Nonato Guedes
Em termos políticos, o governador João Azevêdo fecha 2023 consolidado na liderança do PSB na Paraíba, desafiando pressões e prognósticos para assumir o controle de outra legenda onde, supostamente, tivesse comando incontestável. Houve muita especulação de bastidores sobre dificuldades de afirmação da chefia do governador à frente da legenda, diante de postulações legítimas por maior espaço agitadas por correligionários seus, inclusive, já tendo em vista a perspectiva das eleições municipais que começam a bater à porta. Mas o estilo do chefe do Executivo evitou e amorteceu conflitos e enfrentamentos, recolocou posições nos trilhos no PSB e desanuviou tensões que pairavam na atmosfera. O segundo mandato de João segue sustentado por uma frente ampla – e nesse espectro o PSB está representado, com voz ativa.
A turbulência que despontou no ano seguinte à disputa eleitoral de 2022, quando Azevêdo foi reeleito em segundo turno, foi reflexo da rearrumação precipitada de forças políticas que estão no seu entorno, desatando ambições e projetos para 2024 e 2026. Era um movimento, de certa forma, esperado, como parte da lógica do resultado favorável obtido nas urnas recentemente, o que estimula pretensões expansionistas e em alguns casos hegemônicas. O cenário, por isso mesmo, requer habilidade redobrada na condução dos entendimentos e na travessia das articulações. João Azevêdo já tinha compromissos firmados para 2024 em alguns redutos, como João Pessoa, onde mantém o apoio à candidatura de Cícero Lucena (PP) à reeleição. Seu esquema governa, ainda, com o Republicanos, com o PSD e com um agrupamento do PT, tendo incorporado legendas satélites que enfrentaram problemas de sobrevivência. Nesse lusco-fusco chegou a ser cogitada uma migração de João para o PDT, mas ele nunca externou apetite ou sofreguidão para tanto.
A regra basilar que tem predominado é a de que a gestão é compartilhada e que esse mantra deve ser perseguido em nome da preservação da unidade e das conquistas futuras. Até porque o governo não está focado permanentemente na política, mas, com prioridade, na ação e no investimento administrativo, de que podem resultar dividendos políticos-eleitorais. Há um conjunto de adversários à espreita, prontos para atuar como pescadores de águas turvas, forjando oportunidades para desestabilizar o esquema majoritário que João Azevêdo empalma. Por isso mesmo o radar pessoal do governador precisa estar ligado em modo contínuo, assuntando as oscilações da conjuntura e promovendo os ajustes na correção de rota. É trabalho de engenharia, especialidade técnica de João, combinado com argúcia política, e todo o cuidado é pouco para não provocar o desmoronamento do edifício que está sendo erguido.
Em favor do governador, ressalte-se que está bastante adiantado o seu estágio probatório na política paraibana – e que a lida tem sido um aprendizado constante e desafiador para o seu currículo, a sua trajetória. Um aspecto altamente propício para ele foi a parceria com o governo federal, graças à relação de aliados que mantém com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 2023 jogou para longe de João a ameaça tenebrosa da Era Bolsonaro, marcada por negacionismos e represálias mesquinhas, como corolário de uma concepção desastrada de governar e de tratar a coisa pública. Na presidência do Consórcio Nordeste, ao mesmo tempo, João tem se credenciado como líder do bloco de governadores da região, produzindo propostas e soluções que favorecem todos os Estados, indistintamente. Por fim, o assento no Conselho da República permite-lhe interlocução privilegiada – deferência que na história recente nenhum governador da Paraíba logrou alcançar.
Neste final de ano, em meio ao caleidoscópio típico da época, João Azevêdo começa a mapear cenários em municípios de diferentes regiões do Estado como preparação para a batalha das urnas a prefeito. Haverá espaço para candidaturas próprias do PSB, para apoio a candidatos de outros partidos da base e até para choques pontuais dentro da dinâmica da realidade local. João Azevêdo tem o olhar posto no conjunto da obra, Ele vê o macro para, então, se posicionar quanto a outras questões conexas. Há, porém, uma confiança equilibrada nas perspectivas eleitorais favoráveis para 2024. O governador não se acomodou, esta é que é a verdade. E tem cacife e capilaridade para bancar futuras apostas, mesmo as que soam imprevisíveis. Ele está bem na fotografia, no apagar das luzes de 2023.