Nonato Guedes
Um ponto já está definido: o MDB não terá candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições do próximo ano, um cenário que contrasta com o das eleições de 2020 quando o partido, sob a batuta do senador José Maranhão, já falecido, apostou fichas no nome do comunicador Nilvan Ferreira, que se revelou um fenômeno nas urnas e passou para o segundo turno contra Cícero Lucena (PP), o eleito. Veneziano não tem afinidades com Nilvan, que, aliás, deixou os quadros do MDB quando o senador ascendeu ao comando no vácuo deixado por José Maranhão. Na época, Nilvan ganhou impulso apresentando-se como “outsider” da política, desvinculado de esquemas familiares tradicionais, e daí seguiu uma trajetória cambiante, que só mostrou firmeza na sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem compartilha bandeiras direitistas.
Em recente declaração, Veneziano admitiu ter chegado à conclusão de que o MDB, na atual conjuntura, não tem quadros competitivos ou de expressão para disputar a prefeitura da Capital no pleito vindouro, apesar do esforço que ele tem empreendido para refortalecer a legenda, captando adesões em diferentes redutos, como aconteceu ainda neste fim de semana na cidade de Itatuba. A verdade é que o MDB perdeu protagonismo, principalmente, em João Pessoa, onde sempre foi atuante, mantendo-se em posição secundária na formação de chapas, um processo que se acentuou desde que Ricardo Coutinho emergiu como revelação, inicialmente dentro do PSB, na sequência filiando-se ao PT, com quem havia se desentendido lá atrás. No papel de comandante da agremiação, Veneziano procura ser realista na avaliação de conjunturas e, a nível de interior do Estado, trabalha com lançamento de candidatos onde isto é viável e com alianças, quando elas se impõem no contexto do panorama. Tem a consciência de que o refortalecimento do MDB é trabalho de “formiguinha”, acoplado aos espaços da sigla no plano nacional.
Em termos concretos, no que diz respeito a apoio a candidatos, Veneziano oscila, na Capital, entre a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição e a postulação do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos. Explica que se dá bem com Cícero e tem até carreado emendas para beneficiar João Pessoa, a despeito dele ter a chancela explícita do governador João Azevêdo (PSB), que já o havia apoiado na campanha eleitoral de 2020. Com Ruy Carneiro há diálogo e entrosamento, alimentado na convivência parlamentar travada em Brasília dentro do Congresso. Veneziano não menciona o PT nas cogitações porque esse partido ainda está indefinido sobre candidatura própria ou composição. Mas, particularmente, Veneziano se dá bem com pré-candidatos petistas lançados, como o deputado estadual Luciano Cartaxo, cuja esposa, Maísa, participou da capa do senador ao governo do Estado em 2022 no papel de candidata a vice, enquanto o ex-governador Ricardo Coutinho figurou como postulante ao Senado. Certo é que, para a direita, Veneziano não vai. O vice-presidente do Senado é aliado ostensivo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e crítico impenitente da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
As tratativas que estão se desenrolando darão o tom do posicionamento que o MDB adotará nas eleições a prefeito de João Pessoa em 2024, bem como as consultas internas que o senador Veneziano Vital do Rêgo já deflagrou, junto, por exemplo, a dois vereadores na Câmara pessoense e a outros líderes com influência na Capital. Com relação a Campina Grande, o posicionamento é mais claro e envolve compromisso de apoio à candidatura à reeleição do prefeito Bruno Cunha Lima, que aguarda a oportunidade de se filiar ao União Brasil presidido pelo senador Efraim Filho. Há especulações sobre provável contemplação do MDB na chapa de Bruno para concorrer ao segundo mandato, mas por ora são apenas especulações mesmo. Veneziano já tem assegurada a promessa de apoio do prefeito Bruno e do ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima ao seu projeto de ser reconduzido ao Senado em 2026. A “concertação política” entre Veneziano e os Cunha Lima estreitou-se no calor da campanha do ano passado, após convencionarem que o adversário comum era o governador João Azevêdo, que acabou reeleito.
Veneziano tem demonstrado consciência sobre a necessidade estratégica de reforçar o MDB na Paraíba como tática para dar capilaridade ao seu próprio projeto de reeleição ao Senado, levando em conta que a disputa àquela Casa em 2026 promete ser acirrada, já havendo duas candidaturas postas informalmente – as do governador João Azevêdo e do deputado federal Hugo Motta (Republicanos), este representando o Sertão e microrregiões influentes do Estado. O lançamento antecipado de João Azevêdo e Hugo Motta ao Senado, aliás, segue figurino traçado por Efraim Filho, que acabou se consagrando nas urnas mercê de um árduo trabalho de arregimentação e catequese de eleitores em 2022. Veneziano não fica atrás no ritual da antecipação porque a sua própria candidatura ao governo já fez parte de uma estratégia de massificação e de ocupação de espaços. As eleições municipais terão atenção especial porque estão interligadas à estratégia mais ampla focada em 2026 – e isto vale para Veneziano, como vale para outros líderes e partidos políticos que atuam na Paraíba.