Nonato Guedes
Figura influente no Partido dos Trabalhadores a nível nacional, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o secretário de Economia Solidária do governo federal, Gilberto Carvalho, cumpriu agenda em João Pessoa e encontrou-se com expoentes do PSB, a exemplo do governador João Azevêdo e da secretária Pollyanna Dutra. Em declarações à imprensa, ele se revelou um entusiasta da aliança entre PT e PSB nas eleições municipais de 2024 em João Pessoa, observando que as duas legendas integram o campo progressista e democrático e, portanto, teriam afinidades no processo eleitoral vindouro. Propôs-se, inclusive, a mediar um encontro do chefe do Executivo paraibano com o presidente da República em que essa pauta possa constar das discussões, dentro da perspectiva mais ampla de combater as forças de direita agrupadas em torno da liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Carvalho é um conhecedor da realidade política paraibana, na qual mergulhou quando de campanhas eleitorais disputadas pelo líder Luiz Inácio Lula da Silva, de cuja articulação participou ativamente. Sabe, por exemplo, que o governador João Azevêdo mantém ótimas relações com o governo Lula e que, não obstante, possui compromisso de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição. Embora não considere o PP, propriamente, como integrante do arco progressista, ele entende as conveniências estratégicas do governador paraibano, inclusive, porque reconhece as concessões que o presidente Lula teve que fazer em nome da governabilidade, abrigando partidos do chamado “Centrão”. Numa das entrevistas que concedeu, à Rádio Arapuan, Gilberto Carvalho mostrou consciência plena de que o PT elegeu o presidente da República em 2022, mas, em contrapartida, os partidos do “Centrão” fizeram maioria no Congresso Nacional, estando Lula na contingência de negociar para governar. “Mas o governo tem deixado claro que há pontos inegociáveis nessa relação”, frisou Carvalho, atento às regras do processo democrático, que é a moeda corrente no país.
Amigo de Lula desde o movimento sindical no ABC paulista, Gilberto já foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República em gestões de Lula e, neste terceiro mandato, optou por ocupar a Secretaria de Economia Solidária, vinculada ao ministério do Trabalho. Foi nesse papel que ele veio prestigiar, a convite, a segunda Feira Nordestina da Agricultura Familiar e da Economia Solidária, no Espaço Cultural, em João Pessoa. Mas Gilberto Carvalho não perde de vista os contatos políticos nem se exime de emitir opiniões a respeito de cenários como o da Capital paraibana. Ele trouxe para o PT local a mensagem da cúpula nacional de que apoia o movimento ora deflagrado para viabilizar candidatura própria à sucessão na prefeitura, mas, ao mesmo tempo, admitiu que é do interesse da legenda uma aliança com o PSB do governador João Azevêdo. “Naturalmente nos interessa muito contar com o PSB em chapa que junte o campo progressista, porque a Paraíba é um Estado progressista”, pontuou Gilberto Carvalho, sem, contudo, imiscuir-se em análises ou críticas diretas à gestão do atual prefeito Cícero Lucena.
O governador João Azevêdo, que foi abordado por jornalistas, novamente, acerca do cenário eleitoral em João Pessoa, disse que está se tornando repetitivo na reiteração do compromisso de apoio que tem firmado com a candidatura do prefeito Cícero Lucena a um novo mandato. João Azevêdo chegou, mesmo, a divergir de segmentos do seu partido, o PSB, que estão defendendo o não-apoio a Cícero e o exame de outras opções mais próximas na conjuntura de João Pessoa. “Volto a insistir em afirmar que não sou um coronel político e que não atuo fazendo imposição a quem quer que seja, mas tenho firmeza nas posições que assumo. O que proponho é que haja um debate amplo e democrático sobre as possibilidades que se abrem no horizonte, dentro da estratégia de darmos combate ao atraso político e ao bolsonarismo”, expressou o governador socialista. Para ele, o diálogo entre forças políticas deve ser estimulado sob condições viáveis para os atores e para as agremiações em que militam na atual realidade.
Gilberto Carvalho confirmou que, da parte da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, têm sido feitos estudos de campo acerca das chances concretas de vitória do PT nas eleições de 2024 em Capitais importantes e, também, em cidades que constituem redutos estratégicos para táticas relacionadas não apenas ao processo eleitoral mas ao processo de administração propriamente dito. O secretário de Economia Solidária, numa das suas intervenções, não deixou de citar o próprio ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente baseado em Brasília e que, segundo ele, merece atenção especial pela sua lealdade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ocasiões difíceis da sua trajetória na vida pública. Tido por analistas como um “conciliador”, além de ser qualificado como articulador nato, Gilberto Carvalho é descrito pela mídia sulista como um dos políticos mais próximos do presidente Lula. Ele participou da criação do Partido dos Trabalhadores nos anos 80, no Colégio Sion, em São Paulo, e esteve ao lado do presidente Luiz Inácio quando ele foi preso em 2018. É, portanto, um interlocutor que tem prestígio e cacife junto ao Palácio do Planalto, daí a expectativa, na Paraíba, quanto aos próximos passos que o PT venha a encetar.