Nonato Guedes
Causa espécie nos meios políticos paraibanos o fato de que o PSB do governador João Azevêdo esteja preparando seu “desembarque” do poder quando vive o pleno apogeu na conjuntura política estadual. É uma circunstância que intriga e desmotiva filiados da legenda e liderados do chefe do Executivo, ele mesmo circulando em céu de brigadeiro, depois de ter conquistado o segundo mandato e experimentando uma confortável “lua de mel” com o governo federal, que era impensável no governo de Jair Bolsonaro (PL), por razões óbvias. A seção paraibana do partido não tem maior expressão no Congresso mas conta com boa representação na Assembleia Legislativa e o próprio governador anunciou-se candidato ao Senado nas eleições de 2026, vencendo hesitações que até então davam como provável a sua permanência no Palácio até o último dia de gestão, imitando postura do ex-governador Ricardo Coutinho que tem custado a este intervalos de desgastante inferno astral na vida pública.
Mas, quanto ao governo do Estado, João Azevêdo, com antecedência, prepara-se para entregar o “filé mignon” a outras legendas, como o PP do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, consideradas sócias decisivas da governabilidade empalmada desde 2019 quando o gestor ascendeu pela primeira vez ao posto. Havia postulações agitadas no interior do PSB, a mais vistosa delas a do secretário de Infraestrutura, Deusdete Queiroga, da mesma forma como eram citados nomes como o do deputado federal Gervásio Maia e da secretária Pollyanna Dutra (esta, inclusive, bem votada para o Senado em 2022, ficando abaixo do vitorioso daquela disputa, o senador Efraim Filho, do União Brasil). Se houvesse vontade política, o PSB poderia filiar quadros valorosos, egressos até de outras legendas do arco da governabilidade, para obter capilaridade própria ou autóctone no processo vigente. Mas João preferiu “radicalizar” o símbolo do seu partido, “socializando” espaços que envolvem cargos cobiçadíssimos, que só se entrega a quem é confiável ou com quem se tem compromisso. Faltou esclarecer à opinião pública quais os compromissos assumidos com os parceiros do PSB, que também está largando mão de candidatura própria a prefeito de João Pessoa em 2024.
Tancredo Neves, o estadista das Alterosas, dizia que o bom bocado não é para quem faz, é para quem come. Na conjuntura atual, o governo de João Azevêdo, para além das aparências, é mais que um bom bocado – é um troféu de valor inestimável. No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a administração paraibana pegou arranque e velocidade, praticamente não se passando uma semana sem que ministros compareçam ao Estado ou, lá de Brasília, liberem verbas e obras, por intercessão direta do governador, que além de reeleito foi bafejado com a presidência do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, o que lhe permite erigir-se em porta-voz dos interesses de toda a região perante o Palácio do Planalto e outras instâncias de mando, incluindo organismos internacionais. É um quadro inteiramente novo e auspicioso para a Paraíba, que, finalmente, para alegria dos especialistas em desenvolvimento, despertou para a exploração de novos nichos de progresso, como o filão das energias renováveis. Como diz João, a região não é mais problema, é parte da solução. E, sem dúvida, chama a atenção o volume de empreendimentos e de investimentos.
No que diz respeito a partidos políticos, é bem verdade que eles possuem duração média de permanência no poder, até porque a moeda corrente passou a ser, nos últimos anos, no Brasil, a alternância nesses quadros influentes. A nível federal, pela primeira vez na história recente, um presidente da República – Jair Messias Bolsonaro, não logrou ser reconduzido, perdendo para um adversário que parecia decaído e renasceu como uma Fênix arejada. Ao final do segundo governo João Azevêdo, o PSB terá completado dezesseis anos na administração estadual, somando-se com os oito que foram empalmados por Ricardo Coutinho, que, inegavelmente, foi quem fincou o mastro do Partido Socialista em terra firme na Paraíba, conquistando a Capital, que é uma espécie de joia da Coroa, e o próprio Executivo maior, num coroamento ímpar para a trajetória da legenda que já teve nomes legendários como o de Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco e líder no segmento das esquerdas no país.
Ricardo passou o bastão a João Azevêdo, mas fez de tudo para atrapalhar a sua vida partidária. Nocauteado na ambição de querer continuar influenciando as decisões de governo, Coutinho refugiou-se dentro do PSB como uma trincheira essencial para a sua sobrevivência e do seu grupo, atirando-se a quedas-de-braço de grande repercussão com o sucessor, em cuja vitória teve participação efetiva. Foi atropelado pelas denúncias de desvio de recursos da Saúde e da Educação no seu segundo governo, conforme os autos da Operação Calvário, que ainda hoje permanece inconclusa, despertando expectativa nos meios políticos e sociais paraibanos. João Azevêdo, além de imprimir sua marca e deflagrar o projeto de reconstrução administrativa, lutou para herdar o PSB – e, num dos revezes episódicos, teve que se alojar no Cidadania. Acabou tendo o partido nas mãos e, com isto, empurrou Ricardo de volta às hostes do PT. O PSB perdeu características de partido de grandes centros na Paraíba e tomou feições municipalistas, fincado nos grotões do interior. Mas ainda oferece enorme perspectiva de poder – que tende a ser desperdiçada nos futuros embates, quando a legenda estará fora do mapa do controle de governos em diferentes esferas. Este é o cenário, sem tirar nem pôr.