Em seu blog na internet, o jornalista e procurador Sebastião (Tião) Lucena faz reparos à matéria assinada pelo jornalista Nonato Guedes e publicada, ontem, em “Os Guedes”, a propósito do transcurso dos 30 anos do caso Gulliver, quando o ex-governador Ronaldo Cunha Lima atirou contra o ex-governador Tarcísio Burity em restaurante da orla marítima de João Pessoa. Lucena ressalta que, ao contrário do que foi noticiado, Ronaldo Cunha Lima não abriu mão de imunidades parlamentares para responder a processo. “Fez exatamente o contrário: quando o seu julgamento caminhava para o veredicto, ele renunciou ao mandato de deputado federal, forçando, assim, a baixa dos autos para a primeira instância, já que ele se tornara um réu comum. Foi a partir da baixa que o processo se perdeu nos tortuosos e misteriosos caminhos da conveniência de cada um”, afirma Sebastião Lucena.
O jornalista e procurador também revela que a cobertura jornalística da época foi uma vergonha. “O Correio da Paraíba transformou Ronaldo em herói e Burity em agressor. Disse que Ronaldo atirara para lavar a honra ultrajada. Salvou-se o noticiário de O Norte, que encostou Ronaldo no canto da parede, mas, infelizmente, cedeu aos acenos irrecusáveis e a ofertas impublicáveis”, pontuou. Nonato Guedes era superintendente do jornal oficial “A União” e contou ter vivido um drama pessoal para tratar o assunto, tendo consultado a opinião de colegas que responderam não desejar estar na “sua pele”. Tião Lucena ressalta: “Vivi um drama menor do que o de Nonato na época, pois ele, superintendente do Jornal A União, tinha que pisar em ovos para noticiar o acontecido, já que trabalhava para o governo e o governo era exercido por um atirador”.
Sebastião Lucena revela que começou a escrever um livro sobre o episódio do “Gulliver”. E emendou: “Tenho dez capítulos prontos. Parei por aí. Arquivei o projeto e, a essa altura do campeonato, não sei se tenho mais energia para ir adiante”. E finalizou, no seu blog: “Fiz o registro em respeito aos leitores de Nonato e ao próprio Nonato, que decerto esqueceu o detalhe da renúncia e não tomou conhecimento da vergonhosa sessão do Supremo que acatou a farsa. Sem esquecer o cinismo daquele ministro que, na frente de Dona Glauce Burity (viúva de Tarcísio Burity), afirmou que Ronaldo atirou no seu oponente porque este, antes, puxara um revólver para ele”.
Em seu perfil no Facebook, hoje, ao tomar conhecimento das declarações de Tião Lucena, Nonato Guedes afirmou que seu colega “faz um reparo justo a matéria deste repórter” e “criticas pessoais que não pretendo responder”. Nonato conta que tem arquivos com declarações de Ronaldo Cunha Lima admitindo abrir mão da imunidade. “Se foi teatro ou não, é algo subjetivo. Nunca defendi Ronaldo no episódio. Tenho minha consciência tranquila diante das circunstâncias. Não é agora que minha biografia será tisnada. Abraços para Tião, que sempre admirei como jornalista”. Guedes ainda publicou uma foto sua com o governador Tarcísio Burity e ressalta que no livro “Política e Poder” foi ele que escreveu o perfil do ex-gestor. “Burity qualificou o texto como irretocável, não opondo qualquer correção. Tivemos diálogos constantes e a seu convite e de dona Glauce Burity frequentei sua casa em Camboinha para conversas intermináveis. Título do meu ensaio, a que dona Glauce ainda hoje se refere: “Tarcísio Burity: Um Homem Que, Segundo se Diz, tem Linha Direta com o Céu”.
A “Os Guedes”, Nonato comentou: “Acredito, sinceramente, que Sebastião Lucena deve levar à frente o livro já iniciado e fornecer informações valiosas que certamente possui. Sempre digo em conversas com amigos, historiadores e intelectuais, que o “incidente do Gulliver” requer um livro, seja imparcial ou parcial, a fim de que as versões se aclarem e a História possa ser reconstituída, diante da gravidade de que se revestiu e da repercussão que alcançou. O episódio, em si, foi condenável, mas, sobretudo, as novas gerações, precisam conhecer em detalhes o que aconteceu há trinta anos, para que não pereça a memória”. Sobre a hipótese de escrever um livro-documentário a respeito, Nonato Guedes afirma que nunca desistiu do projeto, “mas, para mim, não é sangria desatada”. Independente disso, considera que há muitas figuras que poderiam apurar ou acrescentar fatos novos a tudo o que aconteceu há três décadas.