Nonato Guedes
O deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi prefeito de João Pessoa por duas vezes, foi o petista que mais se empolgou com a eleição do advogado Marcos Túlio para presidir o diretório municipal da legenda e, sobretudo, com o compromisso que ele assumiu de pautar internamente a discussão da candidatura própria à sucessão de Cícero Lucena (PP) em 2024. Desde que foi eleito à Assembleia em 2022, Luciano passou a ensaiar articulações para voltar ao comando da edilidade. Não só agitou a bandeira da candidatura própria como se lançou para a vaga, tendo promovido gestões junto à direção nacional, enfeixada pela deputada Gleisi Hoffmann (PR), oferecendo-se ao desafio de voltar a representar a legenda numa disputa eleitoral. Nos bastidores, em nível local, tem feito incansável trabalho de doutrinação da militância para empalmar a tese e refugar a tentação de uma aliança em torno do nome de Cícero, que pleiteará a reeleição.
Na tribuna da Assembleia Legislativa, Cartaxo chegou a dar partida a discursos invariavelmente centrados na crítica à administração atual, praticamente concentrando seu mandato no debate obsessivo das questões ligadas a João Pessoa, deixando de lado outras abordagens focadas em problemas do Estado como um todo ou do país. A investida só teve um freio quando o presidente da Casa, Adriano Galdino (Republicanos), avisou que não iria permitir que a tribuna legislativa se transformasse em palanque pré-eleitoral, desviando-se da finalidade de representação dos interesses do povo paraibano – um recado que não se dirigia exclusivamente a Cartaxo mas a outros pretendentes que cogitam postulações ou ambicionam lançar-se no páreo no ano vindouro. Mesmo com os intervalos no tom dos discursos sobre a problemática pessoense, Cartaxo, sempre que possível, dá um jeito de trazer o assunto à baila, e deverá intensificar a ofensiva com o avanço do calendário – afinal, falta quase um ano para o primeiro turno da próxima batalha nas urnas.
No âmbito do próprio PT ele não é o único parlamentar a reivindicar a indicação de candidatura, valendo ressaltar que a deputada estadual Cida Ramos também se posiciona nessa direção e adota linha propositiva no enfoque das questões estritamente municipais. Cartaxo, até por ter sido prefeito duas vezes consecutivas, é o mais ostensivo na busca de mídia, apresentando-se como conhecedor da realidade local. Embora seja tido como integrante da base de apoio ao governo João Azevêdo (PSB), que apoia Cícero à reeleição, o deputado se insurge abertamente contra a imposição do nome de Lucena e avalia ter cacife para estar, outra vez, no páreo, por causa dos índices de aprovação que colheu ao final da sua segunda gestão no Centro Administrativo Municipal. Luciano, no pleito de 2020, lançou uma concunhada, Edilma Freire, ex-secretária de Educação, como candidata para sucedê-lo, mas não conseguiu a façanha de transferir votos, de tal sorte que a candidata ungida não avançou para o segundo turno nem perseverou na atividade política. Ele tinha um leque de nomes de auxiliares da sua confiança em que apostar nas eleições, mas optou pela solução doméstica, que não deu certo, justificando que Edilma havia implantado uma “revolução silenciosa” na área da Educação na Capital paraibana.
A habilidade política de Luciano Cartaxo é indiscutível – ele conseguiu ser readmitido no Partido dos Trabalhadores depois de abandonar a legenda em pleno escândalo nacional do mensalão, temendo que o desgaste experimentado pela legenda respingasse na sua imagem e liderança política na Paraíba. Analisadas em profundidade, as duas gestões que empalmou à frente da prefeitura situaram-se no nível razoável, não constituindo, propriamente, modelos revolucionários ou inovadores que possibilitassem à Capital um salto diferenciado no rumo do desenvolvimento. Na prática, o ex-prefeito deu prioridade ao varejo, investindo em obras pontuais, de pouca repercussão ou impacto e omitindo-se na formulação de um grande debate com setores da sociedade sobre medidas que colocassem João Pessoa em posição de destaque no ranking das Capitais nordestinas. Ainda assim, o período administrativo logrou ter reconhecimento que, no entanto, não se materializou em dividendo eleitoral, pelo menos do ponto de vista de transferir votos para eventuais herdeiros políticos de Luciano Cartaxo. No raciocínio de Cartaxo, ele obteve um passaporte para se credenciar a tentativas de retorno – e este é o movimento que ele faz, estimulado, agora, pela perspectiva de abertura para que a tese de candidato próprio venha a prosperar.
O desafio para Luciano é o de demonstrar que tem, concretamente, capilaridade política e densidade eleitoral para pavimentar um projeto de reconquista da prefeitura de João Pessoa. Nesse sentido, ele ficou desapontado com uma pesquisa encomendada pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores, na qual despontou com cerca de 2% nas intenções de voto para a disputa do próximo ano. A sua expectativa era a de ter um patamar mais vigoroso, até como “recall” positivo das administrações que enfeixou e, também, por ser filiado ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na média, tem um desempenho favorável no universo de eleitores brasileiros. Daí a veemência com que contestou os resultados do levantamento, alegando que dispõe de números diferentes que privilegiam a sua posição como pré-candidato novamente a prefeito. A mudança de comando no PT municipal, com a adesão à candidatura própria, deu fôlego novo à ambição de Cartaxo, que, agora, busca construir um arco de alianças mais estável para sedimentar a sua candidatura. Se não houver interferência da cúpula nacional, poderá marchar em céu de brigadeiro como postulante, faltando conferir se as urnas, desta feita, serão generosas com a sua ambição política. Mas, dentro do PT, ele tem mais chances do que Cida Ramos de exercer o protagonismo com que sonha.