Ao discursar, ontem, na conferência nacional do Partido dos Trabalhadores para as eleições municipais do próximo ano, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a expectativa de que o partido não vai dispor de grandes fundos, mas se comprometeu a ser um “bom cabo eleitoral”. Ao mesmo tempo, ele propôs uma autocrítica dos petistas sobre questões pontuais, a exemplo da aproximação maior com o eleitorado evangélico e do fim das “briguinhas” que, na sua opinião, só fazem enfraquecer a legenda. Lula disse acreditar que o pleito municipal ainda deverá refletir a polarização que divide o país desde 2022, quando do seu confronto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas.
– Por que um partido que, muitas vezes, nos discursos, pensa que tem toda a verdade do planeta, só consegue eleger 70 deputados? Por que tão pouco?”, questionou o presidente, num “puxão” de orelhas aos filiados petistas que disputam mandatos. Acrescentou: “Prometo ser um bom cabo eleitoral, fazendo as coisas corretas, para vocês sentirem orgulho. Em nome de todo o governo, a gente não vai falhar, a gente não vai errar”. E mais: “Dinheiro vocês vão não ter, mas vão ter discurso. Limpem os ouvidos porque vão ouvir muita coisa. Se não tivermos candidatura competitiva, que possa orgulhar o partido na campanha. Precisamos procurar aliados para fazer apoio, um cara disposto a construir, fazer as pessoas assumirem compromisso, fazer acordo com partidos de esquerda, que vão cumprir o que acordar”.
O presidente da República reforçou a necessidade da sigla “voltar a ser como era no começo para reconquistar credibilidade”. De acordo com Lula, o diferencial dos postulantes do partido será “o embate político-ideológico para mostrar a diferença dos projetos de cidade que cada um de vocês vai apresentar”. O chefe do Executivo, ao comentar o retorno do fenômeno do confronto de lulistas com bolsonaristas nos municípios, advertiu: “Não pode aceitar provocação, ter medo, vergonha, enfiar o rabo no meio das pernas. Um cachorro, quando late para a gente, a gente late também, para ele ficar com medo da gente”.
Segundo o líder petista, o único medo válido dos candidatos deverá ser o de trair a esperança e a expectativa do povo no PT e nos aliados políticos. “Não vou poder ir em todas as cidades, mas vou em algumas”, anunciou. O presidente enfatizou o respeito à democracia e a vitória por meio da “narrativa do projeto que queremos”. Referindo-se ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou: “Aprendemos a gostar de democracia com os quatro anos que vivemos agora há pouco, vivemos quatro anos com o Trump”.
Nas redes sociais, o presidente reagiu com entusiasmo à pesquisa Datafolha, divulgada ontem, que mostra um aumento substancial de satisfação dos brasileiros em viver no Brasil. Segundo o levantamento, em dezembro de 2022, ao final do governo Bolsonaro, o índice de satisfação de morar no país era de 59%. Em dezembro deste ano, 12 meses após Lula assumir seu terceiro mandato, houve um salto de 15 pontos percentuais, fazendo o índice disparar para 74%. “O Brasil voltou e o orgulho de ser brasileiro também”, escreveu Lula ao compartilhar a notícia através das redes sociais. A conferência nacional do PT teve a participação de ministros do governo, de governadores, da primeira-dama Janja e do vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB. Na plateia, militantes e filiados. Em outro momento de sua fala, o presidente criticou atritos internos no partido e deixou claro que é preciso escolher os melhores candidatos.
– É preciso que a gente tenha coragem de escolher o melhor, não pode ser as briguinhas internas do PT. A gente tem que escolher o melhor. Que vai melhor defender o partido, o que vai melhor defender as coisas do governo, aquele que vai melhor apresentar proposta para a sociedade – salientou. Em diversos momentos do seu discurso, Lula atacou Bolsonaro, frisando: “Eu sinceramente acho que essa eleição vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando as eleições municipais. E vocês sabem que não podem aceitar provocação. A gente vai ter que mostrar que quer exercitar democracia com eleições mais competitivas possíveis, mas a gente não vai ter medo de ninguém”. A leitura foi compartilhada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que disse ser preciso ainda derrotar o bolsonarismo nas urnas, em discurso antes de Lula. O presidente fez um gesto ainda a Gleisi, que está sendo cotada para ministérios em uma eventual reforma ministerial mais adiante. Seu nome chegou a circular como possível sucessora de Flávio Dino no Ministério da Justiça, mas Lula afastou essa possibilidade. Para o presidente, é importante que Gleisi fique no comando do partido no ano das eleições municipais. Ele enfatizou: “Graças a Deus, você é a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores que fez a gente enfrentar os anos difíceis”.