Nonato Guedes
Natural de Serraria, o jornalista Wellington Farias, que faleceu, ontem, em João Pessoa, vítima de complicações do câncer, tinha um estilo polêmico na atuação profissional e costumava dizer que abominava o “jornalismo chapa-branca”, produzido com base em versões de assessorias de comunicação de governos. Como repórter, ele procurava se aprofundar na apuração dos fatos e produção das notícias, sendo rigoroso nas perguntas para elucidar qualquer sombra de dúvida que pairasse sobre a autenticidade do que levaria para o público. Ganhou notoriedade, justamente, por esse estilo, que se manifestou não apenas nas redações de veículos onde trabalhou mas em assembleias da Associação Paraibana de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, questionando diretorias de entidades sobre os interesses dos seus colegas.
Em depoimento a Jorge Rezende e Nara Valusca para o livro “Imprensa de Cada Um”, publicado em 1996 sob o selo da Editora Universitária, Wellington contou que depois de 18 anos de militância no jornal impresso, “impossibilitado de sobreviver com o piso salarial”, jogou tudo para cima e montou sua própria agência, considerando-se decepcionado com a profissão, principalmente com os baixos salários que eram pagos. Conforme ressaltou, houve exceções, como em “A União”, na época do governo Ivan Bichara Sobreira, indo até o governo de Tarcísio Burity, ambos no final da década de 1970. “Depois, A União foi transformada em repartição pública e o salário passou a ser de funcionário púbico, que é pior do que o de jornalista. Não sei como, mas consegue ser pior”, desabafou na época. Não obstante, avaliava que as condições de trabalho para o jornalista haviam melhorado, comparando que houve período em que as redações não dispunham nem de carro para o transporte de repórteres e fotógrafos que faziam a cobertura do dia a dia
Wellington era crítico quanto a pontos que destoavam da qualidade do jornalismo, explicando que não havia informação e que até aniversário era matéria de primeira página nos órgãos impressos. Mesmo assim, fazia uma concessão: “Inegavelmente os jornais são infinitamente melhores, mais bem feitos, mais bem editados”. Para ele, a imprensa era contemporânea do próprio processo de mudança verificado dentro da sociedade. “Antigamente, trabalhar em jornal era símbolo de status e não era para todo mundo. Gonzaga Rodrigues, Biu Ramos, eram considerados ícones da comunicação, mas agora não há mais ícones, todos são iguais, há profissionais à vontade”, pontuou, dizendo que a mão-de-obra era muito boa e se o Curso de Comunicação da UFPB não preparava muito bem os novos jornalistas, sempre existiam bons profissionais para ocupar o mercado de trabalho.
Queixava-se que no Curso de Comunicação eram raros os professores que haviam sido jornalistas, ou seja, atuado nas redações. “Não sou contra o Curso de Comunicação, mas sou contra a exigência do diploma. Isso não deve existir porque restringe a manifestação de pensamento. A natureza dessa profissão é diferente da de um médico. Acho que muita coisa tem que ser revista”, frisou no depoimento. A fala de Wellington foi pronunciada em meio a discussões acirradas entre os que eram denominados “jornalistas do batente” e “jornalistas universitários”, mas ele conviveu bem com profissionais formados na academia. Atribuía à ditadura militar a lei instituindo a obrigatoriedade do diploma para jornalista. “Essas leis são atos e resquícios de regimes militares, ditatoriais. No Brasil, por exemplo, o segmento que mais foi amordaçado foi justamente o da imprensa. Wellington mencionava como obra-referência a esse respeito o livro “Censura à Imprensa Brasileira: de 1968 a 1978”, de Marconi Paolo. Sobre o Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, abria um crédito de confiança para a então diretoria, “que tem enfrentado as empresas e brigado pelos dissídios da categoria”.
Em setembro último, Wellington Farias foi homenageado pela Academia Paraibana de Letras, em sessão dirigida pelo jornalista e escritor Helder Moura, quando falou, emocionado, sobre sua trajetória profissional e defendeu a liberdade de expressão. O evento constituiu agenda do Pôr do Sol Literário e registrou o lançamento de livros, com a participação de expoentes da cultura local como o escritor e editorialista Evandro Nóbrega. Desde que foi noticiada, ontem, a morte do jornalista Wellington Farias, inúmeras mensagens têm sido postadas em redes sociais ou enviadas à imprensa, por parte de autoridades, líderes políticos e autores renomados, ressaltando o caráter ético que assinalou a trajetória do profissional e os serviços que ele prestou à sociedade paraibana.