Nonato Guedes
O “clã” Ribeiro, que exerce protagonismo na vida pública paraibana, não esconde seu desconforto com a onda de boatos de que poderá trair o governador João Azevêdo (PSB) quando este deixar o cargo, em abril de 2026, para concorrer, provavelmente, a uma vaga de senador. A hipótese tem sido agitada por êmulos do “clã” Ribeiro, como deputados do Republicanos e de outros partidos, que estão na base de apoio ao chefe do Executivo estadual. O presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, já advertiu várias vezes que Azevêdo só deve se desincompatibilizar se tiver “segurança” de continuidade administrativa. Ultimamente, o deputado Felipe Leitão, que está de saída do PSD para ingressar no PSB, também sinalizou a perspectiva de “cristianização” de uma candidatura do governador e sugeriu, mesmo, que ele permanecesse no exercício do mandato até o último dia.
De um modo geral, essas especulações e advertências não mencionam diretamente o “clã” Ribeiro, mas deixam no ar a suspeita sobre esse agrupamento pela contingência de que, com o afastamento de João, quem assume a titularidade é o vice-governador Lucas Ribeiro, do PP, filho da senadora Daniella Ribeiro, presidente estadual do PSD e sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, também do PP. Pessoalmente, Azevêdo e Lucas dão demonstrações de entrosamento absoluto e revezam-se na gestão do governo, tendo o vice-governador, inclusive, cumprido missões internacionais de interesse da Paraíba que não lhe seriam confiadas se não houvesse um mínimo de afinidade da parte de João. Em paralelo, o governador tem reconhecido esforços de colaboração à sua administração tanto por parte de Daniella, que é presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso quanto por parte de Aguinaldo, que este ano foi o relator, na Câmara dos Deputados, do projeto de reforma tributária e fez questão de anotar as opiniões de João e suas sugestões para constar no esboço final que está em fase de definição.
O clima de entendimento entre o governador e o “clã” Ribeiro se estende às discussões internas sobre candidaturas do esquema oficial às eleições para a prefeitura de Campina Grande no próximo ano. João Azevêdo, embora respeitando aspirações legítimas colocadas dentro do PSB como a do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, presidente do diretório municipal socialista, também enaltece o nome da senadora Daniella Ribeiro como provável alternativa para dar combate ao prefeito Bruno Cunha Lima, que vai pleitear a reeleição pela oposição. O governador e os Ribeiro estão articulados com outros líderes de oposição a Cunha Lima na Rainha da Borborema para construir uma solução de consenso que seja favorável ao esquema, infligindo reviravolta no cenário que vai se fixando para a polarização nas urnas em 2024. O movimento de oposição à hegemonia de Bruno Cunha Lima agrega outras forças, integrantes de um denominado Fórum pró-Campina, que discutem propostas alternativas para a cidade mais importante do interior do Estado e avaliam critérios de densidade que podem recair sobre opções postas na mesa para a disputa. Este é um panorama visível a olho nu pela opinião pública, tanto de Campina Grande como da Paraíba.
Na semana passada, numa entrevista a um programa de rádio comandado pelo jornalista Heron Cid, a senadora Daniella Ribeiro resolveu dar um “basta” às especulações sobre suposta traição do “clã” Ribeiro em relação à liderança do governador João Azevêdo, na sequência das decisões que forem tomadas para o futuro. De forma incisiva, Daniella defendeu que o governador deve ter a liberdade de seguir a vida dele e enfatizou que, para os Ribeiro, não há nenhum problema se a decisão de João Azevêdo for a de permanecer à frente do Executivo até o último dia do mandato, sem disputar outros cargos eletivos, quer seja o de senador ou de deputado federal. “Somos muito resolvidos em relação a esse aspecto e estamos muito tranquilos com relação ás nossas decisões políticas”, pontuou a senadora Daniella, expressando que tal norma de conduta vale tanto para ela quanto para seu filho, o vice-governador Lucas, como para o seu irmão, deputado Aguinaldo Ribeiro, que também é insinuado como suposto pretendente ao Executivo. Se depender, portanto, do agrupamento que se divide entre o PP e o PSD não haverá qualquer tipo de gestão, pressão ou insinuação para influenciar uma tomada de posição do governador João Azevêdo, sobretudo quanto à sua permanência no exercício do posto.
Pelo que Daniella dá a entender, o que há é muita “orquestração” por parte de adversários do seu agrupamento com vistas a incompatibilizá-lo com a liderança do governador João Azevêdo, quebrando o pacto de confiança que até aqui tem funcionado sem qualquer manifestação de restrição por parte do principal interessado no contexto, que seria o gestor socialista. Aliás, Daniella poderia ter acrescentado que foi de iniciativa do próprio governador João Azevêdo o lançamento antecipado de parte da chapa majoritária do seu esquema para 2026, tendo Lucas Ribeiro como candidato a governador e o governador e o deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos, como candidatos a senador. Isto sinalizaria, em tese, que há interesse concreto do chefe do Executivo em coroar sua trajetória política concorrendo ao Senado, depois de ter se credenciado no exercício de dois mandatos consecutivos no governo. Desse ponto de vista, Daniella está coberta de razão diante da rede de intrigas. Além de ser maior de idade, e vacinado, o governador tem toda a liberdade para decidir o que considera melhor para sua carreira, arriscando-se, ou não, a disputar o Senado. Esta é, definitivamente, uma decisão pessoal e intransferível, sobre a qual não cabe ingerência de qualquer líder político de qualquer partido da base governista.