Nonato Guedes
A senadora Daniella Ribeiro (PSD), que prestigiou a Paraíba com a realização, em João Pessoa, de um seminário sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024, conciliou sua missão como presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso com seu papel de líder política, confrontando, em entrevistas, a administração do prefeito Bruno Cunha Lima, de quem já foi aliado e, com isto, abrindo o sinal para uma vasta especulação em torno da sua própria candidatura ao páreo municipal no próximo ano. Daniella não assume concretamente o projeto mas não descarta a possibilidade. Ela sabe que seu nome está no radar do esquema do governador João Azevêdo (PSB) para liderar uma chapa de oposição a Bruno e tentar destronar o esquema Cunha Lima, que ainda tem forte influência na política e no eleitorado do segundo maior colégio do Estado. A polêmica se deu em plena semana festiva para os campinenses, com o aniversário de 159 anos da Rainha da Borborema.
Daniella, cujo filho, Lucas Ribeiro, do PP, atual vice-governador de João Azevêdo, fez parte da chapa vitoriosa de Bruno, em 2020, também como vice, justificou nas suas declarações que a atual administração que empalma o poder em Campina Grande decepcionou o seu grupo e, conforme acredita, segmentos importantes da população, por não ter correspondido nas promessas agitadas em palanque e que sensibilizaram o eleitorado a dar-lhe um crédito de confiança. A senadora foi incisiva ao reclamar que a gestão de Bruno se alimenta de “factoides”, referindo-se a anúncios que são publicizados mas que, pelo seu relato, não se concretizam, frustrando os que apostaram no choque administrativo prometido lá atrás. No contraponto, Daniella argumenta que o governo de João Azevêdo vem surpreendendo positivamente a população de Campina Grande, com investimentos maciços e de vulto e com obras de impacto que seriam coerentes com a posição de grandeza ostentada pela principal cidade do interior do Nordeste brasileiro. Para ela, o desgaste da administração de Cunha Lima vai se materializar nas urnas, no pleito de 2024 que se prenuncia acirrado na Rainha da Borborema.
Primeira mulher eleita senadora na história política recente da Paraíba, Daniella Ribeiro é respeitada pela sua capacidade de liderança e poder de articulação, que lhe tem garantido a conquista de espaços relevantes dentro do Congresso Nacional. Nas últimas semanas, seu nome ainda figurava no radar como candidata natural à reeleição na distante eleição majoritária de 2026 – e é certo que ela se empolga com o trabalho parlamentar que empreende, até pelas inúmeras oportunidades e possibilidades que se alargam no horizonte político-partidário. Mas uma reunião na Granja Santana, em João Pessoa, em que foi elaborado um rascunho da chapa majoritária de 2026 escanteou Daniella, aparentemente, da corrida pela reeleição, diante da perspectiva de lançamento da candidatura do seu filho, Lucas Ribeiro, ao governo do Estado, no qual se investiria com a desincompatibilização de Azevêdo para disputar o Senado. Azevêdo, por sua vez, faria dobradinha ao Senado com o deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos e um quadro político em ascensão na realidade local já há bastante tempo.
A senadora evitou passar recibo de desapontamento por ter sido alijada da chapa ao Senado, tolhida, inclusive, pela circunstância de que o arranjo visa a contemplar seu filho numa batalha mais cobiçada, a que envolve o governo do Estado. Seu nome foi posto na mesa, então, como alternativa natural para concorrer à prefeitura de Campina Grande, que já disputou uma vez, sem êxito, há algum tempo. Desta feita, ela seria candidata dentro de uma “concertação de forças” que envolveria o próprio PSB do governador João Azevêdo, o PP do seu irmão, deputado federal Aguinaldo Ribeiro e outras legendas que estão alinhadas na oposição declarada ao prefeito Bruno Cunha Lima, algumas delas agrupadas em torno de um movimento denominado “Fórum por Campina Grande”, cujo desafio é o de apresentar uma radiografia sobre a realidade administrativa vigente no município e, em paralelo, formular propostas que viabilizem um deslanche maior da Rainha da Borborema no seu processo de crescimento, para o qual é vocacionado. Os entendimentos serão aprofundados mas a pré-candidatura de Daniella tende a se consolidar.
No bloco de sustentação política do governador João Azevêdo, o “clã” Galdino, representado pelos deputados Murilo e Adriano (federal e estadual), sem fazer restrição a Daniella, tem canal aberto com o deputado federal e ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos), cortejando-o para assinar ficha no Republicanos e, desta forma, viabilizar alinhamento com o esquema do governo estadual para reforçar uma provável pretensão de, novamente, voltar à edilidade campinense. De sua parte, o prefeito Bruno Cunha Lima demonstra que não está imobilizado, embora, de vez em quando, nas declarações, aluda ao rolo compressor que terá pela frente nas eleições decisivas para o seu futuro. Ele busca se apoiar no senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que já lhe declarou apoio, e no senador Efraim Filho (União Brasil), que aguarda ansiosamente uma confirmação da filiação de Bruno ao partido. É esse cenário de múltiplas opções que estará em foco, inevitavelmente, nas celebrações pelo aniversário de Campina Grande, em meio às declarações de amor dos políticos à cidade Rainha.