Nonato Guedes
Ao ser ungido, ontem, como previsto, para ser pré-candidato da dissidência bolsonarista do PL à prefeitura de João Pessoa, acolitado pelo deputado federal Cabo Gilberto Silva e pelo deputado estadual Walbber Virgolino, o comunicador Nilvan Ferreira demonstrou que é obstinado na ambição de se eleger a um cargo majoritário e que ainda é quem aglutina votos num segmento das forças de direita que passaram a ter espaços na Paraíba, especialmente na Capital. Mas o cenário que se desenha para a eleição de 2024 não é propriamente um céu de brigadeiro para Nilvan nem há garantia de que ele consiga, de fato, envolver parcelas consideráveis da direita no seu projeto. Nilvan vem de duas derrotas seguidas, a prefeito da Capital e a governador do Estado, sofre restrições de alguns que o consideram “personalista” e terá que ter um partido com capilaridade para chamar de seu e respaldar a nova tentativa de ascender ao Centro Administrativo Municipal.
Versões indicam que em termos de opção partidária Nilvan oscila entre o União Brasil, presidido pelo senador Efraim Filho, com quem já abriu conversações, e o Novo, que estaria sendo intermediado pelo deputado Cabo Gilberto. Mas há outras siglas eventualmente interessadas ou disponíveis para acolher a nova jornada do comunicador, que já passou pelo MDB, pelo PTB e ultimamente pelo PL. O “triunvirato” bolsonarista dissidente comprou briga diretamente com as cúpulas nacional e estadual do PL, a primeira regida por Valdemar da Costa Neto, a segunda controlada pelo deputado Wellington Roberto. Por questão tática, o grupo evita assumir posição de confronto com o ex-ministro Marcelo Queiroga, até por conhecer as ligações estreitas que este tem com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas, nos bastidores, opera para neutralizar a participação de Bolsonaro na eleição de João Pessoa no próximo ano se este não tiver condições, como tudo indica, de encampar o nome de Nilvan filiado a outro partido. É uma guerra que está apenas começando e que vai render capítulos emocionantes daqui para a frente.
Nas eleições de 2022, o triunvirato dissidente do PL obteve 582.899 sufrágios, tendo sido Nilvan Ferreira o mais votado para o governo do Estado em toda a região metropolitana de João Pessoa no primeiro turno. Isto não foi o suficiente para ele avançar para o segundo turno contra João Azevêdo (PSB), que acabou tendo como adversário o ex-deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB. De resto, as eleições de 2022 foram marcadas por um corte epistemológico no quadro político paraibano, com os grandes colégios eleitorais como João Pessoa e Campina Grande deixando de decidirem a parada, que foi empurrada para os bolsões interioranas, onde João Azevêdo, com o reforço da máquina administrativa e o apoio de líderes influentes, conseguiu assegurar os sufrágios de que carecia para retornar ao Palácio da Redenção. Nilvan, apesar das suas origens interioranas, plantadas na cidade de Cajazeiras, no Alto Sertão, criou raízes políticas em João Pessoa e daqui fez a ponte com Campina Grande. Teoricamente tem expressivo “recall” de votos para dar partida a uma nova aventura – a questão é saber se terá fôlego para ir até o fim e ganhar.
Seja como for, foi dada a largada no campo da direita para as eleições à prefeitura de João Pessoa, faltando quase um ano para o confronto propriamente dito. A disputa pela atenção e pelo apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro tende a continuar no radar, até porque tanto Nilvan Ferreira quanto Marcelo Queiroga acreditam, piamente, que dependem da transferência de prestígio ou de cacife do ex-mandatário para surfar na onda eleitoral. É evidente que o ex-ministro Marcelo Queiroga larga em grande desvantagem, mesmo cogitado como candidato apoiado por Bolsonaro e pela ex-primeira-dama Michelle. Pesa contra ele o fato de não ter tradição de militância política na Paraíba, sobretudo em João Pessoa, e de ter ficado afastado por um bom tempo do próprio Estado. Ganhou visibilidade, mesmo, como ministro da Saúde, em meio à atuação ostensiva para deflagrar a campanha de vacinação em massa contra a covid-19, numa época em que o governo Bolsonaro parecia inteiramente perdido diante do agravamento da calamidade e desgastado, em paralelo, pela onda negacionista que passou a espalhar, num contraponto à Ciência e à Medicina.
Nem Nilvan nem Marcelo Queiroga possuem experiência administrativa específica, à frente de prefeituras importantes como a da Capital paraibana ou do governo do Estado. Em 2022, o nome de Queiroga chegou a ser lembrado, ora para concorrer ao governo, ora para disputar mandato ao Senado, ou a uma cadeira na Câmara Federal. Ele se apegou demais ao cargo e apostou muito alto na reeleição do presidente Jair Bolsonaro que, como se sabe, acabou entrando para a História política recente do país como o primeiro presidente não reconduzido desde que o instituto vigorou na Era Fernando Henrique Cardoso. A divisão nas forças de direita, remanescentes bolsonaristas, em João Pessoa, aparentemente abre espaço para avanço do prefeito Cícero Lucena na corrida pelas urnas. Mas, vale repetir, o cenário ainda está muito confuso para parecer preliminarmente definido. E é nessa perspectiva que o obstinado Nilvan tenta, mais uma vez, se firmar como líder político na Grande João Pessoa, quiçá no Estado da Paraíba.