Nonato Guedes
A ministra Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, foi escalada para tentar explicar à Paraíba que não houve cancelamento de R$ 18,8 milhões em dotações para o Estado, acrescentando que os valores apenas foram remanejados para outras ações e serviços do governo federal em áreas importantes como a atenção primária à saúde, atendimento hospitalar e obras de desenvolvimento econômico sustentável. Assegurou a ministra que em nenhuma hipótese foram prejudicados pleitos de interesse da população paraibana e que obras apontadas como prioritárias já teriam sido incluídas no novo PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, deflagrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre tais obras figuram o Arco Metropolitano de João Pessoa e a construção do Hospital das Clínicas e Traumatologia do Sertão, na cidade de Patos, por cuja execução tem se empenhado diretamente o próprio governador João Azevêdo (PSB), presidente do Consórcio Nordeste.
Apesar da presteza da ministra Simone Tebet em oferecer esclarecimentos, pelo menos de acordo com sua versão, à população paraibana, ainda reinam dúvidas e insegurança por parte de lideranças políticas, diante da suspeita de que os cortes teriam alcançado emendas parlamentares de integrantes da bancada do Estado no Congresso. O ambiente é de desinformação, com deputados baseando-se em “achismos” para tentar responder a cobranças legítimas da opinião pública que os elegeu. Este foi o caso do deputado federal Damião Feliciano (União Brasil), coordenador da bancada, que chegou a confessar sua grande surpresa com os cortes efetivados e a convocar uma reunião com todos os colegas para pressionar o Planalto a cumprir com o cronograma de demandas apresentadas. Mais radical no tom, inclusive, por compor a bancada de oposição ao governo Lula, na condição de aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Cabo Gilberto Silva acusou o governo do PT, incisivamente, de “enrolação”, advertindo que esta é uma prática contumaz das gestões de Lula da Silva.
O fato é que, para além de reações de desapontamento em meio à confusão de versões agitadas a respeito, há uma desconfiança quanto à firmeza dos verdadeiros compromissos do presidente Lula para com o Estado da Paraíba. O percentual reservado ao Estado no novo Programa de Aceleração do Crescimento, muito aquém das expectativas, já pareceu sinalizar desprestígio da Paraíba na comparação com Estados vizinhos, fartamente beneficiados. Atribuiu-se o descompasso à falta de maior empenho dos expoentes políticos paraibanos, na contramão da ampla mobilização encetada por bancadas e governantes de outros entes da própria região. Diga-se, de passagem, que junto a segmentos da sociedade paraibana é visível o mal-estar pela ausência do presidente Lula ou suposto desinteresse do mandatário em vir ao Estado cumprir agendas de repercussão concreta em benefício dos seus habitantes. Como se recorda, a única vez em que Lula esteve em território paraibano foi logo no começo do mandato, numa viagem a Santa Luzia para participar de evento da iniciativa privada, no qual não discursou nem dirigiu qualquer mensagem de otimismo para a população local.
Para compensar a ausência do presidente Lula na Paraíba, o Planalto idealizou estratégia focada no envio de ministros de diversas Pastas ao Estado em diferentes oportunidades, para anúncios de convênios com perspectivas de investimentos que contribuirão para o desenvolvimento local. Mas não há “recall”, junto à opinião pública, dos possíveis efeitos benéficos produzidos por essa romaria de visitas ministeriais à Paraíba, enquanto Estados como Pernambuco comemoram indicadores positivos de aceleração de crescimento, com implantação de nichos de fomento a oportunidades de geração de emprego e renda. O que se constata, na Paraíba, é um esforço sobrehumano por parte da administração do governador João Azevêdo para suprir carência de obras e investimentos do governo federal, utilizando-se de recursos próprios, aproveitando-se da aparente situação de equilíbrio fiscal e financeiro que a gestão assegura estar vivenciando, com reconhecimento reiterado por parte da Secretaria do Tesouro Nacional em relação a esse estágio de equilíbrio, que, ao mesmo tempo, demonstra responsabilidade e seriedade na missão pública.
Na prática, o Estado da Paraíba está recorrendo à contratação de empréstimos com organismos financeiros internacionais e se esforçando para viabilizar outras parcerias que evitem uma conjuntura de desequilíbrio, que certamente seria catastrófica para os rumos da segunda administração de João Azevêdo e para os interesses da população. A postura do governo federal é indiscutivelmente lamentável, sobretudo, pela falta de um diálogo mais transparente a respeito das dificuldades que estão sendo enfrentadas para implementar reivindicações que, lá atrás, haviam sido consensuadas com o Palácio do Planalto, dentro da meta inicial traçada por Lula de atender demandas específicas de unidades federadas. Estão todos em xeque, ou na berlinda: o governo federal, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo do Estado com o socialista João Azevêdo, e os representantes da bancada no Senado e na Câmara, que não conseguiram avançar no encaminhamento das pautas urgentes para a Paraíba. É injustificável que a gestão Lula venha a penalizar o nosso Estado, depois que o candidato-presidente recebeu votações consagradoras em dois turnos como crédito de confiança à sua atuação em prol da região.