Nonato Guedes
O diretório municipal do PT em João Pessoa, presidido pelo advogado Marcos Túlio, deu partida ao processo de debate sobre quem irá assumir a bandeira da candidatura própria a prefeito da Capital em 2024, uma vez que a tese, em si, foi aprovada pacificamente, por maioria, descartando-se a hipótese de aliança em torno do prefeito Cícero Lucena, que pleiteará a reeleição. Entre os pré-candidatos, no Partido dos Trabalhadores, o mais articulado parece ser o deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi prefeito duas vezes consecutivas e que tenta sensibilizar os filiados petistas com o argumento da experiência para conduzir os destinos de João Pessoa, atestada, a seu ver, nas gestões que empalmou – embora, em 2020, Luciano não tenha conseguido transferir votos capazes de eleger sua candidata, a concunhada Edilma Freire, que havia sido secretária de Educação do município.
Além de Luciano, que já foi vereador e chegou a ocupar a vice-governança do Estado no período enfeixado por José Maranhão, já falecido, com a cassação de Cássio Cunha Lima em 2009, oferecem-se, dentro do PT, para disputar a prefeitura, a deputada estadual Cida Ramos, a ex-deputada Estelizabel Bezerra e a ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena. A tese da candidatura própria ganhou corpo na recente mobilização interna para renovar o diretório municipal, em que Marcos Túlio bateu, com folga, o então presidente Antônio Barbosa. Depois de empossada a nova direção, intensificou-se a pressão para consolidar o projeto autonomista, coincidindo com movimentos do governador João Azevêdo (PSB) para atrair o PT com vistas a apoiar a reeleição de Cícero. Essa hipótese sempre foi tida como remota, porque mesmo políticos como Cartaxo, que votam com o governo do Estado, fazem oposição a Cícero, alegando questões de princípio, mas, na verdade, legislando em causa própria, diante do seu interesse de voltar, consagrado, ao Centro Administrativo Municipal.
Tradicionalmente afeito a um calendário que precede as definições de candidaturas, alianças e táticas eleitorais, quer para a presidência da República, quer para a prefeitura de João Pessoa, o PT local sabe que terá uma árdua jornada pela frente, mesclada por intensas discussões e por divergências acirradas entre correntes que sustentam posição de entrechoque no guarda-chuva da legenda. A confiança em que vingará a candidatura própria está nos acenos feitos pela direção nacional do PT, presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann, nessa direção, como estratégia para fortalecer a agremiação e dar combate aos bolsões remanescentes do bolsonarismo. João Pessoa figura entre as Capitais a merecer atenção diante da perspectiva de homologação da candidatura do ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, o médico paraibano Marcelo Queiroga, a prefeito pelo PL, além da ameaça do comunicador Nilvan Ferreira em voltar a concorrer, por uma legenda que está para ser definida. Nilvan abriu dissidência interna no PL mas permanece fiel ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que os petistas e a esquerda em geral tentam varrer do mapa.
A eleição de 2024 para prefeito de João Pessoa tem tudo para ser nacionalizada, embora pré-candidatos como Luciano Cartaxo se esforcem para municipalizar o debate, o que lhe daria a oportunidade de atacar diretamente pontos vulneráveis da administração de Cícero Lucena e fazer, novamente, um contraponto que o beneficiasse na contagem final dos votos. Nos últimos dias andou por aqui o ex-secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, que viu com bons olhos a perspectiva da candidatura própria do PT a prefeito e ofereceu-se para mediar até mesmo uma conversa entre o governador João Azevêdo e o presidente Lula, com quem tem linha direta, com o fito de ajustar as velas e definir pontos de convergência para a batalha que se aproxima. Até aqui o governador tem sido incisivo na reiteração do seu compromisso de apoio a Cícero Lucena, reforçando os laços de uma parceria que construíram a partir de 2020. Mas o desenho de João não oferece nada ao PT – a vaga de vice continuaria com o PSB, que é o principal partido do chefe do Executivo estadual. É nesse vácuo que os pretendentes petistas identificam margem de manobra para levar à frente a candidatura própria, pelo menos no primeiro turno.
O ex-prefeito Luciano Cartaxo é otimista e acredita que, sendo indicado pela militância petista para representar as cores da legenda, estará a meio caminho de avançar para o segundo turno e, nesse contexto, infligir derrota ao prefeito Cícero Lucena. Outros líderes petistas admitem que o cenário não é tão garantido como parece nas projeções ou idealizações de postulantes que ambicionam a indicação. Reconhecem, inclusive, que só tem sentido o PT lançar uma candidatura própria a prefeito se ela for revestida de densidade eleitoral, em condições de fazer frente às duas máquinas (estadual e municipal) que respaldarão as pretensões do prefeito Cícero Lucena e, ainda por cima, minar os espaços da direita bolsonarista que se dividirá entre Marcelo Queiroga, Nilvan Ferreira e o deputado federal Ruy Carneiro, outro que tentará mais uma vez ascender ao Paço Municipal. Até 20 de janeiro terá que haver um consenso interno dentro do PT – do contrário, o partido apelará às prévias. Cartaxo tenta usar de habilidade para unir a legenda e ser ungido por consenso. Isto vai demandar muita conversa, o que é característico do PT, conhecido por célebres embates na história política da Paraíba ao longo dos anos.