Nonato Guedes
Indiscutivelmente turbinado com a sua filiação ao União Brasil, onde foi entronizado com honras e apresentado como um quadro valoroso, sobretudo na região Nordeste, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, parte, agora, para deflagrar sua estratégia com vistas a conquistar um novo mandato na Rainha da Borborema e credenciar-se no cenário político estadual em definitivo. Tal estratégia passa pela superação de arestas no entorno do seu grupo político, mediante ensaios de reaproximação com aliados que se distanciaram, como o ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos. Romero não foi à festa de filiação de Bruno, que teve estrelas políticas nacionais, e mantém-se enigmático sobre os passos que irá realmente concretizar no “ballet” político futuro, principalmente porque continua sendo assediado pela oposição para jogar fora quaisquer laços com Cunha Lima.
De concreto, há uma força-tarefa suprapartidária operando para reconciliar Romero e Bruno, na qual sobressaem o senador Efraim Filho, presidente estadual do União Brasil e grande avalista da reviravolta na biografia de Bruno, e o ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima, do PSDB, que segue integrado ao esquema e coerente na oposição ao governo João Azevêdo. Em termos gerais, não há registro de declarações de Romero insinuando rompimento com Bruno, mas também não há resquício de convivência camarada entre eles. Nos encontros fortuitos, que são escassos, não dialogam, nem para tentar equacionar Senas acumuladas, que existem. Ainda assim, como parlamentar, Romero não tem fugido ao seu compromisso de contribuir com a administração campinense, até pela consciência de que é seu dever contribuir com a população da Rainha da Borborema. Mantém um pé atrás na relação política devido à celeridade da aproximação costurada entre Bruno e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), o que sinalizou um acontecimento histórico na crônica política local.
O prefeito Bruno Cunha Lima passou a adotar a tática de não alimentar intrigas com Romero e tem reiterado a confiança em que ele estará integrado ao seu palanque em 2024, ao invés de confrontá-lo nas urnas, como é da vontade dos liderados do governador João Azevêdo. Nos bastidores, acenos têm sido feitos a Romero quanto à ocupação de espaços privilegiados em chapa majoritária nas eleições de 2026, um movimento claro para demovê-lo de ambições imediatistas, que incluem o provável retorno ao páreo já agora pela edilidade campinense. A própria formação da chapa de Bruno para a empreitada da reeleição está em aberto pela necessidade de flexibilizar espaços para o caso de uma acomodação, que está sendo perseguida com certa pressa, já que o calendário eleitoral, daqui há pouco, estará contando. O senador Veneziano, por via das dúvidas, não se engaja diretamente nas tratativas, embora delas tenha conhecimento, pelo interesse em delimitar, também, seus campos na nova aliança que promete se configurar.
O desligamento de Bruno Cunha Lima dos quadros do PSD, presidido pela senadora Daniella Ribeiro, era medida inadiável, levando-se em consideração que o atual prefeito era um estranho na agenda da parlamentar, mãe do vice-governador Lucas Ribeiro, que é parceiro do governador João Azevêdo. Como deixou claro o senador Efraim Filho, desde o início, o União Brasil despontou como um porto seguro para Cunha Lima, que não só teve assegurado o direito de recandidatura pela legenda como foi alçado à vice-presidência estadual da agremiação, no vácuo da saída do prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo Castelliano. Para além do “porto seguro” havia nuances de retribuição de lealdade na oferta da legenda a Bruno Cunha Lima, pelo apoio decidido que ele hipotecou à candidatura de Efraim Filho ao Senado em 2022, num dos momentos mais emblemáticos da história política da Paraíba nas últimas décadas. Postas as coisas desta forma, é irrecusável admitir que faturas políticas foram quitadas. O mais é decantação, na esteira da sincronia com a realidade dominante que se impôs no contexto.
Embora algumas pesquisas informais demonstrem popularidade do ex-prefeito Romero Rodrigues para a corrida eleitoral de 2024 em Campina Grande, Bruno Cunha Lima tem capilaridade apreciável no confronto direto com adversários ligados ao esquema do governador João Azevêdo (fala-se no nome do secretário Jhony Bezerra, pelo PSB, ou até mesmo da senadora Daniella Ribeiro, pelo PSD). O esquema do governador não se preparou, ainda, de forma competitiva, para a disputa em Campina Grande, o que explica os movimentos na direção de Romero Rodrigues tentando atraí-lo como elemento desestabilizador de situações que vão se fixando. Fato é que Bruno Cunha Lima fecha o ano de 2023 colecionando vitórias pontuais na sua jornada rumo à reeleição, mas terá que trabalhar muito para “amarrar” apoios que são vitais para consolidar o seu favoritismo, evitando que haja um esvaziamento no potencial que decidirá a grande batalha vindoura na maior cidade do interior do Nordeste.