Nonato Guedes
Analistas políticos paraibanos acreditam que a ascensão do deputado federal Romero Rodrigues à liderança da bancada do “Podemos” na Câmara, composta por 15 parlamentares, deverá desviá-lo da pretensão de concorrer novamente à prefeitura de Campina Grande, que exerceu por dois mandatos consecutivos, até recentemente. O próprio Romero, em fala após sua indicação, referiu-se ao desafio de liderar um agrupamento que, na sua opinião, defende pautas fundamentais para os cidadãos, tendo prometido agir com independência e coerência, que seriam características marcantes a pontuar o histórico da legenda. Além de assumir a liderança de uma bancada integrada, ainda, pelo deputado federal paraibano Ruy Carneiro, Romero preside este ano a Comissão de Turismo, uma de suas bandeiras devido ao potencial econômico da atividade.
O debate político sobre a eleição do próximo ano em Campina Grande, segundo colégio eleitoral da Paraíba, tem girado em torno da perspectiva de uma volta de Romero ao páreo, alimentada pelo distanciamento que ele demonstra em relação à gestão do prefeito Bruno Cunha Lima, que o sucedeu e que é postulante declarado à reeleição. Não há registro de declarações do ex-prefeito sobre pretensão de tentar voltar já agora ao comando da municipalidade, mas também não há sinais de maior alinhamento entre ele e a administração atual. Romero Rodrigues praticamente ignora a gestão em vigor, embora, por dever de ofício, nos bastidores, trabalhe para garantir recursos que possam viabilizar projetos de interesse da população campinense. Em tese, ambos – Bruno e Rodrigues – pertencem a um mesmo bloco, liderado em nível estadual pelo ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que concorreu ao governo em 2022, avançando para o segundo turno contra João Azevêdo. Mas os estilos diferentes e divergências não esclarecidas parecem afastá-los mais do que aproximá-los, não obstante as tentativas feitas no “clã” Cunha Lima para pacificar Romero.
Verdade seja dita, quem mais tem interesse numa provável candidatura de Romero a prefeito, contra Bruno, são figuras políticas de expressão ligadas ao esquema do governador João Azevêdo (PSB) e que fazem oposição ao atual governante campinense. No Republicanos, os deputados Murilo Galdino (federal) e Adriano Galdino (estadual), com pleno aval do presidente da legenda, Hugo Motta, acenam com apoio a uma postulação de Romero, mesmo que ele esteja em outra legenda, embora sempre o convidem para se juntar a eles no mesmo espaço. Romero, que tem vocação autonomista diante, até mesmo, de líderes com quem possui laços familiares, parece sentir-se à vontade dentro do Podemos, uma agremiação que informa ter surgido como resposta aos eleitores cansados de não serem representados na política, “um partido que vota o melhor para o Brasil”. O espírito que norteia a legenda casa-se, conforme a interpretação corrente, com a conduta moderada de Romero, que até hoje não se caracterizou por arroubos midiáticos, e que está livre para se posicionar de acordo com sua consciência e com sua avaliação livre acerca de matérias agitadas no Parlamento como reflexo das discussões instauradas na sociedade.
“Na condição de líder do Podemos, irei além dos temas que me elegeram, abraçando todas as matérias que forem importantes para a minha bancada”, expressou o deputado Romero Rodrigues quando da confirmação do seu nome para o posto, acrescentando: “O momento é de união e de construir pontes para que o Podemos possa contribuir ainda mais para a boa política”. O partido, em publicação institucional, lembrou que Romero voltou à Câmara como deputado federal com 114.573 votos e que é extensa a relação de matérias defendidas pelo novo líder, a exemplo de melhoria na saúde e na educação, valorização dos profissionais da área de segurança pública e, em especial, o municipalismo. Ele derivou para outros temas, como a defesa de consumidores que se sentiram lesados por uma companhia aérea, denunciando o desserviço que a empresa estava prestando ao desenvolvimento do próprio turismo no Brasil. As pautas municipalistas a que ele se refere foram aprimoradas, seguramente, quando da passagem por duas vezes pela prefeitura de Campina Grande, a mais importante cidade do interior do Nordeste, bem como pela realização de eventos turísticos de porte como “O Maior São João do Mundo”, que anualmente aquece a economia da Rainha da Borborema paraibana.
Quadro político que chegou a ser cogitado para candidato a governador em 2018 e em 2022, com canais abertos, inclusive, com grupos ligados a governos de plantão, embora, pessoalmente, estivesse militando na oposição, Romero Rodrigues é bem cotado em pesquisas informais de tendências eleitorais, no tocante à disputa pela prefeitura de Campina Grande, mas, em termos concretos, recusa-se a avançar qualquer definição para o próximo ano. Já deixou claro que vai se reservar para se manifestar oficialmente no ano eleitoral propriamente dito, que já está à porta e, nesse ínterim, aproveita para intensificar contatos com agentes e líderes políticos, exercitando a arte de ouvir, que desenvolveu na carreira política. Ontem, o deputado estadual Fábio Ramalho, presidente do PSDB, cravou que Romero estará integrado ao grupo que apoiará Bruno Cunha Lima. Um ponto parece consensual entre governistas e oposicionistas: o de que Romero, se abrir mão de concorrer em 2024 em Campina Grande, estará apostos em qualquer chapa majoritária em 2026 para vagas que começam a ser ensaiadas na sua direção, mas que dependerão muito do seu próprio “timing” e da qualidade das suas ambições políticas. O foco prioritário à vista deverá ser mesmo na liderança do “Podemos”.