Nonato Guedes
Um dos gargalos na relação entre o PSB paraibano e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) – a falta de maior participação na atual gestão municipal, com indefinição sobre perspectivas para o futuro, em caso de reeleição do alcaide – está prestes a ser dirimido. Ontem, o governador João Azevêdo, principal líder do PSB no Estado, admitiu que estão sendo agendadas conversas suas com o prefeito da Capital para esclarecer mal-entendidos e definir espaços de compartilhamento do poder, como reflexo da parceria proativa que é desenvolvida entre o governo do Estado e a prefeitura pessoense. Essa parceria tem se consolidado cada vez mais e envolve obras e investimentos, em conjunto, num pacote vultuoso que, segundo se espera, fará deslanchar o processo de desenvolvimento de João Pessoa em diversas frentes, com benefícios concretos para a população.
Com a proximidade das eleições municipais, em que será candidato natural e legítimo a um novo mandato, Cícero Lucena tem sido pressionado a repartir a estrutura de poder com o PSB, que é seu sócio na governabilidade, ocupando a vice-prefeitura com Léo Bezerra e tendo a chance de manter-se nesse posto, com o mesmo nome. Mas alguns expoentes socialistas querem mais, em troca da concessão de abrir mão da cabeça de chapa no esquema a ser montado para o embate do próximo ano: querem assumir secretarias estratégicas, com capilaridade e influência na tomada de decisões e na solução de demandas que afetam diretamente as camadas mais necessitadas da população. Até aqui, Cícero Lucena tem se desviado de pressões, disfarçadas de “fogo amigo”, as quais acabam repercutindo na mesa do governador João Azevêdo, que é considerado o grande fiador da candidatura do prefeito à reeleição.
Nos últimos meses, figuras de expressão do PSB de João Pessoa vieram a público defender teses como a do lançamento de candidatura própria do partido à prefeitura e a de cobrança, junto a Cícero, por “mais diálogo” com seus aliados de jornada política, até como estratégia para alinhamento de posições da administração municipal com a administração estadual. Esse alinhamento implicaria no apoio mais firme do prefeito Cícero Lucena à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), corroborando a postura adotada pelo governador João Azevêdo, que, como se sabe, foi cabo eleitoral atuante do mandatário nos dois turnos da eleição de 2022 no Estado, formando com o líder petista mesmo quando este declarou apoio, no primeiro turno, à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), para atender a compromissos firmados entre a cúpula petista local e o projeto do primeiro vice-presidente do Senado Federal. No segundo turno, entretanto, quando Veneziano ficou fora do páreo, Lula foi enfático na manifestação de apoio a João Azevêdo, que teve paciência e habilidade para esperar esse posicionamento.
De lá para cá, ou seja, a contar da investidura do presidente Lula no seu terceiro mandato, o segundo governo do socialista João Azevêdo tem sido regiamente contemplado pelo governo federal com programas, projetos e ações que, indiscutivelmente, compensam a falta de maior atenção do governo de Jair Bolsonaro, que se indispôs com Azevêdo exatamente por causa da sua postura contrária à gestão federal anterior e aos métodos adotados pelo ex-capitão no fazer político. O corolário da parceria administrativa produtiva que agora está sendo colocada em prática é um possível alinhamento político com vistas às eleições vindouras, dentro da meta comum de derrotar os remanescentes bolsonaristas que já voltam a botar a cabeça fora, tentando desgastar o governo do presidente Lula e a imagem de aliados políticos declarados do petista. Não obstante, as articulações de bastidores para formação de consenso no pleito 2024 têm esbarrado nas rivalidades regionais e nas próprias ambições dos diferentes partidos quanto ao seu crescimento, não só nas eleições majoritárias como, também, nas eleições proporcionais, fortalecendo-se para embates mais renhidos que serão travados por volta de 2026, quando João Azevêdo possivelmente já não estará mais à frente do Executivo Estadual.
Até agora, o governador tem atuado para quebrar arestas no círculo da sua liderança, atuando decididamente como “bombeiro” ou como “algodão entre cristais” para evitar rupturas espetaculosas que venham a pôr em risco um projeto político mais abrangente que já detém um olhar diferenciado para 2026 no calendário. A ofensiva do chefe do Executivo tem produzido alguns ganhos parciais em termos de consenso, já que dirigentes do PSB admitem como inevitável a composição com a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição e priorizam a composição de nomes para chapas proporcionais à Câmara de Vereadores de João Pessoa. De sua parte, o prefeito se abriu, finalmente, para acenos – ainda tímidos, de entendimento, mas, de qualquer forma, importantes para estabelecer-se um clima de distensão, atenuando o fogo das paixões e a fogueira das vaidades de interesses inconfessáveis que estão por trás de algumas manifestações. O governador, por assim dizer, foi empurrando com a barriga a discussão pré-eleitoral, até para ter tranquilidade para governar e mostrar serviço na segunda gestão. Mas com a virada do calendário e a proximidade da temporada eleitoral, as tratativas estão se urgenciando e exigindo ações mais efetivas para além da retórica ou da beligerância. O ajuste dos ponteiros é uma construção árdua, mas já se ensaia como decorrência da própria dinâmica do jogo político.