Nonato Guedes
Os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos concorrem entre si, dentro do Partido dos Trabalhadores, pela indicação de candidatura à prefeitura de João Pessoa em 2024, mas convergem num ponto: resistem à teoria de apoio do PT ao nome do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição mediante aliança com o esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB). A hipótese da candidatura própria petista na Capital ganhou força com a investidura do novo presidente do diretório municipal da legenda, advogado Marcus Túlio, que é comprometido com a bandeira. Por razões táticas, o novo dirigente municipal do PT assume o desejo de aprofundar consulta aos filiados petistas e a outros partidos da federação, como o PV e o PCdoB, que fazem parte da base de João Azevêdo. Mas já cravou que não é infenso à retomada do protagonismo da legenda.
Marcus Túlio, na verdade, procura ganhar tempo enquanto está sondando os humores da cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, a respeito do posicionamento a ser adotado nas eleições municipais do próximo ano. Gleisi e outros expoentes nacionais petistas têm falado em movimentos para fortalecer a sigla, que sofreu esvaziamento em meio a episódios rumorosos como o impeachment de Dilma Rousseff e a própria prisão de Lula em Curitiba, mas isto não significa fechar portas para entendimentos ou composições que forem viáveis, de preferência no campo da centro-esquerda. Em São Paulo, por exemplo, ganha vulto a articulação para selar o apoio do petismo à candidatura de Guilherme Boulos, do Psol, como parte da estratégia de resgate de promissórias eleitorais contraídas em 2018. Mas o caso de São Paulo é tratado à parte, dentro das peculiaridades do cenário local, o que dá margem para que soluções distintas venham a ser colocadas em prática nos diferentes Estados.
Em João Pessoa, o PT está flagrantemente dividido entre filiados que apoiam e até participam da administração de João Azevêdo e filiados que não se consideram alinhados, além de fazerem oposição declarada ao prefeito Cícero Lucena. Pessoalmente, a expectativa de Marcus Túlio é de que a definição seja materializada em janeiro, esgotadas as tratativas internas e no campo da centro-esquerda sobre a construção de uma frente comum com vistas a derrotar o bolsonarismo, que deverá ter as caras do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pelo PL, e do comunicador Nilvan Ferreira, por um partido ainda não anunciado oficialmente. Concorrendo por fora estarão outros nomes, como o do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que já tem o apoio do PSDB assegurado, conforme garantiu o ex-deputado Pedro Cunha Lima e tenta atrair o União Brasil, do senador Efraim Morais, que igualmente conversa com Nilvan Ferreira. Recentemente o governador João Azevêdo atraiu o PDT para a sua base de apoio, mas as coisas naquele partido ainda estão se arrumando em meio à alteração na comissão provisória que resultou em uma composição salomônica, prestigiando nomes ligados ao chefe do Executivo estadual.
Na prática, independente do calendário de tática e de organização eleitoral do Partido dos Trabalhadores, os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos movimentam-se ostensivamente na busca da ocupação de espaços, ora utilizando a tribuna da Assembleia Legislativa, ora valendo-se das redes sociais e de entrevistas em meios de comunicação, como emissoras de rádio. Os dois agitam temas que são considerados polêmicos e incômodos para a atual administração do prefeito Cícero Lucena e já conseguiram provocar o recuo em algumas intervenções planejadas pelo poder público, a exemplo da contratação de um projeto para engorda da orla marítima, que despertou, também, reações negativas de segmentos ambientalistas. A tônica das falas de Luciano Cartaxo e de Cida Ramos é a crítica à forma atual com que a Capital paraibana está sendo administrada e que, segundo dizem, não corresponde às expectativas ou anseios de mudanças efetivas na realidade local. Cida e Luciano sentem-se fortalecidos com a resolução do diretório municipal recém-empossado que abre oportunidade para a tese da candidatura própria.
Numa de suas últimas entrevistas, o deputado Luciano Cartaxo chegou a ser enfático, salientando que não há a menor possibilidade do PT vir a apoiar a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, cuja gestão acusa de imobilismo na solução ou no enfrentamento dos grandes desafios que afetariam o dia a dia da população pessoense. Por sua vez, a deputada Cida Ramos é igualmente contundente ao dizer que não abre mão do debate de um projeto alternativo próprio dentro do Partido dos Trabalhadores, como contraponto justamente à gestão que Cícero voltou a empalmar a partir da vitória no pleito de 2020. Ela menciona como exemplo a questão do transporte público, defendendo tarifa zero para João Pessoa, o que não está na pauta do dia a dia da equipe do gestor do Progressistas. No fundo, tanto Cartaxo como Cida Ramos empenham-se para provocar o chamado “fato consumado” dentro das fileiras da agremiação, e empreendem um trabalho de doutrinação junto à militância para convertê-la à ideia de que a chegada ao poder na Capital é viável. Luciano já foi prefeito duas vezes, mas não conseguiu eleger sucessor (ou sucessora) e Cida disputou apenas uma vez, com o apoio de Ricardo Coutinho, e não logrou vitoriar, tendo perdido justamente para Cartaxo.