Nonato Guedes
Candidato já anunciado à reeleição no pleito de 2026, o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB) tem consciência de que precisará se reinventar naquela disputa, que constituirá uma disputa difícil e diferente, uma jornada nova que empreenderá, com novos parceiros e discurso mutável, adaptado à correlação de forças em que se situará. O pleito de 2018, quando conquistou vaga pela primeira vez, também foi difícil e acirrado, sobretudo em Campina Grande, seu principal reduto, onde dividiu votos com outros concorrentes de peso. Veneziano, no entanto, estava integrado a um esquema que comandava o poder local, através da liderança do então governador Ricardo Coutinho, ambos filiados ao PSB, e que tinha como candidato ao Executivo João Azevêdo, que conquanto fosse beneficiário do rolo compressor dos apoios, despontava como neófito no jogo, sendo apresentado à opinião pública praticamente na campanha propriamente dita, no fragor dos embates travados a céu aberto.
Nos seus calcanhares, em Campina Grande, Veneziano enfrentava a concorrência do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) e da deputada Daniella Ribeiro, então no PP, que uniram forças para garantir as duas cadeiras pela oposição. Deu-se que, para surpresa geral, Cássio, que era tido como favorito para a primeira vaga, acabou empurrado pelo eleitorado para o quarto lugar, tornando-se Veneziano e Daniella donos das cadeiras disputadas. Não havia afinidades entre os dois vitoriosos – e, quanto a Daniella, foi revelado, mais tarde, que ela teria se ‘descolado’ de Cássio à certa altura da campanha, priorizando a própria sobrevivência. O ex-governador, em tom elegante, preferiu atribuir a derrota nas urnas uma espécie de “tsunami” político que teria acometido o país, na formação de um fenômeno de implicações ou de repercussões nacionais. A sensação da eleição presidencial, como se sabe, foi um suposto “outsider” da política – na verdade, o ativo militante político e ex-capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro, que, ao estilo Fernando Collor, o “caçador de marajás” de 1989, tentava firmar imagem de estranho ao sistema político-partidário vigente. Uma manipulação grosseira que deu resultado devido à descrença do eleitorado com o processo.
Na Paraíba, a eleição presidencial, polarizada entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT, não influenciou diretamente a disputa política local, pelo governo do Estado. Os embates cingiram-se, então, à conjuntura estadual. O principal candidato ao governo pela oposição foi Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do então prefeito de João Pessoa, Luciano, que não tinha maior estofo político-ideológico para uma batalha com as proporções da que foi desencadeada no referido período. De resto, Lucélio já havia perdido uma campanha majoritária, para senador, em 2014, e teve como vice a doutora Micheline, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), o que prenunciou arranjo doméstico ou familiar que não empolgou setores médios, mais conscientes, do eleitorado paraibano. Pelo MDB, honrando a firma, concorreu mais uma vez o senador José Maranhão, que ficou em terceiro lugar. Abstraindo fatores subjacentes, havia a presença simbólica de um grande eleitor – Ricardo Coutinho, que optou por não concorrer ao Senado, apesar dos indícios de favoritismo, tendo permanecido até o último dia do mandato no Palácio da Redenção a pretexto de eleger João e derrotar Cássio.
Ainda não havia, no radar, a “Operação Calvário”, do Ministério Público, que cravou irregularidades de grande calibre a exemplo do desvio de recursos das áreas da Saúde e da Educação no segundo governo de Ricardo Coutinho. Inconclusa ainda hoje, a Calvário acabou compilando um farto dossiê, com acusações pesadas, que permanecem sendo apuradas dentro do esforço das autoridades policiais e judiciárias para desvendar o quebra-cabeças montado por trás de um esquema de corrupção sem precedentes na história da Paraíba. Esse tema passou distante das discussões agitadas no fragor da campanha de 2018, pelas razões óbvias, aqui já elencadas. E foi em meio a cenários confusos ou complicados para o próprio eleitor bem informado que deu-se a configuração das escolhas naquela fase, projetando os que souberam aproveitar bem os espaços que se ofereciam no imaginário popular para a formatação do desenho finalmente revelado. Veneziano contava com o “recall” da atuação parlamentar na Câmara Federal e Assembleia Legislativa e dos mandatos de prefeito de Campina Grande, com experiência que o credenciava a um posto de representação no Senado.
Para 2026, Veneziano ensaiou movimentos que foram deflagrados em 2022, quando assumiu o desafio de candidatar-se ao governo do Estado pelo MDB, chegando a saltar na frente de João Azevêdo e angariar o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Não avançou para o segundo turno, quando se compôs, por razões locais, com a candidatura de Pedro Cunha Lima, do PSDB – e não conseguiu impedir que Lula, já favorito na corrida contra Bolsonaro, declarasse apoio a João Azevêdo na reta finalíssima. Veneziano situa-se, hoje, em outro contexto na realidade paraibana, tendo estreitado a aliança com os Cunha Lima, o que já lhe garantiu promessa de apoio na luta pela recondução em 2026 ao Senado. Em outra frente, mantém canal privilegiado com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tem visibilidade como primeiro vice-presidente do Senado. Desses postos, procura empalmar atuação proativa, que mistura debate dos grandes temas nacionais com ações de carreamento de obras e serviços para o Estado da Paraíba. O páreo será renhido, mas Veneziano já lançou os dados na mesa e prepara a colheita para quebrar novamente uma escrita política em 2026, num painel em que se vê como reeleito a uma das vagas no Senado. Só o tempo dará a resposta.