Nonato Guedes
É fora de dúvidas que o deputado federal Gervásio Maia, presidente do diretório do PSB na Paraíba, agitou as hostes políticas no entorno do governador João Azevêdo ao deflagrar discussões com o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT) sobre o rumo das eleições a prefeito de João Pessoa em 2024. Cartaxo é da base de João Azevêdo na Assembleia e o PT tem expoentes participando da administração estadual. Mas, até prova em contrário, a posição do governador é de apoio à reeleição do prefeito Cícero Lucena (PP), mantendo-se na vice Léo Bezerra, que é do PSB. Embora conversas entre políticos sejam rotineiras, o diálogo Gervásio-Luciano destoou do “script” que vinha sendo ensaiado e recolocou no radar dúvidas sobre a fidelidade de compromisso dos socialistas com a pretensão de Cícero de conquistar um novo mandato.
Nada, porém, é gratuito na política. Como bem advertiu, ontem, o deputado estadual Hervázio Bezerra, pai de Leo e também filiado ao PSB, não há espaço vazio nesse terreno. Ele quis insinuar que tais movimentos só avançam, entre outras razões, porque o próprio prefeito Cícero Lucena não dialoga efetivamente com aliados socialistas. Na verdade, o grande e único fiador da candidatura de Cícero à reeleição dentro do esquema continua sendo o governador João Azevêdo, que mantém relação positiva de entrosamento em termos administrativos com o gestor da Capital e, pelo menos até agora, não cogitou em nenhum momento a hipótese de ruptura do pacto que teoricamente está consensuado. Pelo contrário, João tem procurado aplacar tentativas seguidas de lançamento de candidatura própria do PSB na Capital, desestimulando aspirações legítimas de nomes de proa do seu partido, como o secretário Tibério Limeira e desconsiderando outras sugestões de alianças que vão de encontro à lógica com que ele trabalha para o pleito do ano vindouro.
A postura de Gervásio parece ser uma reação à desenvoltura e liberdade com que Cícero se move no cenário político não só na Capital mas na Grande João Pessoa, com incursões por Cabedelo, onde tem canais com o prefeito Vítor Hugo (agora no Avante), adversário político do governador João Azevêdo. Embora João Azevêdo seja o principal líder do PSB no Estado, o presidente da legenda é o deputado Gervásio Maia, a quem cabe não ser omisso na tarefa de dar partida a articulações de bastidores para fortalecer o esquema que está no poder. Maia explicou, ontem, que não está atuando fora das quatro linhas das alianças políticas, lembrando que no plano nacional PT e PSB estão coligados, com o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, socialista, integrado à governabilidade e ocupando, cumulativamente, um ministério estratégico neste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por outro lado, Gervásio garante que o PSB não tem faltado com apoios ao governo federal em matérias do seu interesse na Câmara e no Congresso, o que reforçaria a ligação entre os dois partidos, apesar das informações de que o “Índice de Governismo” no Partido Socialista Brasileiro já foi mais expressivo e mais confiável para a gestão de Lula.
Por trás de todo o quiproquó armado, sobressai também o receio dos socialistas que são liderados de João Azevêdo quanto à perda de espaços do PSB na conjuntura política estadual. A precipitação de lançamento de uma chapa majoritária para 2026, com prioridade para o vice-governador Lucas Ribeiro (PP) como candidato a governador e a indicação do deputado federal Hugo Motta (Republicanos) para uma vaga ao Senado, minou os espaços do PSB, contemplado apenas com a provável candidatura do governador João Azevêdo à outra cadeira senatorial em disputa. Não se avançou na definição de nome para vice-governador daqui a três anos, mas é certo que o PSB ficará restrito mesmo à vaga de João para o Senado. No paralelo, o PSB praticamente fica “proibido” de lançar candidatura própria a prefeito em João Pessoa, apesar de ter quadros importantes, enquanto em Campina Grande é refém de uma articulação do Republicanos para atrair o ex-prefeito Romero Rodrigues e convencê-lo a enfrentar Bruno Cunha Lima. O PSB está atado, enquanto outras legendas da base de João Azevêdo se movimentam, projetam acordos ou alianças, esbanjam autonomia para participar ativamente do jogo.
Não é de todo estranha a articulação do deputado federal Gervásio Maia, que é cobrado pela própria cúpula nacional do PSB a contribuir com a capilaridade do partido na Paraíba, mediante obtenção de musculatura política-eleitoral que lhe possibilite triunfar na conquista de prefeituras em cidades e regiões estratégicas do território estadual. Com a reeleição do governador João Azevêdo e, sobretudo, com a sua vitória sobre o antecessor Ricardo Coutinho na encarniçada queda-de-braço pelo comando do PSB na Paraíba, forjou-se um ambiente natural de expectativa quanto ao fortalecimento do partido, na perspectiva de estar representado, também, em cargos relevantes na chapa majoritária. Mas a postura acomodada ou abúlica do PSB no sentido de avançar abre caminho para expansão de outras legendas e projeção de outros quadros políticos. É uma realidade que João, como líder partidário maior, precisa levar em consideração. Nos termos em que a situação está posta, a impressão é que o PSB está jogando a toalha. E, como se costuma dizer em política, time que não joga não tem torcida. É o que está, mais ou menos, na lógica do arrazoado que Gervásio proclama e que não encontra eco junto a quem, realmente, influencia a tomada de decisões no PSB paraibano.