Nonato Guedes
O desfecho da briga pelo controle do PDT na Paraíba passou, para a opinião pública, a impressão de que houve uma queda-de-braço nos bastidores entre liderados do governador João Azevêdo (PSB) e apoiadores do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), embora ambos sejam parceiros de batalhas desde 2020 e mantenham discurso de afinidade e entrosamento, refletido na prática em ações administrativas conjuntas que são desenvolvidas. A rigor, a decisão da cúpula nacional pedetista foi “salomônica” ao manter o advogado Marcos Ribeiro no comando do partido no Estado, uma vez expirado o prazo de validade da comissão provisória designada para dar rumo à sigla. Mas é inegável que o bloco do governador se fortaleceu na nova composição da direção provisória, com a inclusão de três vice-presidentes que são ligados ao círculo do Palácio da Redenção.
Em meio às versões sobre suposta queda-de-braço entre os grupos de João e Cícero comentou-se muito a hipótese de que a mulher de Cícero, Lauremília, fosse investida na presidência estadual, como também ventilou-se, nos últimos dias, a possível ascensão do secretário de Infraestrutura, Deusdete Queiroga, do núcleo duro da gestão estadual, à chefia. O advogado-dirigente permanece como uma espécie de interventor da direção nacional com a missão de reestruturar o PDT e prepará-lo para ter capilaridade na disputa das eleições de 2024 e de 2026. No “fuzuê” armado sobre o destino do PDT, o deputado federal Mersinho Lucena, filho de Cícero, chegou a dizer que o pai não teria objeção caso aquele partido viesse a ser comandado por liderados fiéis ao governador. Se houve, então, ruídos de bastidores, como tem sido insinuado na mídia, essas questões precisam ser passadas a limpo, no interesse da própria manutenção da parceria construída lá atrás e tendo em vista, sobretudo, que Cícero deve ter habilidade para não perder apoios preciosos na jornada pela reeleição que enfrentará no próximo ano e que promete ser acirrada, tal como se deu lá atrás.
O dirigente do PDT que foi mantido, certamente inspirado na égide “salomônica”, voltou a abrir espaços para uma eventual integração de aliados de Cícero à agremiação, elogiando, em particular, a atuação de Lauremília Lucena, que foi vice-governadora do Estado. No frigir dos ovos, João Azevêdo e Cícero Lucena contam com outros partidos aliados em suas ambições pessoais – o primeiro, à frente do PSB e, agora, com o PDT no guarda-chuva e o segundo, que é do PP, tendo a tira-colo o Avante, que passou a ser presidido pelo prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo, seu aliado de confiança mas adversário do chefe do Executivo estadual. A questão do ajuste entre João e Cícero preocupa porque desde o final da campanha de 2022, quando o primeiro disputou a reeleição, vazam rumores de que o prefeito não teria se empenhado o bastante para arrebanhar votos para o socialista, o que foi testificado na votação surpreendente alcançada pelo adversário, Pedro Cunha Lima, no entorno da Grande João Pessoa. A exploração reiterada em torno desse episódio gerou uma “Sena” acumulada que, ao que tudo indica, não foi suficientemente esclarecida ou passada a limpo, embora, de público, o governador não passe recibo de qualquer ressentimento com o prefeito que vai tentar a recondução nas urnas proximamente.
Para apimentar o desaguisado, persiste o “fogo amigo” por parte de expoentes socialistas de João Pessoa, que não se conformam com o fato de o partido não ter candidato próprio a prefeito da Capital, que ainda repercute como o tambor político da Paraíba, apesar da última radiografia ter sinalizado uma guinada de influência por redutos do interior do Estado, que, como se sabe, asseguraram a vitória de João Azevêdo na hora da verdade contra Pedro Cunha Lima no segundo turno. O que salta aos olhos é o prolongamento da briga doméstica entre aliados, ocultando sinais de divergência que ficam contidos para não provocar um desmoronamento no esquema que até aqui tem sobrevivido. João Azevêdo, por outro lado, não quer dar espaço para os pescadores de águas turvas e sabe que eles estão atentos e sôfregos, dentro da meta de conquistar maiores nacos de poder junto ao governo do Estado. No fundo, para falar a verdade, o que se joga desde agora, com a antecedência que é característica da política paraibana, é o jogo de 2026, para o qual, inclusive, João precipitou-se em lançar três nomes à chapa – Lucas Ribeiro (PP) a governador, ele próprio e o deputado federal Hugo Motta (Republicanos) ao Senado. O “furdunço” só fez agitar-se a partir daí.
Sobre o histórico recente do PDT na Paraíba, cabe lembrar que desde a gestão Ricardo Coutinho ele esteve sob o império dos Feliciano, representado pela então vice-governadora Lígia e seu marido, o deputado federal Damião (hoje no União Brasil). Desprovido de papel mais relevante, de protagonismo, na cena estadual da Paraíba em 2022, o PDT acabou se compondo com a candidatura de Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo e lançando candidatura própria ao Senado do advogado André Ribeiro, que permanece na nova constelação de poder. É duvidoso que a curto prazo o partido tenha uma expansão avassaladora na Paraíba, mas o PDT é cobiçado pelo seu caráter simbólico, de legenda respeitável associada a Leonel Brizola, que se dedicou a formá-lo em momento de adversidade política quando, ao voltar do exílio, perdeu o controle do PTB na Justiça Eleitoral para Ivete Vargas. O grande nome de expressão, com a morte de Brizola, passou a ser o do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que nunca polarizou uma eleição presidencial, das que disputou no Brasil. Em todo caso, é um partido que, dependendo da condução futura, poderá crescer e pesar na balança política paraibana.