Nonato Guedes
Com a perspectiva de realização de prévia, em janeiro, para escolher o candidato do PT a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024, o clima é de alta voltagem nas hostes petistas e se acirrou com uma declaração do presidente estadual da legenda, Jackson Macedo, de que a deputada Cida Ramos tem mais identidade com as pautas partidárias do que o deputado Luciano Cartaxo, que também postula a indicação. Jackson insinuou que há uma preferência maior entre membros do partido por Cida, pela coerência de posições na sua trajetória, enquanto Cartaxo teria vacilado em momentos difíceis enfrentados pelo PT. Em nota divulgada ontem, Cartaxo deu o troco e insinuou suposta ligação de Jackson com a gestão do atual prefeito Cícero Lucena em troca de garantir a reeleição do seu irmão, o vereador Junio Leandro, que, inclusive, é filiado a outro partido, o PDT.
O tiroteio entre Jackson e Cartaxo tem se dado em programas de entrevistas de emissoras de rádio de João Pessoa. A decisão final sobre a candidatura do PT à sucessão na Capital será da Executiva Nacional, presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann, do Paraná, mas o diretório municipal pessoense, que passou a ser presidido pelo advogado Marcos Túlio, terá a incumbência de preparar a organização da prévia e a definição de tática eleitoral para o próximo ano. O único ponto inquestionável diz respeito ao lançamento de candidatura própria dentro do PT, descartando-se a hipótese de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena que tem o apoio do governador João Azevêdo (PSB). Além de Cartaxo, que foi prefeito por duas vezes, e de Cida Ramos, deverão concorrer à indicação a ex-deputada estadual Estela? Bezerra e a ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena. O páreo está, visivelmente, polarizado entre Luciano e Cida (esta já foi candidata a prefeita, em 2016, mas perdeu justamente para Cartaxo).
Na nota que divulgou em resposta a Jackson Macedo, Cartaxo cantou vitória antecipada na disputa interna ao afirmar: “Jackson Macedo deveria trabalhar para fortalecer o Diretório Estadual ao invés de oferecer opinião sobre os rumos da candidatura municipal em João Pessoa, onde temos verdadeiramente chances reais de vencer as eleições”. Na noite de ontem, falando ao programa “60 Minutos”, da Rádio Arapuan, depois de ler a nota de Cartaxo, Jackson Macedo informou que decidiu tomar partido no confronto municipal e que irá trabalhar junto às bases e à militância para apoiarem a pré-candidatura da deputada Cida Ramos, por considerá-la confiável e identificada com a agenda do PT, tanto no plano nacional como na conjuntura paraibana, sobretudo, em João Pessoa. Macedo desfiou um rosário de alegadas incoerências de Cartaxo, frisando que ele não se empenhou pela campanha de Fernando Haddad à Presidência da República em 2018 nem pela de Lula em 2022 tanto quanto a deputada Cida Ramos, que foi presença ativa em manifestações em portas de fábricas, no meio da rua e em eventos de grande repercussão nesses embates.
O dirigente estadual do PT mencionou, ainda, alianças feitas por Cartaxo, em seu currículo, com forças conservadoras, bem como a atitude do ex-prefeito desligando-se do Partido dos Trabalhadores no episódio da denúncia do escândalo do mensalão, que causou desgaste à agremiação. Lembrou, ainda, Jackson Macedo, que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi contra a absorção do retorno de Cartaxo às fileiras do petismo depois de ter militado em legendas como o PSD e o PV, somente contemporizando diante de gestões feitas por figuras do comando local, como o próprio Jackson, para que tal desideratum fosse efetivado. Na avaliação do presidente estadual, o nome do partido em João Pessoa deve representar a militância do partido, as minorias e o legado petista, o que, a seu ver, se encaixa mais no perfil de Cida Ramos, que apoiou, por exemplo, mobilizações de docentes, de estudantes universitários, de ativistas de movimentos sociais como LGBTQIA+ e trabalhadores de diversos segmentos da população. “Diferentemente de Cida, Luciano Cartaxo tem sido omisso nessas intervenções ou manifestações. Com todo o valor que ele tenha, a deputada Cida Ramos tem mais identidade com o campo progressista e popular”.
A disputa dentro do PT em João Pessoa é marcada, também, por controvérsias sobre números de pesquisas de intenção de voto atribuídos a filiados da legenda que têm pretensões de concorrer às eleições do próximo ano. Um levantamento polêmico foi divulgado pelo próprio diretório nacional do Partido dos Trabalhadores e sinalizou percentuais ínfimos – em torno de 2%, tanto para Luciano Cartaxo como para a deputada Cida Ramos, esta com índice menor ainda. A abertura do calendário pré-eleitoral no PT paraibano tem agitado as hostes do partido e produzido articulações de bastidores em meio à guerra de guerrilha travada entre pretendentes. A deputada Cida Ramos já chegou, numa entrevista, a duvidar da firmeza de posições do seu antagonista, Luciano Cartaxo. Ontem, na Rádio Arapuan, Jackson Macedo admitiu, porém, que se Cartaxo for o ungido, agirá partidariamente, engajando-se à sua campanha para tentar voltar ao comando da prefeitura de João Pessoa.