Nonato Guedes
Pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido Liberal, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, atraiu reforços nas últimas horas para a “guerra” que trava com dissidentes bolsonaristas na Paraíba, a exemplo do comunicador Nilvan Ferreira, também postulante à prefeitura e os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual), que contestam a imposição de nomes para a disputa na direita. O general Braga Neto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição, derrotada por Lula, e o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, foram explícitos nas declarações de apoio à pretensão do ex-colega de equipe durante passagem pela Capital para participar de um evento articulado por Queiroga. Braga Neto admitiu, mesmo, a vinda de Bolsonaro para o palanque do seu ex-titular da Saúde na campanha do próximo ano.
Gilson Machado, por sua vez, botou lenha na fogueira ao mandar recados aos dissidentes que estão em vias de migração para outro partido mas não abandonam Bolsonaro. Chegou a dizer, referindo-se ao Cabo Gilberto, que ele não teve um voto para deputado porque a votação dele foi toda de Bolsonaro, aludindo ao prestígio pessoal do ex-presidente cuja imagem foi utilizada pelo parlamentar paraibano para chegar à Câmara. Machado acirrou ainda mais os ânimos com esta provocação: “Baixa o facho todo mundo e vamos apoiar Queiroga”. Para ele, a definição de candidatura a prefeito de João Pessoa na seara bolsonarista está “pacificada” em torno do nome do ex-ministro da Saúde, que, conforme disse, tem a inteira confiança e solidariedade do ex-presidente da República, além de ser qualificado para administrar a Capital, pela experiência demonstrada em plena pandemia de covid-19, quando deflagrou maciça campanha de vacinação no país.
Também foi lembrado por Gilson Machado que ex-expoentes do bolsonarismo, a exemplo do ex-deputado federal paraibano Julian Lemos e da ex-deputada Joice Hasselmann, foram triturados nas urnas quando entraram em colisão de rota com as determinações da cúpula nacional ligada ao ex-mandatário e que é presidida por Valdemar da Costa Neto. Na sua opinião, esses casos deveriam servir de advertência, sobretudo para o deputado federal Cabo Gilberto, quanto a ter cuidado para não perder espaços junto ao eleitorado conservador. A vinda dos ex-ministros, como se previa, apenas acirrou os ânimos na conjuntura política paraibana no segmento da direita, possibilitando, da parte deles, a constatação de que é absolutamente inviável qualquer ensaio de entendimento com os que se opõem a Queiroga. Por outro lado, foi reiterado, expressamente, que a nível partidário não há espaço para contestação ao nome do ex-ministro da Saúde, que não só permanece obstinado no projeto de ser candidato a prefeito como demonstra estar avançando na formatação da estratégia da campanha, focada na defesa do “legado de Bolsonaro” e na apresentação de propostas para um novo modelo de gestão em João Pessoa. Essa estratégia envolve a promoção de seminários a pretexto de colher sugestões para subsidiar um plano de governo de Queiroga na disputa.
Ainda encastelados na dissidência e obcecados pela contestação a Queiroga, Nilvan Ferreira, Gilberto Silva e Walbber Virgolino tentam, de público, desqualificar a postulação do ex-ministro da Saúde, baseando-se em dois pontos que têm sido bastante explorados: a alegada falta de densidade eleitoral do postulante e o seu desconhecimento da realidade de João Pessoa, principalmente dos problemas que se agravaram nos últimos anos, pelo fato de ter atuado por um bom tempo em grandes centros fora do território paraibano. Queiroga tem insistido em registrar que foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e que participou de debates no próprio Congresso Nacional sobre temas relacionados à saúde pública, coroando sua trajetória com a convocação que recebeu do então presidente Jair Bolsonaro para comandar a pasta da Saúde, em meio à rotatividade de ocupantes que alcançou, até mesmo, uma figura do meio militar, o general Eduardo Pazuello, que cumpria ordens do presidente da República, sem sequer polemizar sobre o caráter negacionista de algumas das decisões, adotadas, sobretudo, na fase crítica da pandemia de covid que assolou o território brasileiro. Queiroga é considerado porta-voz legítimo de Bolsonaro.
No que diz respeito aos dissidentes do PL que contestam a pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, o que se nota é que eles já não discutem mais a questão da permanência no partido ou o capítulo do suposto apoio a Marcelo Queiroga. São pontos que consideram vencidos. Em termos partidários, estão em conflito com o presidente nacional Valdemar da Costa Neto e com o dirigente estadual, deputado Wellington Roberto. O apoio a Queiroga é absolutamente impossível. Walbber Virgolino mencionou, ontem, pesquisas que apontariam o ex-ministro com 3% das intenções de voto junto a parcelas do eleitorado pessoense, o que seria um indicativo da dificuldade que ele terá para avançar na corrida eleitoral do próximo ano. O trio continua fechado com Nilvan Ferreira, escolhido para novamente concorrer à prefeitura, mas luta, pelo menos, para manter canal com o ex-presidente Bolsonaro, a fim de tentar se beneficiar da influência de votos residuais que ele ainda possa ter. Mas, pelo script verificado ontem, o nome do ex-presidente é mesmo Queiroga, em cujo palanque deverá estar se não houver fator superveniente que altere bruscamente o rumo dos acontecimentos na Paraíba.