Nonato Guedes
A deputada estadual Cida Ramos, pré-candidata a prefeita de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores, disse que apesar da disputa reinante, atualmente, nas hostes da legenda, acredita que a pacificação prevalecerá uma vez definido o nome para concorrer à sucessão de Cícero Lucena (Progressistas). Ela argumenta que o embate interno é da essência do caráter democrático do PT e já foi testemunhado, até com acirramento, em diferentes períodos da história da agremiação na Paraíba, mas considera que, passado o enfrentamento, sobrevém a unidade, até como parte da estratégia para refortalecer o petismo. De sua parte, a deputada deixou claro que não faltará com a sua colaboração decisiva para engrandecer o debate político e, ao mesmo tempo, revigorar um partido que “forjou sua história no enfrentamento às adversidades” e na defesa dos interesses da população.
No âmbito municipal do PT, em João Pessoa, o deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi prefeito da Capital por duas vezes, desponta como forte concorrente de Cida Ramos no histórico das prévias cujo calendário está sendo ajustado e que terão desdobramentos entre dezembro deste ano e janeiro de 2024, incluindo a realização de uma conferência nacional com expoentes de projeção do petismo para avaliar a conjuntura em que se situa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a correlação de forças no entrechoque com forças conservadoras e antidemocráticas. Nos últimos dias, o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, declarou apoio irrestrito a Cida alegando que a deputada tem mais identidade com o histórico de lutas do PT do que Luciano Cartaxo e acusando este de ter vacilado em alguns momentos polêmicos e decisivos da trajetória. Embora grata a Macedo pelo apoio, Cida evitou endossar o tom das suas declarações e, desta forma, alimentar a polêmica com o colega de sigla e de tribuna no Legislativo. Expôs o raciocínio de que são outros os inimigos a combater no processo que vai se desenrolar.
No entendimento de Cida Ramos, a disputa pela prefeitura de João Pessoa, além de envolver o debate da problemática local, abrirá espaço para a conjuntura nacional, com a polarização que tende a se estabelecer entre os apoiadores do governo do presidente Lula e os discípulos do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Não podemos perder de vista a necessidade de dar combate às mazelas do bolsonarismo, que desmontou instituições públicas, foi omisso e criminoso em plena pandemia da covid-19 e criou uma relação de tensão permanente com a imprensa, com outros poderes constituídos e com organismos de expressão e representatividade da sociedade civil”, expressa a deputada, advertindo que os “filhotes” do bolsonarismo estarão ativos, em posição de revanche, já nas eleições municipais de todo o país, irresignados com a inelegibilidade do ex-presidente da República que até o momento permanece, malgrado as tentativas para barrá-la, da parte de seus advogados e seguidores. “O plebiscito será inevitável sobre um modelo de gestão que foi um desastre para toda a população brasileira, conforme a maioria sentiu na pele”, expõe a deputada Cida Ramos.
Na conjuntura pré-eleitoral para prefeito de João Pessoa, apresentam-se pelo lado do bolsonarismo o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cardiologista paraibano, filiado ao PL, cuja atuação à frente da Pasta é questionada pelos petistas e por outros segmentos adversários de Jair Bolsonaro, e o comunicador Nilvan Ferreira, que foi candidato em 2020 e avançou para o segundo turno contra Cícero Lucena, não logrando, porém, vitoriar nas urnas. (Nilvan, em 2022, concorreu ao governo do Estado, mas também não teve êxito). Queiroga conseguiu o aval das cúpulas nacional e estadual do PL para ser ungido candidato a prefeito de João Pessoa, mas sua performance em pesquisas preliminares informais de intenção de voto indica baixíssima popularidade. O ex-ministro confia em que a presença de Bolsonaro no seu palanque oferecerá o empuxo necessário para crescimento da pré-candidatura, mas não há garantia de que esse fenômeno venha a acontecer. As forças de direita estarão rachadas na campanha eleitoral de 2024 na Capital paraibana e até agora não prosperaram as gestões feitas por emissários de Marcelo Queiroga para atrair o apoio de Nilvan e dos deputados Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual) à sua pretensão. O ex-ministro é apontado, também, como “ilustre desconhecido” de grande parte do eleitorado, e “desconhecedor” da realidade pessoense, por ter se ausentado por muito tempo do Estado.
Para além desses fatores, a deputada Cida Ramos entende que o PT e a forças democráticas devem se concentrar na sua própria estratégia, buscando a unidade para varrer do mapa, pelo voto, os representantes bolsonaristas alojados na direita. A deputada também mira, nos ataques, a atual administração do prefeito Cícero Lucena, que é apoiada pelo governador João Azevêdo (PSB), um aliado do governo do presidente Lula da Silva, observando que tem havido omissão em áreas estratégicas do interesse da população de João Pessoa e que, também, falta criatividade na construção de novas alternativas para o desenvolvimento da Capital paraibana. O que ela dá a entender é que, seja qual for o resultado das prévias, a ele se submeterá, coerente, inclusive, com sua postura já declarada de defender a tese da candidatura própria do PT à prefeitura de João Pessoa para que a legenda não fique a reboque de outras agremiações.