Nonato Guedes
Uma reportagem de “O Antagonista” projeta a mobilização de governadores de Estados do Nordeste, que já embarcam na missão de eleger aliados em 2024 para prefeitos de Capitais e de cidades importantes da região. A reportagem lembra que sete das nove Capitais nordestinas têm prefeitos adversários dos governadores, sendo que seis deles são possíveis candidatos à reeleição. Em João Pessoa, o atual prefeito Cícero Lucena (Progressistas) conta com o reforço do governador João Azevêdo (PSB), seu grande parceiro, para conquistar um novo mandato. Na reta final deste ano de 2023, a administração de Cícero ganhou impulso em diversas esferas, surpreendendo adversários pela velocidade com que ações foram anunciadas e implementadas. A gestão ficou mais célere, também, na captação de recursos para projetos de impacto, o que dá a Lucena cacife respeitável no páreo, enfrentando concorrentes que ainda tentam se firmar, à direita ou à esquerda, e mesmo ao centro.
Em relação aos governadores que se deparam com cenários hostis ou adversos, a matéria de “O Antagonista” informa que eles estão montando estratégias para driblar as dificuldades e unir aliados em torno de candidaturas competitivas. Em alguns casos, uma vitória na Capital pode representar a derrocada de um potencial adversário em 2026. De acordo com a “Folha de S. Paulo”, em Pernambuco, por exemplo, o entorno da governador Raquel Lyra (PSDB) defende múltiplas candidaturas de oposição para enfrentar o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que é considerado favorito à recondução. O objetivo é tentar forçar um segundo turno e enfraquecer a posição do atual gestor. Em São Luís, Maranhão, também há uma tendência de pulverização das candidaturas. O governador Carlos Brandão (PSB) terá ao menos quatro aliados disputando contra o prefeito Eduardo Braide (PSD), que busca reeleição. A disputa promete ser acirrada entre os candidatos de diferentes espectros políticos.
Em Natal, os aliados da governadora Fátima Bezerra (PT) devem se dividir na sucessão do prefeito Álvaro Dias (Republicanos). O PT disputará com a deputada federal Natália Bonavides, mas outros partidos aliados também ensaiam lançar candidatos próprios. Na Bahia, o governador Jerônimo Santana (PT) conseguiu articular uma candidatura única para enfrentar o prefeito Bruno Reis, do União Brasil, que busca a reeleição. Após meses de negociação, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) foi escolhido como pré-candidato. O PT, que tinha apresentado outro nome, desistiu de concorrer. Maceió, em Alagoas, também terá uma disputa acirrada entre aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) e do senador Renan Calheiros (MDB). O atual prefeito JHC (PL), apoiado por Lira, buscará outro mandato, enquanto o MDB deve lançar um nome para concorrer contra ele. Além dessas capitais, o PT vê suas melhores chances em Fortaleza (CE) e Teresina (PI), cidades dos Estados governados pelo partido. Em Fortaleza, o governador Elmano de Freitas (PT) busca unir a base em torno de uma candidatura única, mas enfrenta disputas internas acirradas entre quatro possíveis candidatos. Já em Teresina, o deputado estadual Fábio Novo (PT) está construindo uma ampla aliança para enfrentar o ex-prefeito Sílvio Mendes, do União Brasil, e o atual prefeito Dr. Pessoa, do Republicanos.
Sobre o cenário em João Pessoa, há uma fidelidade explícita por parte do governador João Azevêdo na manifestação de apoio ao projeto de reeleição de Cícero Lucena, de tal sorte que o chefe do Executivo desestimulou ambições latentes que eclodiram dentro do seu próprio partido, o PSB, que vive a expectativa de ser contemplado, novamente, na vice, com o nome de Leo Bezerra, atual companheiro de Lucena. O governador tem feito movimentos constantes na direção do PT para assegurar um apoio da legenda a Cícero já em primeiro turno, mas esbarra no cenário de autofagia em que deputados estaduais petistas, como Luciano Cartaxo e Cida Ramos, postulam o lançamento de candidatura própria a pretexto de promover a retomada do protagonismo político na conjuntura pessoense e paraibana. O resultado das discussões e da disputa interna dentro do PT será aguardado com grande expectativa porque poderá sinalizar margem para composições no rescaldo do processo. Pessoalmente, Cícero não fecha portas e admite, até mesmo, a guarda compartilhada da administração, mas ele é naturalmente cauteloso diante das idiossincrasias reinantes. Para todos os efeitos, seu avalista maior continua sendo o governador João Azevêdo, que não desfalece, em momento algum, nesse compromisso, mesmo arrostando incompreensões e desabafos.
No campo da direita propriamente dito tentam credenciar-se à disputa pela prefeitura de João Pessoa em 2024 o ex-candidato Nilvan Ferreira, com definição partidária em aberto, e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que já se investiu da condição de pré-candidato do Partido Liberal com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de dirigentes nacionais e estaduais do PL. Não estão descartadas outras candidaturas à direita e ao centro, mas é fora de dúvidas que Cícero Lucena comandará o processo de polarização eleitoral e que tem chances concretas de assegurar vaga no segundo turno, mercê das alianças que estão sendo costuradas e dos entendimentos que transcorrem nos bastidores políticos. A verdadeira característica da eleição – se plebiscitária ou não, e em que nível – logo vai aflorar quando os ensaios para a batalha das urnas começarem a ser trazidos à opinião pública, a quem cabe decidir a sorte de postulantes ou pretendentes no jogo político de 2024, que vira mais uma página da história.