Nonato Guedes
Investido no comando estadual do PSDB, sucedendo ao ex-deputado federal e ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima, o deputado Fábio Ramalho enfrenta, juntamente com Camila Toscano e outros expoentes, o desafio de reposicionar a legenda no contexto da realidade política local, evitando a perda de espaços para outros partidos que aparentam oferecer perspectivas concretas de poder daqui para a frente. É certo que o PSDB ainda vive a embriaguez da “quase vitória” ao governo do Estado em 2022, quando Pedro garantiu passaporte para o segundo turno e deu combate renhido ao governador João Azevêdo (PSB), este bafejado, ao final, pelo seu prestígio e pelo reforço da máquina. Mas, objetivamente, aquele resultado foi isolado, de forma que os tucanos não o capitalizaram sozinhos, e o próprio histórico da legenda em duas eleições anteriores vinha apontando declínio do PSDB no cenário político majoritário no Estado.
É certo que tem contribuído para o enfraquecimento do PSDB a própria perda de espaço no cenário nacional, quando o partido deixou de protagonizar a polarização com o PT pela corrida à Presidência da República, suplantado pela emergência de um fenômeno episódico (Jair Bolsonaro), que empalmou suposta bandeira de protesto contra o sistema, apesar de originário do ventre desse sistema. A ascensão de Bolsonaro ao Planalto em 2018 significou um corte na desgastada estrutura política-partidária brasileira, prenhe de renovação e até mesmo de fatores mais empolgantes de motivação para engajamentos. Bolsonaro foi o produto de uma enganosa estratégia de marketing e subproduto da resposta de parcela expressiva do eleitorado ao imobilismo de lideranças políticas órfãs de representatividade, carentes de um porta-voz de qualquer vaga ou indefinida sensação de mudança. Era, por tudo isso, um notório candidato ao desastre na Presidência da República – e foi o que se viu no mandato solteiro que o ex-capitão enfeixou e que foi uma contrafação das promessas de renovação. O mito era falso, e o ungido não tinha preparo nem noção para fazer jus ao posto em que fora introduzido.
Já o PSDB protagonizou uma sarabanda patética na preparação dos próprios quadros para a eleição presidencial, consumido em fogueira de vaidades entre seus postulantes, o mais vistoso deles o então governador de São Paulo, João Doria, com carisma zero em regiões como o Nordeste. O partido desaprendeu, até mesmo, de conduzir prévias internas e democráticas que traduzissem expressão de vitalidade e exemplo de maturidade política, sem falar que foi obrigado a dividir governos de Estados importantes com outras legendas, algumas delas emergentes e forjadas para situações conjunturais, não para projetos consistentes de poder. Pedro Cunha Lima conseguiu sobreviver na Paraíba porque passou ao largo da disputa nacional e concentrou ênfase na realidade estadual, agitando questões que prenderam a atenção da opinião pública, sobretudo pelo estilo intimorato com que confrontou o governador João Azevêdo em debates de grande repercussão. Já aí, Pedro Cunha Lima credenciou-se a uma vaga num segundo turno, deixando para trás nomes que se apoiavam na dependência de líderes nacionais (Veneziano Vital do Rêgo, apoiado por Lula no primeiro turno, e Nilvan Ferreira, recomendado por Jair Bolsonaro).
Do novo presidente estadual do PSDB, Fábio Ramalho, diz-se que é um político “tarefeiro”, que gosta do papel de estruturar o partido, abrindo caminho para sua ascensão a espaços relevantes na correlação de forças. A despeito do desempenho positivo experimentado por Pedro Cunha Lima em 2022, o radar aponta para um PSDB sem representação na bancada federal da Paraíba, com uma bancada pequena na Assembleia Legislativa e, desde agora, sem candidaturas próprias a prefeito em 2024 nos dois mais importantes colégios eleitorais do Estado, onde Pedro foi bem votado – João Pessoa e Campina Grande. Na Capital, o PSDB tende a apoiar um ex-tucano que migrou para o “Podemos” a fim de facilitar sua sobrevivência – o deputado federal Ruy Carneiro, que também estará concorrendo pela terceira vez. Em Campina Grande, os tucanos se comporão com um outro ex-integrante e quadro de valor, o prefeito Bruno Cunha Lima, que se inclina por ingressar no União Brasil do senador Efraim Filho para legitimar candidatura à reeleição. Ou seja: nos dois centros mais destacados, o PSDB virá a reboque no próximo ano, por mais que os nomes apoiados tenham afinidades e até histórico de passagem pela legenda. Mas esta, na estatística fria dos números, não estará representada nas disputas.
São apenas alguns exemplos da situação difícil que o deputado Fábio Ramalho vai ter que administrar dentro da missão que se traçou de reposicionar o PSDB na conjuntura política e de poder que vigora no Estado da Paraíba. O contencioso é vasto e implica em tentar enraizar a legenda no novo cenário de diversidade que caracteriza o perfil da sociedade, inclusive, investindo fortemente na participação das mulheres que, conforme revelado pelo último Censo, são maioria esmagadora no país e, portanto, detêm poder de fala decisivo e alto-falante ampliado para suas causas, que se confundem com causas de interesse da sociedade como um todo. Fábio tem a esperança de contar com o reforço de Pedro Cunha Lima no traçado das coordenadas para os embates futuros, mas no íntimo sabe que terá que se coser com suas próprias linhas para executar um trabalho de doutrinação e de convencimento que resulte em oxigenação e fortalecimento do PSDB. Político com livre trânsito em diversas correntes, Ramalho terá que contar com habilidade redobrada para fazer frente à árdua tarefa de reconstruir o PSDB em novas condições de temperatura e pressão na Paraíba.