Nonato Guedes
A nova rodada de pesquisa do “Painel do Poder”, levantamento trimestral feito pelo “Congresso em Foco” com as principais lideranças da Câmara e do Senado, revelou que a cúpula do Parlamento considera o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) melhor que o de Jair Bolsonaro (PL). O levantamento tem como principal objetivo aferir o humor do Legislativo a respeito de temas sociais e econômicos, e a avaliação de Lula é mais positiva que a de Bolsonaro em sete dos dez itens submetidos à apreciação dos parlamentares, conforme matéria de Edson Sardinha no “Congresso em Foco”. As outras três áreas não são passíveis de comparação porque não constavam dos questionários aplicados em relação aos dois governos.
Em uma escala que vai de 1 a 5, em que quanto maior o número, mais alta é a aprovação, o relacionamento com o Judiciário (3,92) e com outros países (3,72) são os itens mais positivos da gestão de Lula, conforme a opinião de líderes no Congresso. A relação com o Poder Judiciário era o ponto com pior avaliação pelos parlamentares (1,61) no último levantamento feito no governo Bolsonaro, em dezembro de 2022. O combate à corrupção (2,88) e a área ambiental (2,80) são as áreas da atual gestão com notas mais baixas, tendo sido as únicas que ficaram abaixo da média, de 3 pontos. O aspecto mais bem avaliado do governo anterior, na pesquisa do final do ano passado, era a economia (3,01), a única a alcançar a média. Nessa nova rodada da pesquisa, a gestão econômica alcançou 3,33. Os únicos itens que não são passíveis de comparações são a saúde, que era tratada como gestão da pandemia nos levantamentos feitos na época de Bolsonaro, relacionamento com outros países, incluído nos questionários de 2023, e meio ambiente, adicionado em junho.
Um dos coordenadores do Congresso em Foco Análise, responsável pelo Painel do Poder, o cientista político Ricardo de João Braga considera que a melhor avaliação de Lula em relação a Bolsonaro no Congresso se explica por duas razões, ambas ligadas a uma forma “normal” de fazer política. Ele avalia: “Bolsonaro colocou-se como o antissistema e por isso cultivou uma relação de enfrentamento com o Congresso, ou, então, abdicação total em quase todos os temas. Já no âmbito da administração, seu desinteresse e mesmo política deliberada, desestruturou o trabalho em várias áreas de políticas públicas, como saúde, educação, meio ambiente. Faz parte do projeto da extrema-direita desestruturar ações públicas em várias áreas”. O cientista político ressalta que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por outro caminho, mais inclinado ao diálogo e ao respeito à autonomia do Poder Legislativo. “Lula retomou as relações tradicionais com o Congresso, mesmo que isso signifique tensas negociações, mas que são da natureza do processo, e também se preocupou em colocar pessoas responsáveis por reestruturar áreas importantes de política pública, com destaque, novamente, para as três áreas já mencionadas – a saúde, a educação e o meio ambiente”, acrescenta.
O relatório da pesquisa também indica estabilidade na avaliação do governo em relação a alguns itens. “De um modo geral, a atuação do governo Lula é percebida de modo mais favorável pelos parlamentares do que a atuação do governo Bolsonaro. Além do gráfico exibido na pesquisa, tal fato pode ser inferido a partir da observação das médias alcançadas. Nos temas combate à corrupção, economia, promoção da democracia, relacionamento com o Congresso e relacionamento com o Judiciário, a média apresenta-se estável, mas em valores superiores às médias do governo Bolsonaro. Nos itens saúde e educação, as médias estão crescendo e acima das médias do governo Bolsonaro (no caso da saúde, é importante ressaltar que as sondagens feitas ao longo do governo Bolsonaro questionavam sobre combate à pandemia de covid-19). O campo de relacionamento com outros países tem média crescente (não há base de comparação, uma vez que não era questionado nas sondagens que foram feitas durante o governo de Jair Bolsonaro”, diz um dos trechos do relatório. O único campo em que a média apresenta queda, ainda que pequena, foi o do meio ambiente, que também não permite comparação com a gestão passada por não haver a sondagem desse critério na época.
O relacionamento com o Judiciário foi o item mais bem avaliado, inclusive pela oposição, além dos independentes. Por essa avaliação, somada ao fato de que a oposição considera o combate à corrupção como segundo pior item no geral, pode-se compreender que o governo ainda não conseguiu se descolar de uma percepção de existência de corrupção, mas com viabilidade garantida por uma boa relação com o Judiciário. Essa percepção, a confirmar-se, configura situação de risco para a governabilidade, dada a história recente do país, adverte Ricardo. Para o cientista político, o governo também tem um grande desafio na área do meio ambiente, a pior avaliada pelo Congresso. “Desafiador, tendo em vista tratar-se de uma das áreas de maior exposição internacional, por conta da Amazônia. A ministra do Meio Ambiente talvez possa contribuir para essa avaliação. Entretanto, o segundo item melhor avaliado foi o do relacionamento com outros países, fundamentado nas viagens do presidente Lula e na boa repercussão do seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, acontecido ainda durante o período de coleta”, explica o relatório. O “Painel do Poder” é a única pesquisa no Brasil a ouvir exclusivamente os líderes políticos mais influentes no Congresso Nacional para avaliar as tendências predominantes na Câmara e no Senado quanto ao relacionamento com o governo federal e às políticas públicas.