Nonato Guedes
Três expoentes bolsonaristas do PL paraibano decidiram acelerar a movimentação para debandar do partido e buscar abrigo seguro em outra legenda, em condições de participar ativamente das eleições municipais para prefeito de João Pessoa em 2024. O deputado federal Cabo Gilberto Silva chegou a propor à cúpula nacional do PL sua expulsão da sigla como mecanismo para não perder o mandato que conquistou nas urnas em 2022 e que traduziu votação expressiva para a Câmara. O deputado estadual Walbber Virgolino, por sua vez, mantém-se no aguardo dos acontecimentos, avaliando a sua própria condição política-partidária a fim de não sofrer consequências danosas. E o comunicador Nilvan Ferreira examina convites de diferentes partidos para viabilizar o porto ideal onde possa ancorar o barco de uma cogitada candidatura, novamente, a prefeito da Capital.
Em comum, o “triunvirato” insurgiu-se contra as direções estadual, presidida pelo deputado federal Wellington Roberto, e a direção nacional, comandada por Valdemar da Costa Neto, pela imposição de cima para baixo do nome do ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, como alternativa à sucessão em João Pessoa. O trio não reconhece legitimidade na imposição do nome de Queiroga e expõe em desfavor dele o fato de não ter tradição política, jamais tendo disputado mandatos eletivos, além de ter passado uma temporada ausente de João Pessoa, envolvido em outros compromissos profissionais e da vida pública. Houve tentativas de negociação, com proposta de realização de pesquisas qualitativas e quantitativas como critério para definição democrática de candidatura e para estratégia de mobilização do eleitorado bolsonarista remanescente na Capital paraibana, mas não houve avanço nas demandas nem tampouco houve interesse efetivo do ex-ministro da Saúde em abrir canais de diálogo que favorecessem a unidade.
O “triunvirato” começou, então, a ensaiar articulações para preservar seus próprios espaços, diante da ameaça iminente de ser surpreendido pela velocidade ou pela dinâmica dos acontecimentos políticos. Nilvan Ferreira, que em 2020 disputou o segundo turno a prefeito de João Pessoa e em 2022 concorreu ao governo do Estado pelo PL, deu a largada em conversas com o senador Efraim Filho, presidente do União Brasil na Paraíba, mas passou a ser sondado por outras legendas e deixou em aberto os entendimentos. O União Brasil é considerado um partido atrativo porque se fortaleceu com a eleição de Efraim ao Senado em 2022 e porque dispõe de valioso tempo de propaganda no rádio e na televisão, além de ser bem aquinhoado com recursos do Fundo Partidário. Lá predomina, porém, a centralização de comando do senador Efraim Filho, que é pule de dez para a disputa majoritária de 2026 – um pequeno óbice que talvez desmotive dissidentes bolsonaristas na corrida dramática por uma legenda. Efraim deixou claro que estava à vontade para conversar com Nilvan porque não tem compromisso com nenhum dos pretensos candidatos a prefeito em 2024, já que deles não recebeu apoio ao Senado no ano passado, mas sinalizou que exatamente por isso está liberado para conversar com quem quiser.
O trio se desdobra em movimentos de bastidores políticos, buscando construir a melhor alternativa ou a alternativa menos arriscada para o cenário de 2024, em que o esquema do governador João Azevêdo (PSB) promete atuar fortemente para reeleger Cícero Lucena (PP) à prefeitura, dentro de uma ampla coalizão que está sendo pacientemente tecida e que sacrifica ambições manifestas dentro do próprio bloco partidário liderado pelo chefe do Executivo. O esquema de João e Cícero mobiliza-se, também, para atrair figuras do PT e engajá-las no projeto de recondução de Lucena, embora conviva com o ativismo dos deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos para fazer valer a bandeira da candidatura própria, resgatando uma situação de protagonismo que o petismo já apresentou no passado. O PT municipal passou a contar com uma nova diretoria, presidida pelo advogado Marcus Túlio, que não é infenso à candidatura própria mas que luta para que ela seja combinada com viabilidade e condições de competitividade. Por enquanto as conversas têm se sucedido em várias frentes, sem maiores encaminhamentos de definição para o confronto eleitoral de 2024.
O ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já extraiu declarações oficiais de apoio à sua pré-candidatura a prefeito de João Pessoa por parte do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e tem estado em articulação constante com o presidente nacional Valdemar da Costa Neto e com a cúpula estadual. Ele já avisou que não vê necessidade de promover evento público de oficialização da sua pré-candidatura mas se dispôs a promover encontros ou seminários a pretexto de discutir a atual realidade sócio-administrativa da Capital paraibana e, em paralelo, oferecer soluções. Queiroga é tido como um quadro de valor intelectual mas continua sofrendo restrições por suposta falta de densidade eleitoral, o que poderia levar seu projeto a um grande desastre nas urnas no próximo ano. O “trio dissidente” evita polemizar com ele, até porque está focado em decidir seu próprio destino, dentro da perspectiva de conquistar o comando da prefeitura e destronar Cícero Lucena do mandato que atualmente empalma.