Kubitschek Pinheiro – Portal MaisPB
O jornalista Nonato Guedes é uma extensão do sertão, com influências cosmopolitas. Ele é a ligeireza da mudança, e embora, afastado das redes (e faz bem) Nonato tem como prioridade o hábito da leitura – isso é fundamental na vida de um jornalista. O cara quando tem bom texto, pode ir atrás, que é um leitor contumaz.
Nonato Guedes é um aprendiz, está na casa dos 60, filho do comerciante Joaquim Nonato e de Josefa Guedes, já falecidos. Cedo estava na estrada e ainda garoto foi trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras como office-boy e, onde logo depois foi redator. Como assim? Ora, ninguém o obrigara a ler para escrever bem. Ele menino, já estava na fronteira – da diligência da esfinge.
Na Rádio Alto Piranhas foi chefe do departamento de jornalismo e locutor-noticiarista. Veio para João Pessoa em 1978, para atuar na Rádio e no jornal Correio da Paraíba. Foi editor político e colunista político em O Norte, Correio da Paraíba, editor e superintendente de A União, redator e colunista da revista A Carta.
Reconhecido talento, foi correspondente do jornal O Estado de São Paulo, locutor-entrevistador na TV Cabo Branco, vice-presidente e presidente da API, autor do livro “A Fala do Poder” e presidente-fundador do cineclube Vladimir Carvalho em Cajazeiras. Foi redator do Gabinete da reitoria na UFPB, Assessor Parlamentar em Brasília e teve passagens, ainda, pelas rádios Arapuan e Tabajara, em João Pessoa.
É co-autor de outros dois livros. Casado com a psicóloga Bernadeth de Lourdes, tem um filho, Daniel, do casamento com Lena Guimarães (in memoriam). É atualmente redator e colunista do blog Os Guedes, dirigido pelo seu irmão, Lenilson Guedes.
Ao Espaço K do MaisPB, Nonato Guedes revela sua paixão pelo jornalismo, dá exemplo estético ao induzir o leitor a estudar mais, ler mais, sempre nos levando junto com suas viagens, em torno da palavra. Muito mais. E como a vida é para ser vivida, não congelada no tempo, Nonato segue fazendo gols.
Espaço K – De cara – como Nonato Guedes veio bater em João Pessoa?
Nonato Guedes – Eu era redator da sucursal do “Correio da Paraíba” em Cajazeiras em 1978, quando pedi as contas. A então delegada do Trabalho na cidade, doutora Socorro Araruna, acionou a empresa para assinar carteira e pagar-me direitos legais. Aluízio Moura, um dos diretores do “Correio”, foi a Cajazeiras ter comigo. Propôs que eu retirasse a ação trabalhista e me chamou para vir para João Pessoa, com garantia de carteira assinada e emprego na rádio e no jornal. Era pegar ou largar. Eu tinha idade para pegar e foi assim que pedi demissão da rádio Alto Piranhas, entrei num ônibus da Viação Andorinha e vim me hospedar na pensão de Seu Lucas, na Cardoso Vieira. Logo me apresentei à empresa e fui admitido – no jornal sob o comando de João Manoel de Carvalho, na rádio sob a direção de Otinaldo Lourenço e Erialdo Pereira. A partir daí, foi deslanche.
Espaço K – Sabemos que Nonato já era jornalista em Cajazeiras. Conta pra gente essa história?
Nonato Guedes – Sim. Na verdade, comecei como ‘office-boy’ ou ‘menino de recados’ na Difusora Rádio Cajazeiras, nos primórdios da década de 70. Em meio às ocupações, tive a atenção despertada pela redação, onde as matérias eram apuradas e transmitidas ao público. O diretor Mozart de Souza Assis advertiu-me que voltasse para o meu posto, mas foi pressionado por colegas que lhe pediram para me dar uma chance. Respondeu, contrafeito, que só o faria se eu me submetesse ao curso de datilografia, no que ele não apostava. Fiz o curso em segredo, na escola Sinhá Carneiro, intercalando o aprendizado com as aulas no colégio estadual. Fui aprovado “com louvor”, e não restou a Mozart outra saída senão contratar-me para a redação. Mais adiante fui chamado pela rádio Alto Piranhas, onde criei o departamento de jornalismo e tive acesso ao microfone. Larguei tudo em junho de 78, como já disse, para vir trabalhar em João Pessoa.
Espaço K – Nos tempos áureos da TV Cabo Branco, você apresentava o jornal, né? Vamos lembrar dessa aparição de Nonato Guedes na televisão?
Nonato Guedes – Foi Erialdo Pereira que me levou para a TV, onde passei a apresentar o Bom dia, Paraíba, basicamente com entrevistas, ao lado de Otinaldo Lourenço, e o Paraíba Meio Dia, também com entrevistas, ao lado de Chico Maria. Mas fui, também, comentarista de pesquisas eleitorais e mediador de debates entre candidatos a prefeito de João Pessoa e candidatos a governador. Fui o primeiro a transmitir ao vivo, para todo o Estado, a posse de um governador (Ronaldo Cunha Lima, em 1991), em parceria com a inesquecível Nelma Figueiredo. Foi um acontecimento de repercussão em todo o Estado, conforme as mensagens que chegavam à TV. Eventualmente apresentei noticiário, mas como substituto. Já como entrevistador tive passagens com personalidades como Ulysses Guimarães, ministros de Estado, cientistas como Hilton Rocha, figuras do meio artístico, jornalístico e cultural, além das figuras carimbadas da Paraíba. Abri mão de outras propostas para me dedicar à TV, de onde saí para ser superintendente de A União. Fui, também, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e presidente da Associação Paraibana de Imprensa.
Espaço K – Você integrava o time dos jornalistas que saía do jornal Correio para tomar cervejas no La Bambina?
Nonato Guedes – Sim. E também no La Veritá, no Blitz, no Cassino, no Gambrinus, na Adega do Alfredo, no Chopp da Praia, no Drive-in – nos diferentes templos boêmios da Capital.
Espaço K – Como você conseguiu e ainda perdura, ter um texto tão primoroso, desde quando assinava a coluna política nos jornais da cidade?
Nonato Guedes – Não sei se é tão primoroso, o que atribuo a generosidade sua. Mas procuro, nos meus textos, inovar sempre, a par de leituras e de informações que acompanho. Sempre fui bom em Português e péssimo em Matemática – talvez esteja aí uma explicação. Aprender sempre, ou aprender todo dia, este é o meu lema. Vivo desse aprendizado.
Espaço K – A política mudou, já não temos mais as raposas velhas – hoje temos inúmeros políticos envolvidos numa roubalheira sem fim, né?
Bom, infelizmente, os registros estão aí, de escândalos e mais escândalos, envolvendo políticos. Mas prefiro não generalizar. O problema é que há, no Brasil, um excesso de parlamentares, desde o Congresso às câmaras municipais, em termos de quantidade. Nem sempre os bons ou idealistas sobressaem – mas, pode acreditar, eles existem, são de carne e osso e, quando lhes dão chance, fazem leis boas para o país.
Espaço K – Teve um episódio em sua vida, uma nota que você deu na coluna e gerou uma confusão entre os filhos de um ex-prefeito. Esse tempo passou, mas a integridade de Nonato não foi atingida?
Nonato Guedes – Fisicamente fui agredido pelo filho de um ex-prefeito da Capital. Eu havia escrito coluna em “O Norte” comparando o gestor a Odorico Paraguaçu, personagem do Bem-Amado. A repercussão descambou para o jocoso, o folclórico, daí veio a revanche intempestiva. O caso teve repercussão nacional, houve queixa na Polícia, prestei depoimentos. Tempos depois, familiares do alcaide me procuraram pedindo desculpas, e houve, também, mediação do ex-governador Tarcísio Burity para acalmar os ânimos. Minha integridade seguiu intacta, mas não me tornei escravo de sentimentos menores. Posso ter exagerado na comparação, mas não produzi fake News. Escrevi o artigo conscientemente – é isso.
Espaço K – Aliás, lembro que amigos escreveram no seu espaço defendendo sua pessoa. Você tem muitos amigos?
Nonato Guedes – Tive muitos amigos. Infelizmente, muitos deles se foram, deixando-me na orfandade. O tempo, também, ensina a fazer triagem, a usar o equilíbrio e a tentar não perder a serenidade. Tenho, hoje, os amigos que me bastam porque neles confio e creio que a recíproca seja verdadeira. Mas sempre há lugar para os que se achegam.
Espaço K – Nunca pensou em escrever suas memórias de um jornalista sertanejo que nem eu, que jamais será esquecido?
Nonato Guedes – Já cogitei, mas entendi que posso ser útil escrevendo sobre fatos inéditos. Se a idade e a saúde permitirem, gostaria de avançar por esse terreno, com as bênçãos de Deus.
Espaço K – Um ex-colega de trabalho diz que seu texto flui como uma cachoeira, que você não se apavora diante de uma folha de papel em branco. Como conseguiu isso? Você ainda lê muito?
Nonato Guedes – Uns chamam dom, eu prefiro não me aprofundar por medo de cometer cabotinismo. Saber escrever é uma consequência da minha aprendizagem forjada no autodidatismo e mergulhando em águas profundas da literatura. Domino qualquer assunto para o qual seja desafiado, com exceção das exatas, por onde trilho na periferia. Leio muito, e com rapidez, sem prejuízo da compreensão. Quando ia para a escola em Cajazeiras não levava livros didáticos, levava livros de autores como Jorge Amado.
Espaço K – Você casou com a jornalista Lena Guimarães, que já se mudou desse planeta. Tiveram um filho, Daniel. Filho criado, trabalho dobrado, né?
Nonato Guedes – Sim, fomos casados. Daniel é uma figura extraordinária, com um potencial que muitas vezes guarda para si. É um filho emancipado, que sabe o que quer e que já morou no exterior, um feito que o pai nunca realizou. É uma figura encantadora, posso atestar.
Espaço K – Você também era conhecido por namorar outras jornalistas. Esse tesão vinha das redações, do convívio diário?
Nonato Guedes –Kubi, não sei te responder. Sei que aconteceu.
Espaço K – Casado com Bernadete, uma mulher “indo e voltando” como se diz no sertão. Poderia falar desse liame entre vocês dois?
Nonato Guedes – Foi uma construção esculpida em afinidades. Posso dizer que ela é imprescindível na minha jornada. Já salvou minha vida, em ato de puro amor e de dedicação plena. É uma mulher extraordinária, com um coração enorme, que tem sido meu esteio na dura lida. Amo-a de paixão e sou-lhe grato como fonte inspiradora de muitas correções de rota que minha vida tomou. Admiro o seu jeito de doar-se pelos outros, uma qualidade superior que marca de forma indelével a sua personalidade. E é uma guerreira, que não entrega os pontos, pode ter certeza.
Espaço K – Quem Nonato poderia citar como influenciador do seu trabalho? Algum jornalista, escritor?
Nonato Guedes – No plano local fui fortemente influenciado por Severino Ramos, João Manoel de Carvalho, Jório Machado, Erialdo Pereira e Josélio Gondim. No plano nacional, sempre tive como referências Carlos Castello Branco, Carlos Chagas, Carlos Garcia (Recife), Elio Gaspari, Marcos Sá Corrêa e Villasboas Corrêa.
Espaço K – Você acredita em Deus ou o Divino é uma invenção do homem para ter uma luz como salvação?
Nonato Guedes – Acredito em Deus!
Espaço K – Você escreve nos Guedes (do irmão Lenilson Guedes) que é sua janela virtual para o mundo. Sente falta do impresso?
Nonato Guedes –Não vou negar. Sinto falta do impresso, do cheiro de redação, do tumulto nas salas de jornalismo. Mas sou adaptável. Comecei na máquina de dactilografia, passei pelo telex, pelo fax, pelo computador, pela internet. Não chego a ter domínio maior das ferramentas, mas sempre procurei aprender o básico para ingressar no ‘mundo novo’.
Espaço K – Como foi sua passagem na Revista A Carta, de Josélio Gondim?
Nonato Guedes – Sempre fui fascinado por revistas. Josélio proporcionou-me a grande oportunidade de escrever de forma diferente, com mais liberdade de criação. A Carta está tatuada em mim como a grande paixão que nutri na imprensa da Paraíba.
Espaço K– Para fechar, quando a gente morava no sertão ia muito aos famosos cabarés de Cajazeiras. No seu tempo de rapaz você frequentava esses ambientes prazerosos?
Nonato Guedes – Fui algumas vezes ao cabaré de Lilía, geralmente na companhia de amigos, que tinham carro e queriam curtir uma farra. Mas não tive grandes envolvimentos, ia mais pela curtição própria da idade e pela curiosidade. No Sertão, naqueles tempos, isto era muito comum entre os jovens.