Nonato Guedes
Numa entrevista considerada estarrecedora à “Revista Fórum”, o deputado federal paraibano Lindbergh Farias (PT-RJ) voltou a pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mudar a relação com o Congresso Nacional. Disse que os ataques de parlamentares ao Supremo Tribunal Federal, que chegaram ao ápice nesta semana com a votação da PEC limitando decisões monocráticas da Corte, têm um objetivo claro: evitar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seja preso em virtude de sua influência nos atos golpistas do dia 8 de Janeiro. Lindbergh propôs que é necessário, nesse momento, justamente, que se faça uma aliança para defender a democracia a partir da defesa do Supremo em relação aos ataques. “Porque, na minha avaliação, em conversas que tenho em Brasília, é isso (ameaça à democracia) que está por trás de todas essas propostas contra o Supremo”, adiantou.
Lira defende mudança na relação, especialmente, com a Câmara dos Deputados, comandada por Arthur Lira (PP-AL), “que está à frente de uma base grande do bolsonarismo histriônico”. E emendou: “Tem uma base ali, daquele bolsonarismo histriônico, que é uma base grande. E o Lira se aproveita dessa coisa para fazer uma política de “faca no pescoço” com o governo do presidente Lula”, asseverou. O deputado alertou que o presidente da Câmara busca estender para os dias atuais os mesmos poderes que teve durante a gestão de Bolsonaro, e tem feito reiterados achaques ao governo atual para dominar a estrutura política. “Ele está entrando em prerrogativas do Poder Executivo. Ele (Lira) é insaciável nesse aspecto. Ganhou a presidência da Caixa mas trabalha deliberadamente para prejudicar o governo Lula”, salientou Lindbergh Farias, que ainda cita Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, como agente do bolsonarismo que atua, infiltrado, nas entranhas do governo.
– Para mim, todo esse ataque ao STF é pelo julgamento do 8 de Janeiro e é pela possibilidade de prisão de Jair Bolsonaro. Eles sabem que isso está para acontecer e que não tem jeito. A delação do coronel Mauro Cid coloca Bolsonaro como grande articulador do dia 8 de Janeiro. Eles estão vendo isso e estão se antecipando, numa cruzada contra o Supremo – analisou o deputado, observando que a cruzada desencadeada visa a intimidar os integrantes da mais alta Corte de Justiça do país. Somente uma mobilização articulada das forças democráticas, entende Lindbergh, pode deter essa orquestração em andamento. O deputado ainda afirmou não entender o voto de Jaques Wagner, líder do PT no Senado, a favor da PEC de Oriovisto Guimarães, do Podemos-PR, que colocou amarras nas decisões da Corte e abriu uma crise institucional entre os Poderes. “Eu considero um grande erro o Jaques Wagner ter votado a favor disso”, disparou Lindbergh Farias.
O deputado pelo PT do Rio de Janeiro disse que “ainda bem que os senadores do PT fecharam questão e votaram contra, bem como o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues. “Mas foi ruim o resultado. Parece o seguinte: teve um enfrentamento na defesa da democracia e o Supremo teve um papel porque Bolsonaro tentou o tempo inteiro tirar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro”, avaliou. Ele ainda chamou a atenção para a ligação do bolsonarismo com uma “facção” extremamente violenta da ditadura, capitaneada pelo general Sylvio Frota, ministro do Exército do governo de Ernesto Geisel, que seria o articulador do atentado ao Riocentro durante a ditadura militar, por ocasião de um show artístico. “É a mesma turma. Se a gente vai ver, os personagens são os mesmos”, continua Lindbergh Farias, lembrando que o general Augusto Heleno, que foi ministro do Serviço de Informação no governo de Jair Bolsonaro, atuou no gabinete de Frota no regime militar, e, como ele, outros remanescentes da ditadura têm ligação intrínseca com a prática de atos antidemocráticos que foram disseminados na Era de Jair Bolsonaro e que produziram impasses e um ambiente de tensão permanente entre os Poderes constituídos em Brasília.
O senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo Lula no Senado, foi às redes sociais explicar o voto que proferiu favoravelmente à Proposta de Emenda Constitucional que restringe as decisões monocráticas tomadas na esfera do Supremo Tribunal Federal. A aprovação da medida foi amplamente comemorada por setores da extrema direita e bolsonaristas, enquanto o voto do senador Jaques Wagner deixou muita gente perplexa, sobretudo nas hostes petistas e da esquerda. Lindbergh Farias escreveu: “Chancelar essa manobra oportunista do Rodrigo Pacheco e do Davi Alcolumbre, que querem fazer média com bolsonaristas, é um erro. Parabéns aos senadores do PT e ao líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, que votaram contra esse absurdo”.
Jaques Wagner, por meio de suas redes sociais, justificou que seu voto foi “estritamente pessoal”, fruto de acordo que retirou do texto qualquer possibilidade de interpretação de eventual intervenção do Legislativo”. Posteriormente, Jaques Wagner afirmou que, como líder do governo, reafirmou a posição de não orientar voto, uma vez que o debate não envolve diretamente o Executivo. O clima ainda é de mal-estar em Brasília, sobretudo nas hostes oficiais ligadas à base do presidente Lula, apesar de Jaques Wagner ter garantido que está comprometido com a harmonia entre os Poderes da República e que tem total respeito ao Judiciário e ao STF, considerando este um fiador da democracia brasileira e guardião da Constituição.