Nonato Guedes
Após a derrota nas eleições de 2022, o PSDB tenta se reinventar e ganhar fôlego para as eleições municipais de 2024 no país. Ontem, na convenção nacional da sigla em Brasília, em meio a divisões e disputas internas, o partido tucano escolheu o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, como novo presidente nacional, depois que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, abriu mão de ficar à frente do comando. A eleição constituiu uma nova tentativa dos tucanos de retomar a relevância e influência já exercida a nível nacional. Em 2022, o PSDB conquistou vitórias isoladas em Estados, como o Rio Grande do Sul, na disputa ao governo. Na Paraíba, o candidato da agremiação, ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, conseguiu avançar para o segundo turno contra João Azevêdo (PSB), sendo derrotado por este.
Os discursos de ontem na convenção do PSDB citaram a derrocada do partido, com queda no número de eleitos na última disputa. No entanto, os filiados também indicavam que o PSDB pode se reerguer e que as eleições vindouras seriam um caminho para isso, aumentando a base do partido em prefeituras. “O Brasil precisa do PSDB”, disse o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, que reapareceu no cenário depois de um período de ostracismo político. O líder da bancada na Câmara, Adolfo Viana, expressou apoio a Marconi Perillo confiante em que ele poderá soerguer a agremiação. “De fato, perdemos número. Mas agora em 2024 precisamos olhar para a base”, comentou Viana, enfatizando que as eleições do próximo ano serão fundamentais para o PSDB voltar a ganhar musculatura. O nome do ex-senador e ex-presidente da sigla José Aníbal (SP) chegou a ser cogitado, mas os caciques partidários entraram em acordo em torno do nome do ex-governador de Goiás, que foi o primeiro a ser considerado depois de Eduardo Leite se afastar.
De acordo com o “Congresso em Foco”, Marconi tem um bom relacionamento com os principais líderes do PSDB, inclusive, com Aécio Neves (MG). Apesar do tom amigável na convenção, o acordo demandou muito diálogo e até o início da noite de quarta-feira, 29, ainda não havia sido fechado. “Coloquei minha candidatura. Eu não acho que disputa divide”, explicou Aníbal, adiantando que o partido tem unidade mas, no momento, não tem âncora. “O PSDB está um pouco perdido nesse panorama político”, declarou. Conforme analistas políticos, os tucanos começaram a bater cabeça depois do surgimento do fenômeno Jair Bolsonaro (PL), que ocupou espaços de forma vertiginosa, apresentando-se como suposto “outsider” da política e bateu nas urnas, em 2018, Fernando Haddad, do PT, lançado no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso. Durante um bom tempo, PT e PSDB polarizaram as disputas presidenciais no país, com nomes como os de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, mas apenas FHC chegou ao poder, conseguindo reeleger-se em 1998, quando o instituto da recondução ao executivo estava em pleno vigor.
Apesar dos mais de um milhão de filiados ao partido, o novo diretório nacional do PSDB foi eleito numa convenção que teve, no total, 214 votos – sinal mais do que eloquente do processo de esvaziamento experimentado pelo ninho tucano. Foram 208 votos a favor da chapa única apresentada para determinar o futuro do partido no ano de 2024. Para o PSDB Mulher, a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, ganhou o comando da ala. Já o Tucanafro, Secretariado Nacional da Militância Negra do PSDB, ficou sob o comando de Gabriela Cruz. O setor Diversidade Tucana, versando a respeito de diversidade sexual, se manteve com Edgar Souza. Fundado em 1988 como uma dissidência do MDB, o PSDB acolheu entre seus fundadores o sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. O partido se colocou como a principal oposição ao poder por décadas. Depois de governar o país por oito anos, o PSDB se destacou como principal adversário dos governos de Lula e de Dilma Rousseff. Perdeu protagonismo em meio a escândalos políticos que atingiram algumas de suas principais lideranças, como Aécio Neves, e ao crescimento da extrema-direita.
Um dos maiores partidos em número de filiados do Brasil, com 1,32 milhão, o PSDB diminuiu de tamanho em 2022. Sem candidato para a Presidência da República, o partido também amargou derrotas nos Estados: elegeu apenas três governadores, com Raquel Lyra em Pernambuco, Eduardo Leite no Rio Grande do Sul e Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul. Raquel está cada vez mais próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua saída do partido é considerada uma questão de tempo. No Congresso Nacional, em sua federação com o Cidadania, só conseguiu eleger 18 deputados federais. Nenhum senador foi eleito em 2022. Ainda assim, no Senado contava com quatro nomes: Izalci Lucas (DF), Plínio Valério (AM), Alessandro Vieira (SE e Mara Gabrilli (SP). Esta e Alessandro deixaram o partido durante o ano. Com isso, o PSDB perdeu o gabinete de liderança do Senado, espaço a que a sigla tinha direito desde a sua fundação. O novo presidente, Marconi Perillo, é ex-deputado federal e ex-senador, foi governador de Goiás por quatro mandatos e naufragou em suas últimas incursões eleitorais, perdendo para o Senado em 2018 e 2022. Em outubro de 2018, o ex-governador foi preso preventivamente na Operação Cash Delivery, acusado de receber R$ 12 milhões em propina da Odebrecht, sendo solto no mesmo dia após conseguir habeas-corpus. A operação foi anulada em 2022.