Nonato Guedes
Nos meios políticos é dado como certo o engajamento do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima nas campanhas eleitorais a prefeito de 2024 em grandes centros, como João Pessoa e Campina Grande, não necessariamente apoiando candidaturas do PSDB mas de aliados da legenda. Em João Pessoa, Pedro deverá estar no palanque do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, por entender que ele o representa, e em retribuição ao apoio recebido de Ruy na disputa de 2022 quando concorreu ao governo do Estado, avançando para o segundo turno contra João Azevêdo (PSB). Em Campina Grande, o engajamento de Pedro é esperado, naturalmente, no palanque do atual prefeito Bruno Cunha Lima, que ainda neste mês de dezembro assina ficha de filiação ao União Brasil, a convite do senador Efraim Filho, deixando os quadros do PSD, presidido pela senadora Daniella Ribeiro, com quem não tinha diálogo.
Nos dois casos – de Ruy Carneiro e de Bruno Cunha Lima, não há registro de gestões do ex-deputado Pedro Cunha Lima para atraí-los para o PSDB, em que já militaram. Pedro respeita as opções partidárias feitas por ambos, até por avaliar que elas se encaixam no projeto de oposição ao governo do Estado e, no caso específico da Capital, no projeto de oposição ao prefeito Cícero Lucena (PP), que tentará a reeleição. Atualmente oferecendo assessoria à Unesco em programas educacionais desenvolvidos em alguns Estados brasileiros, o ex-deputado Pedro Cunha Lima também passou a presidência do diretório regional do PSDB ao deputado estadual Fábio Ramalho, de Lagoa Seca, com a missão de fortalecer a legenda em municípios onde houver espaço para tanto. O ex-deputado deixou claro, porém, que o fato de estar sem mandato, bem como sem comando partidário, não é empecilho a que prossiga sua militância política, centrada no caminho da denúncia de erros de gestões e na proposição de alternativas para os desafios que demandam políticas públicas eficientes, de resultados para a população.
A hipótese de que Pedro Cunha Lima fosse candidato a prefeito de João Pessoa no próximo ano chegou a ser agitada nas hostes políticas, principalmente, a partir da votação expressiva alcançada por ele na corrida pelo governo do Estado não somente na Capital mas no seu entorno, ou seja, na Grande João Pessoa. A votação foi tida como surpreendente pelos integrantes do “staff” do próprio governador João Azevêdo, que apostavam em performance mais significativa nas urnas. Pedro acabou emergindo do pleito como um fenômeno por ter quebrado a escrita de que os grandes colégios decidiriam a parada – e, na ótica triunfalista do “staff de João, a favor deste, diante dos investimentos e das ações de governo empreendidas. A parada de 2022, que entrou para a História, foi decidida mesmo pelos chamados bolsões interioranos, feito que extraiu reconhecimento por parte do governador João Azevêdo, a ponto de leva-lo a carimbar a sua segunda gestão como uma “gestão municipalista”, ampliando compromissos com populações de diferentes regiões que lhe deram vantagem no cômputo geral. Da parte de Pedro, porém, nunca houve cogitação concreta de candidatura em João Pessoa.
A fidelidade no apoio à candidatura do deputado federal Ruy Carneiro é uma demonstração de respeito, por parte de Cunha Lima, ao espaço do parlamentar do “Podemos” na Capital, tendo em vista que na eleição de 2020 concorreu ao posto e ficou posicionado em terceiro lugar, sendo pequena a diferença em relação aos postulantes que se enfrentaram na segunda rodada – Cícero Lucena e Nilvan Ferreira. Pesou, também, no apoio a Ruy Carneiro, o histórico de sua trajetória, com o registro do fato de que lá atrás, em 2004, havia sido candidato à prefeitura de João Pessoa, perdendo, todavia, para o ex-governador Ricardo Coutinho, que era a bola da vez no cenário da Capital. A atuação parlamentar do deputado Ruy Carneiro, embora focada, de forma macro, no interesse de toda a Paraíba, é mais ligada às demandas de João Pessoa, não só pelo reduto constituir sua base maior como, também, pela circunstância de que o parlamentar está indiscutivelmente enfronhado na abordagem dos problemas da população do maior colégio eleitoral do Estado e na formulação de soluções ou alternativas para os desafios que se apresentam à gestão pública.
O ex-deputado federal Pedro Cunha Lima tem consciência – ainda que não o admita – da sua relevância como ativo eleitoral influente, tanto junto ao eleitorado de João Pessoa como junto ao eleitorado de Campina Grande. Ele entrou na corrida pelo governo do Estado quando o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, desistiu de pontificar na eleição majoritária, preferindo arriscar-se no páreo por uma vaga à Câmara Federal, em estratégia que se revelou certeira. Pedro foi praticamente “intimado” a assumir o espaço vazio no campo da oposição e formou dobradinha com Efraim Filho ao Senado. A oposição conquistou a vaga de senador em jogo e Pedro foi empurrado para o segundo turno, onde demonstrou ser um competidor à altura de João Azevêdo, radicalizando a própria perspectiva da campanha. É certo que Cunha Lima não ficará restrito, em 2024, apenas às disputas da Capital e de Campina. Por dispor de saldo para embates em 2026, ele se desdobrará por municípios do interior e diferentes regiões, liderando o bloco numa peleja que promete ser pulverizada entre vários partidos e nos mais distintos lugares. Espera contribuir, decisivamente, para que o esquema do governador seja derrotado na maior parte do território, embora saiba que cada eleição é uma eleição, com suas peculiaridades e até características surpreendentes.