federal Romero Rodrigues de tentar aventurar-se ao governo do Estado, sem falar que o próprio Efraim está no radar como alternativa ao Palácio da Redenção na imprevisível batalha que vai se desenhando para o cenário de 2026 na Paraíba, e que tanto o governador João Azevêdo como o deputado federal Hugo Motta (Republicanos) já se lançam ao Senado em manobra preventiva para cravar espaços no panorama local.