Nonato Guedes
Atenta à movimentação dos partidos para as eleições de prefeito das Capitais em 2024, a mídia nacional começa a repercutir a crise no PL de João Pessoa, onde o lançamento da pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, desencadeou rebelião por parte de “bolsonaristas-raiz” como o comunicador Nilvan Ferreira e os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual). O jornal “O Globo”, em matéria publicada ontem, informa que o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e bolsonaristas, voltaram a ter embate, agora sobre o pleito vindouro, e que nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro travam disputa com ala ligada ao cacique do partido por escolha de nomes para concorrer a prefeituras consideradas estratégicas. A matéria do repórter Gabriel Sabóia fala em “rusgas” na Capital paraibana e emenda: “Apoiado por Valdemar, Queiroga é contestado entre os bolsonaristas da Paraíba por, supostamente, ter pouca vinculação às bandeiras de direita. Apesar de o ex-ministro ter recebido o aval de Bolsonaro nas últimas semanas para seguir a empreitada, sobram dúvidas quanto ao embarque do ex-presidente na campanha”.
Ou seja: o xis da questão, em relação a João Pessoa, é sobre o engajamento efetivo do ex-presidente Bolsonaro na campanha de Queiroga como seu principal cabo eleitoral, uma vez que Nilvan Ferreira, mesmo golpeado dentro do PL e em peregrinação na busca por outro partido, está decidido a se manter no páreo, utilizando como bandeira a defesa do governo Bolsonaro e das teses bolsonaristas. Valdemar Costa Neto, falando à reportagem de “O Globo”, procurou minimizar os impasses, observando que toda articulação está sendo feita por meio dos diretórios. “Esse tipo de contratempo, de discordância, é normal neste período mas não há uma cizânia entre as alas do PL”, assegura. A declaração de Valdemar contrasta com a linha adotada pelo “triunvirato dissidente”, que abre as baterias contra o presidente do PL da Paraíba, deputado federal Wellington Roberto, e contra o próprio dirigente nacional. “O PL planeja ter candidatura própria em 14 capitais: Florianópolis, Rio de Janeiro, Curitiba, Vitória, Fortaleza, Natal, Belo Horizonte, Manaus, Boa Vista, Porto Velho, Campo Grande, Cuiabá, Belém e Rio Branco”, assevera Valdemar, omitindo, estranhamente, a Capital paraibana.
Bolsonaristas queixam-se de distanciamento do PL em relação a pautas de direita. No reverso da medalha, interlocutores de Valdemar sustentam que a preocupação deve ser a de fortalecer o partido, não o bolsonarismo, especificamente. A ala comandada por Valdemar é considerada “mais pragmática”, tendente a dar poder aos diretórios regionais, mas, por outro lado, nomes do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro querem centralizar as escolhas, o que já ocasionou atritos nas negociações para as definições, tanto em João Pessoa como em Fortaleza, no Ceará. O Partido Liberal, que elegeu 343 prefeitos em 2020, tem a meta ambiciosa de mais do que triplicar o número e chegar ao patamar de 1.200, e o desenvolvimento do plano está ocorrendo em meio às divergências. Nomes próximos a Bolsonaro reclamam da falta de um coordenador do projeto eleitoral, a exemplo do que fez o Partido dos Trabalhadores (legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), ao escalar o senador Humberto Costa (PE) para a função. Apurou-se que o ex-presidente Bolsonaro e Valdemar Costa Neto reuniram-se recentemente para “aparar arestas” e tentar ajustar situações locais, diante da atmosfera de radicalização que já é visível.
Um outro exemplo desse tipo de atrito ocorreu no Ceará, há duas semanas, quando o deputado André Fernandes foi formalizado como pré-candidato a prefeito em Fortaleza. Ele foi bancado pelo ex-presidente Bolsonaro no posto e, para que isto fosse possível, a ala considerada “mais moderada” do PL foi desligada do diretório regional, que agora é presidido pelo deputado estadual Carmelo Neto. Os dois terão mais espaço para levantar a bandeira das pautas conservadoras no Estado, numa vinculação direta ao ex-presidente da República. Sem uma liderança que coordene o projeto eleitoral, decisões desse tipo têm sido tomadas de maneira isolada, deixando marcas pela falta de composição interna na sigla e ausência de perspectivas de entendimento. Sobre João Pessoa, sabe-se que Marcelo Queiroga foi aconselhado a procurar um entendimento com os remanescentes bolsonaristas, mas a verdade é que o consenso nunca prosperou concretamente, e os membros do “triunvirato” chegaram a ironizar a baixíssima popularidade atribuída a Queiroga.
O ex-ministro da Saúde já ofereceu demonstrações de que não vai entregar os pontos na queda de braço com o “triunvirato dissidente”, muito menos cogita a intenção de abandonar a pré-candidatura a prefeito de João Pessoa. Em plena ofensiva, ele tem trazido figuras do PL que foram “cabeças coroadas” no governo do ex-presidente e abalou-se até Natal, onde Jair Bolsonaro se encontrava, para participar de um evento acadêmico para discussão de bandeiras conservadoras. Queiroga aparenta afinidade tanto com Valdemar Costa Neto como com o deputado federal Wellington Roberto e tem massificado sua aparição em programas de rádio, com entrevistas sobre virtuais propostas para o desenvolvimento de João Pessoa, carimbadas por ele como “inovadoras”. Até aqui não há qualquer confirmação de vinda de Jair Bolsonaro ao Estado, mas Queiroga assegura que na campanha propriamente dita ele irá pontificar no seu palanque. Os “dissidentes”, por sua vez, trabalham nos bastidores, prometendo surpresas que não estão claras, até o momento, para o eleitorado de João Pessoa e para a opinião pública paraibana.