Nonato Guedes
As eleições de 2022 na Paraíba projetaram os ex-deputados federais Pedro Cunha Lima (PSDB) e Efraim Filho (União Brasil) como líderes ou expoentes de uma nova configuração de poder na conjuntura local, o primeiro por ter avançado para o segundo turno no confronto pelo governo do Estado com o governador de plantão, João Azevêdo (PSB), que foi reeleito, o segundo porque logrou vencer a disputa pela única vaga em jogo ao Senado enfrentando a máquina oficial e pesos-pesados da constelação política local. Efraim tem se destacado no mandato parlamentar que exerce e Pedro, mesmo sem mandato político, continua sendo quadro de referência no segmento de oposição paraibana, um arco que ainda comporta bolsonaristas ferrenhos como Nilvan Ferreira e o deputado federal Cabo Gilberto Silva e lulopetistas assumidos como o ex-governador Ricardo Coutinho, que acompanha, de Brasília, os movimentos de ex-aliados, de correligionários e de outros atores do cenário paraibano.
A expectativa é de que Pedro e Efraim, por conta do dinamismo ou da oxigenação que imprimiram à política local na campanha do ano passado, venham a ter papel influente, de destaque, nas eleições municipais de 2024, apoiando candidatos a prefeitos que tenham viabilidade para conquistar edilidades, a partir dos grandes centros como João Pessoa e Campina Grande. Em Campina, é certo que o senador do União Brasil e o ex-deputado tucano estarão juntos no palanque do prefeito Bruno Cunha Lima à reeleição, faltando a este decidir-se por um outro partido, já que não tem convivência no PSD da senadora Daniella Ribeiro, sendo mais fácil migrar para o partido de Efraim, diante do convite e da ficha que este já lhe entregou. A Pedro e Efraim se somará, na Rainha da Borborema, o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente regional do MDB, que ainda em 2022 apoiou Cunha Lima no segundo turno ao governo e, desde então, aproximou-se de Bruno, com cuja gestão busca colaborar, liberando recursos e destravando obstáculos legais junto a instâncias de poder em Brasília.
Em João Pessoa, Pedro Cunha Lima e Efraim Filho poderão até tomar posições opostas à prefeitura, mas atuarão, com certeza, no campo das oposições. Em princípio, o ex-deputado tucano tem preferência pelo apoio à pré-candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que tenta consolidar, também, a adesão do senador Veneziano Vital do Rêgo. Efraim, por sua vez, abriu discussão direta com o ex-candidato a prefeito e a governador Nilvan Ferreira, que está de saída do PL em protesto contra a imposição do nome do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como provável postulante da legenda à sucessão de Cícero Lucena. O União Brasil, naturalmente, gostaria de ter Nilvan em seus quadros, facilitando a viabilidade de uma candidatura deste à prefeitura, mas Ferreira procura se valorizar em meio a ofertas de líderes de outros partidos para ingresso com garantia de apoio às suas ambições. Essas tratativas terão uma definição à medida que se afunilar o processo, com a vigência de prazos para filiação e estruturação de campanhas de pré-candidatos no próximo ano.
Embora as eleições de 2022 tenham demonstrado que João Pessoa e Campina Grande já não são os principais redutos que decidem pleitos no Estado, visto que o governador João Azevêdo só conseguiu assegurar a reeleição em localidades do interior, a verdade é que a Capital e a Rainha da Borborema exercem influência psicológica junto ao eleitorado como um todo, das mais diferentes regiões. No radar de Pedro e de Efraim não se cogita a possibilidade de ignorar o peso político dos dois maiores colégios eleitorais do Estado, sob pena de cometer-se um primário erro político estratégico, que pode pôr a perder todo um projeto ambicioso de poder que passa pelas eleições municipais mas que foca, igualmente, nas eleições majoritárias de 2026, quando estarão em pauta, novamente, o governo do Estado e, agora, duas cadeiras ao Senado Federal. O esquema governista de João Azevêdo já precipitou, como todos sabem, um esboço de chapa lá para a frente, com o atual governador e o deputado federal Hugo Motta (Republicanos) como postulantes a senador, e o vice-governador Lucas Ribeiro (PP) como opção para suceder João Azevêdo no Palácio da Redenção, estando em aberto a vice-governança, para efeito de possível composição com segmento de esquerda que deseje formar com o bloco que o atual chefe do Executivo irá liderar. Até onde sabe, o senador Efraim Filho e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima continuam mantendo um pacto amistoso no relacionamento político, que se fundamenta no consenso pela oposição ao esquema que está atualmente no Palácio da Redenção. Os dois líderes políticos, evidentemente, estão atentos às peculiaridades dos respectivos partidos a que estão filiados, sem perder de vista, entretanto, a perspectiva de continuarem focados na oposição, marcando território em relação a outros pretendentes a esse espaço e estimulando especulações de bastidores, ou seja, em caráter extra-oficial, sobre nomes que poderão compor chapa no futuro, mais especificamente em 2026. Quando houver um mapeamento concreto das alternativas para as eleições municipais de 2024, quer nos grandes centros, quer nos demais redutos eleitorais da Paraíba, Efraim e Pedro deverão se sentar à mesa para avaliar possibilidades de convergência ou para encarar possíveis conflitos que não cheguem a arranhar o pacto maior de união entre eles. Não há uma data-limite para as definições e tudo dependerá dos cenários que se apresentam desde agora para o futuro próximo.