Nonato Guedes
Hoje, em João Pessoa, o diretório regional do PSDB faz convenção para renovar seus quadros dirigentes, que terão pela frente o desafio de preparar a legenda para as eleições municipais de 2024 e fortalecê-la para assegurar, novamente, participação no pleito ao governo do Estado em 2026. O bastão será passado ao deputado estadual Fábio Ramalho, com raízes em Lagoa Seca, pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, quase um ano após este ter surpreendido os meios políticos paraibanos avançando para o segundo turno da disputa ao governo do Estado contra o governador João Azevêdo (PSB). A performance de Pedro naquele páreo quebrou alguns tabus, como o de que a Capital, João Pessoa, e o segundo colégio eleitoral, Campina Grande, decidiriam isoladamente o prélio majoritário. João Azevêdo foi “empurrado” para bolsões do interior do Estado, de onde extraiu votos para contrabalançar desvantagens inesperadas nos maiores centros. O meridiano da sucessão na Paraíba foi reconfigurado e o próprio governador reeleito admitiu, no calor do resultado: “Somos um governo municipalista; essa vitória foi dos municípios que estiveram comigo”.
No dia 30 de outubro de 2022, Pedro e João enfrentaram-se no segundo turno em ambiente de notório acirramento, já por causa da confirmação do segundo turno, já pela incógnita que passou a rondar o cenário, com a polarização definida entre o tucano e o socialista. Outros candidatos de oposição ficaram pelo meio do caminho no primeiro turno, como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que chegou a ter o apoio inicial do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, e o comunicador Nilvan Ferreira (PL), que concorreu como bolsonarista de carteirinha, atuando no entorno da candidatura do então presidente Jair Bolsonaro à reeleição. Pedro alcançou 47,49% dos sufrágios válidos – cerca de l.104.963, contra 52,51% de João Azevêdo, ou 1.221.904 votos. No cômputo para a presidência da República, Lula voltou a derrotar Bolsonaro na Paraíba, ampliando o total para 66,62% de sufrágios. Se para João houve o simbolismo de que ele se firmou como líder político no cenário local, para o ex-deputado Pedro Cunha Lima o resultado mostrou uma jornada promissora, atestando que ele foi longe demais na corrida, apesar de oscilações e obstáculos naturais que enfrentou.
A rigor, o panorama pré-eleitoral na Paraíba comportou, como de hábito, opções em série ou variáveis que não sobreviveram à hora da verdade. Pelo lado da oposição tradicional na Paraíba especulou-se bastante a provável candidatura do ex-governador Cássio Cunha Lima, só retirada de pauta no noticiário quando ele deixou claro que era perda de tempo apostar fichas no seu nome e que, pessoalmente, considerava vencido um ciclo da sua trajetória. Perdeu-se tempo insistindo na possível pré-candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, ligado ao “clã” Cunha Lima, para dar combate a João Azevêdo, apesar do fogo de artilharia constante insinuando acenos do esquema governista para Romero compor a chapa majoritária de João. Rodrigues matou a polêmica habilitando-se a voltar a concorrer à Câmara dos Deputados. Pedro, que já preparava o bloco para a reeleição à Câmara, aceitou o desafio e, contrariando análises apriorísticas, cresceu como pão-de-ló numa campanha dramática. O então deputado evitou tomar partido por candidaturas ao Palácio do Planalto e centrou fogo na discussão dos problemas do Estado, tornando-se, desde o começo, o principal antagonista de João Azevêdo na contenda.
Em grande parte, a candidatura de Pedro Cunha Lima ao Palácio da Redenção foi vitaminada com a presença, na sua chapa, do deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, como candidato a senador. Os dois jovens líderes políticos reeditaram a aliança que surtiu efeito em 2002, quando Cássio Cunha Lima conquistou sua primeira vitória ao governo da Paraíba e Efraim Morais abocanhou uma cadeira no Senado, destronando pesos-pesados da conjuntura local. Evidente que as campanhas eram distintas – e envolveu até peculiaridades intrigantes, como a estratégia do deputado Pedro Cunha Lima em se descolar do patronato familiar. “Cássio é Cássio, Pedro é Pedro”, repetiu inúmeras vezes, em debates, quando provocado por adversários políticos. Efraim Filho, que rompeu com o esquema do governador João Azevêdo, depois de sentir vacilação no apoio à sua candidatura ao Senado, confrontou-se com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que chegou a liderar o páreo mesmo estando inelegível, e com a então deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), lançada à última hora pelo esquema governista depois que Aguinaldo Ribeiro refugou a hipótese de concorrer, preferindo a tranquilidade da reeleição à Câmara. Efraim liquidou primeiro a fatura, em campanha memorável, e foi apresentado como troféu pela campanha de Pedro no segundo turno.
As condições objetivas que medraram no curso da campanha de 2022 – ou, no dizer de Pedro Cunha Lima, a concorrência desigual da máquina administrativa estadual pilotada por João Azevêdo, acabaram favorecendo a recondução deste no segundo turno. O governador reeleito contou, também, com declaração de apoio por parte de Luiz Inácio Lula da Silva, que já se afigurava como potencial vitorioso a um terceiro mandato na presidência da República. Pedro arrebanhou, ainda, o apoio de Veneziano Vital do Rêgo, que selou pacificação política entre grupos rivais que se digladiavam no horizonte político de Campina Grande. Mas os levantamentos informais que eram feitos indicavam que Pedro Cunha Lima já havia atingido o seu teto no páreo de 2022, saindo da eleição consagrado como líder emergente na conjuntura do Estado. Ao passar o bastão como presidente estadual do PSDB, Pedro não estará rompendo com a militância política. O cacife eleitoral que ele abiscoitou no ano passado é valioso demais para ser desprezado por quem quer que seja. Mas tudo ainda é especulação. O próprio futuro do PSDB no plano nacional é incerto, desde que ele deixou de polarizar a eleição presidencial com o PT, o que cria uma zona de sombra e alimentará muitas especulações até a nova rodada majoritária em 2026.