Nonato Guedes
A confirmação sobre realização, em dezembro, de uma conferência nacional do Partido dos Trabalhadores para organizar metas com vistas às eleições de 2024 e, na sequência, às eleições de 2026, vem estimulando líderes petistas em João Pessoa a investirem na estratégia de candidatura própria, buscando atrair legendas de centro-esquerda. É nesse contexto que se situa o recente encontro promovido pelo presidente do diretório municipal do PT pessoense, advogado Marcus Túlio, que teve participação do dirigente municipal do PSB, o secretário de Administração, Tibério Limeira. Nas últimas horas, a deputada estadual Cida Ramos ressaltou que “o PSB será bem-vindo” desde que apoie uma candidatura do PT, onde ela se destaca como pré-candidata, juntamente com o deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi prefeito de João Pessoa.
O PT quer emplacar o maior número de prefeitos e vereadores na disputa do próximo ano em todo o país, embora não tenha definido, concretamente, o percentual a ser perseguido. Em 2020, o PT saiu bastante enfraquecido das eleições municipais, e, em João Pessoa, o seu candidato, Anísio Maia, que foi abandonado e lançado à própria sorte pela cúpula, ficou em último lugar, com uma votação ínfima. O próprio líder Luiz Inácio Lula da Silva, na ocasião, pediu votos para o candidato do PSB à prefeitura da Capital paraibana, que era o ex-governador Ricardo Coutinho, hoje realojado no PT. Marcos Túlio garante que, em caso de definição por candidatura própria não se repetirão os erros da campanha de 2020, lembrando que na época o racha interno era profundo e que isto impediu qualquer mobilização para viabilizar o consenso mínimo. Jackson Macedo, dirigente estadual, tem dito que a legenda precisa demonstrar maturidade daqui para a frente, apostando em candidatura própria que tenha viabilidade comprovada, para poupar-se de aventuras políticas que apenas agravariam o desgaste petista.
No pleito de 2020, o PT conseguiu eleger apenas 183 prefeitos, naquele que foi considerado o pior desempenho da agremiação desde 2000 no país. A sigla perdeu o comando de 71 prefeituras no comparativo com o pleito anterior. Agora, os petistas pretendem se apoiar na volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto para tentar retomar maior relevância nos cenários políticos municipais. A conferência nacional que está sendo articulada para dezembro deverá contar com a participação do próprio presidente da República como fator de motivação para engajamento maior da militância e para uma ativa mobilização com vistas a derrotar o bolsonarismo em redutos estratégicos em todo o território nacional. A conferência, teoricamente, está sendo convocada com o intuito de alinhar metas e estratégias eleitorais com pré-candidatos, originando a formação de um numeroso “exército” de filiados que estarão incumbidos de defender as conquistas implementadas no terceiro governo do presidente Lula, bem como doutrinar o eleitorado sobre a necessidade de impedir a volta de bolsonaristas às instâncias de poder.
O senador Humberto Costa, do PT-PE, que é coordenador do grupo de trabalho eleitoral do Partido dos Trabalhadores, afirmou ao “Poder360” que o foco do partido para 2024 serão as cidades com mais de cem mil eleitores e capitais. O presidente Lula, inclusive, já declarou que dedicará o próximo ano para viajar pelo Brasil e “visitar obras”. Segundo Humberto Costa, dentre as capitais que terão candidatos competitivos, a maioria está concentrada no Norte ou no Nordeste. Ele também fala em boas chances para candidatos do PT em Belo Horizonte (Minas Gerais) e Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Em resolução do PT, divulgada em agosto, o partido defende chapas “representativas” que devem ser construídas “com a manutenção de políticas afirmativas relacionadas especialmente às mulheres, à população negra, além da juventude, da população LGBTQIA+ e dos povos originários”. O cenário não impedirá que o partido abra mão da cabeça de chapa em alguns redutos, como São Paulo, para facilitar ou reforçar alianças. Na capital paulista, o PT já declarou apoio ao deputado federal Guilherme Boulos, do Psol, mesmo tendo em seus quadros postulantes que se insinuaram para concorrer às eleições municipais.
Um obstáculo para o avanço da aliança PT-PSB em João Pessoa é o compromisso do governador João Azevêdo, líder socialista, de apoiar o projeto de candidatura à reeleição do prefeito Cícero Lucena, que é filiado ao Progressistas (PP). O próprio Cícero, ao ser provocado a comentar articulações que estão se processando em outra direção, chegou a minimizar o teor dessas articulações, enfatizando: “Eu estou com João Azevêdo e João Azevêdo está comigo”. A relação entre o alcaide da Capital e o chefe do Executivo estadual, de fato, é a mais proativa possível, com parceria e entrosamento na implementação de obras e serviços e com gestões conjuntas para a solução de problemas e desafios mais urgentes de João Pessoa. Por enquanto, a direção municipal do PSB fala apenas em fortalecer a chapa proporcional, de candidatos a vereador. Não quer se confrontar com o governador João Azevêdo, embora, uma vez auscultada, tenha sua própria leitura a fazer do cenário que vai se fixando para 2024 no maior colégio eleitoral do Estado.