Nonato Guedes
O “acordo” ensaiado na Granja Santana para as eleições majoritárias de 2026 na Paraíba, entre o PSB do governador João Azevêdo, o PP do deputado Aguinaldo Ribeiro e o Republicanos do deputado Hugo Motta ainda repercute nos meios políticos, com dúvidas quanto à sua viabilidade, diante de indefinições que ficaram pendentes e também por ter excluído da chapa a senadora Daniella Ribeiro, presidente estadual do PSD, que até então é cogitada como postulante natural à reeleição. Os defensores do “acordo” justificam que Daniella seria compensada com a ascensão do seu filho, Lucas, à titularidade do governo, diante da desincompatibilização de Azevêdo, tornando-se, desse posto, candidato natural à reeleição ao Executivo. Ocorre que Daniella migrou do PP para o PSD dentro de uma estratégia que contemple o seu próprio interesse, como seguimento da vitória histórica alcançada em 2018 quando se tornou a primeira mulher senadora da história da Paraíba.
É bem verdade que muito tem se especulado sobre uma provável candidatura de Daniella à prefeitura de Campina Grande em 2024 pelo bloco de oposição liderado pelo governador João Azevêdo e empenhado em derrotar Bruno Cunha Lima, que postula um segundo mandato com o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB). Mas a “construção” do nome de Daniella não tem avançado concretamente, e dentro do Republicanos há uma força-tarefa comandada pelos irmãos Galdino (Adriano, estadual, e Murilo, federal) para atrair à sigla o deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, com a condição dele ser o candidato anti-Bruno na Rainha da Borborema. Ou seja, há uma nítida divisão na base governista de João sobre questões pontuais como a disputa em Campina, segundo maior colégio eleitoral do Estado. Romero, aliás, coincidentemente, cumpriu agenda, ontem, com João Azevêdo, por ocasião da visita de um ministro do governo Lula a Campina. Na última declaração que havia dado sobre a sucessão campinense, Rodrigues transferiu para o começo do ano vindouro qualquer manifestação sua a respeito do cenário e das possibilidades cogitadas, inclusive, a da sua própria candidatura.
Para todos os efeitos, analistas políticos consideram que a situação de Daniella está “em aberto” para o futuro, quer no tocante a 2024, quer em relação a 2026. Embora normalmente opere alinhada com seu “clã”, Daniella é conhecida pela impetuosidade e pela independência de posições. Só deu trégua a João Azevêdo quando este se compôs com seu grupo, aceitando o nome do seu filho, Lucas, para a vice-governança, após Aguinaldo desistir de concorrer ao Senado e optar por candidatar-se à reeleição à Câmara dos Deputados. Como parlamentar, Daniella tem canais de interlocução privilegiados junto a diferentes partidos, preside a Comissão Mista de Orçamento do Congresso e é respeitada por líderes que ocupam posições de destaque no cenário nacional de poder, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Um exemplo da sua independência está no fato de que, na campanha de 2018, ela “descolou” da candidatura do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) ao Senado e assegurou a sua própria vaga, enquanto o pai de Pedro Cunha Lima acabou sacrificado, pontuando no quarto lugar, abaixo de Luiz Couto (PT). Daniella foi eleita concorrendo por um esquema e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) abocanhou a outra vaga concorrendo pelo esquema de Ricardo Coutinho, que tinha João Azevêdo como candidato a governador.
Enquanto se espalha a exploração em torno dos rumos de Daniella na conjuntura política estadual, tem sido agitada, nas últimas horas, a hipótese de que o “acordo da Granja” possa vir a acomodar Lauremília Lucena, mulher do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, na chapa majoritária, novamente como candidata a vice-governadora. Isto dependeria de um movimento de Lauremília, que foi vice-governadora numa das gestões de Cássio Cunha Lima, para ingressar no PDT e, provavelmente, assumir o comando da agremiação no Estado, situando-a no campo da esquerda e, assim, contrabalançando alianças ao centro e à direita que o governador João Azevêdo está tendo que fazer para os embates vindouros. A “hipótese Lauremília” tende a permanecer no radar até o fechamento de definições concretas, com a vantagem de que ela representaria João Pessoa na chapa encabeçada por Lucas ao Executivo. O nome do deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia e figura influente no cenário, também volta a ser lembrado para a vice-governança no esquema liderado por João Azevêdo, mas a sua filiação ao Republicanos pode dificultar articulações mais consistentes nessa direção.
Participantes da reunião promovida na última quinta-feira em João Pessoa definiram o objetivo do encontro como de “alinhamento” de projeto para 2026. De fato, há o sentimento de que o esquema de Azevêdo precisa amarrar alguns pontos com antecedência, tendo em vista a mobilização ostensiva de outros expoentes para o pleito de 2026, a exemplo da pré-candidatura de Veneziano à reeleição para senador e da mobilização do próprio Romero Rodrigues para avaliar espaços com vistas a uma provável disputa ao governo. Também comenta-se que há uma preocupação, agora, em evitar iminência de traições ou de posturas de “bola dividida”, sobretudo, nas eleições ao Senado em 2026. Para alguns observadores, o resultado prático da reunião desta semana foi o de consolidar a dobradinha João Azevêdo-Hugo Motta para o Senado – e, na esteira disso, o apelo à unidade do esquema como condição imperiosa para a vitória total no pleito majoritário, daí irradiando efeitos colaterais nas eleições proporcionais à Câmara e Assembleia. Falta encaixar melhor certas posições, o que abre um universo de possibilidades no próprio esquema que dá respaldo e sustentação política a João Azevêdo.