Nonato Guedes
Um tema colocado em pauta nos últimos dias começa a provocar controvérsias entre facções do Partido dos Trabalhadores: a sucessão iminente da deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) na presidência nacional da legenda, às vésperas de um pleito considerado decisivo para o fortalecimento do PT a partir da conquista de prefeituras, sobretudo, em Capitais importantes. A substituição de Gleisi no comando petista poderá ocorrer em virtude da cogitação do seu nome para ganhar um ministério no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que viria a ser a Pasta da Justiça, no lugar do atual ocupante, Flávio Dino, que está em vias de ser confirmado para ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga decorrente da aposentadoria da ministra Rosa Weber. Gleisi é tida como um quadro relevante na hierarquia do petismo, por se impor perante as diversas tendências e correntes que compõem a legenda, e, ao mesmo tempo, é figura da absoluta confiança do presidente Lula da Silva.
Em círculos mais próximos a Lula afirma-se que a nomeação de Gleisi para o ministério que atualmente é exercido por Flávio Dino aumentaria a representatividade feminina na equipe de governo do presidente Lula, que é insistentemente cobrado a cumprir a promessa de garantir espaços para a representação institucional das mulheres. O governo atual se compensaria pelo fato de já estar indicando dois homens para o Supremo Tribunal Federal – o primeiro deles Cristiano Zanin, que foi advogado de Lula quando este cumpriu pena por 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O segundo seria, naturalmente, Flávio Dino, que sofre queimação de parlamentares bolsonaristas mas que conta com a mobilização de uma força-tarefa ligada ao presidente Lula para se viabilizar na mais alta Corte de Justiça. Sabe-se que até o ex-presidente da República, José Sarney, que teve divergências políticas com Dino no Maranhão, foi acionado e concordou em participar da orquestração para fazer o ministro da Justiça um ministro do Supremo Tribunal Federal.
No que diz respeito à escolha do futuro presidente nacional do PT, dependerá do aval de Lula e da simpatia da primeira-dama Rosângela da Silva (Janja), que tem forte ascendência sobre o marido nas decisões de governo e nas questões políticas-partidárias, conforme especula o jornal “Folha de São Paulo”. Os nomes do líder do governo na Câmara, José Guimarães, do Ceará, do deputado federal Rui Falcão, que já foi presidente do PT e do senador Humberto Lucena têm adquirido força para comandar a sigla na sucessão à vista que já se desenha. O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, também são mencionados no páreo. A “Folha de São Paulo” especula que Gleisi também poderia ser chamada para chefiar outra pasta no governo Lula, como a Secretaria-Geral da Presidência, a Casa Civil e o Desenvolvimento Social. A Casa Civil, num dos governos Lula, foi ocupada por Dilma Rousseff, que acabou se viabilizando como candidata à presidência da República em 2010.
O principal entrave para Gleisi Hoffmann ser ministra da Justiça é a dificuldade de se encontrar um sucessor natural para o comando do Partido dos Trabalhadores. Lula tem a preocupação de que o partido não fique desfalcado, sobretudo num ano eleitoral. Gleisi Hoffmann é tida como uma das lideranças mais bem-informadas e antenadas sobre as situações enfrentadas pelo PT nos Estados, inclusive, no que diz respeito a composições da sigla com outras agremiações que estão atuando no campo da esquerda. Na campanha eleitoral de 2022, além de se empenhar decisivamente pela volta do líder Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, Gleisi operou nos bastidores e, de público, para resolver divergências nos Estados, promovendo composições em torno de candidaturas, sobretudo, majoritárias, a governos de diferentes regiões. “Experts” em PT afirmam que a dirigente nacional tem um mapeamento absoluto da radiografia da influência da legenda e dos níveis de relacionamento com outros partidos que integram o arco de sustentação do governo, forjado na “concertação de forças” que o presidente Lula da Silva liderou para derrotar o bolsonarismo e devolver a democracia ao cenário político-institucional brasileiro. Daí a confiança que o presidente da República tem na sua correligionária do Paraná.
O site “O Antagonista” informou que durante o processo de escolha do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal, o presidente Lula cogitou indicar a deputada federal Gleisi Hoffmann para o cargo. A ideia, no entanto, não foi para a frente, pois o petista avaliou que Gleisi enfrentaria forte resistência dentro do Senado Federal. Dois integrantes do núcleo duro do governo federal confirmaram essa versão, acrescentando que Lula resolveu indicar Flávio Dino após conversas com os ministros do Supremo Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin, e depois da crise gerada pelo Senado com a aprovação de uma PEC que limitaria poderes dos integrantes do tribunal. A ala mais ideológica do PT também era a favor da indicação de Gleisi, mas, no final, prevaleceu o pragmatismo de Lula. Dino é um nome bem quisto pela ala ideológica e também pela equipe do presidente da República. Ele já começou o périplo pelo Senado em busca de votos, precisando de 41 no plenário da Casa para ser o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal.