Nonato Guedes
Em pleno período natalino é possível dizer que a Arquidiocese Metropolitana da Paraíba, presidida pelo arcebispo Dom Manoel Delson, logrou potencializar forças para restaurar a sua credibilidade e fortalecer-se junto ao rebanho católico, em meio ao tsunami do escândalo de desvio de verbas públicas para atendimento a pobres e doentes no Hospital “Padre Zé”, mantido pelo Instituto que leva o mesmo nome do sacerdote que ganhou notoriedade e admiração pelo trabalho edificante realizado em vida, suprindo, muitas vezes, lacunas e omissões dos próprios poderes públicos na acolhida aos excluídos e no mister de contribuir para a melhoria das suas condições de vida. Malgrado o impacto do escândalo, que envolveu diretamente uma ovelha desgarrada, o padre Egídio de Carvalho, à frente de uma “organização criminosa”, tal como descrita pelo Gaeco-Ministério Público, a Igreja movimentou-se para reagir, não só colaborando com as investigações como dialogando diretamente com a própria sociedade, na súplica pelo mutirão em favor de uma causa justa e nobre.
A pronta atuação do arcebispo Dom Manoel Delson se fez notar nas providências para intervir na estrutura do Instituto e Hospital Padre Zé e na articulação com as instâncias essenciais para o restabelecimento da normalidade, não só com o gerenciamento transparente das atividades assistenciais como também com um trabalho de persuasão para que as doações não cessassem. A filosofia reinante em todo o esforço de mobilização, que ainda agora a população paraibana acompanha com vivo interesse, focou-se no argumento de que os pobres e enfermos, público alvo da atenção do monsenhor José Coutinho (in memoriam), não deveriam ser penalizados na situação de vulnerabilidade a que já se encontram expostos, mas, sim, faziam-se merecedores de atenção especial para o enfrentamento das turbulências que afetaram o horizonte. O arcebispo procurou o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público, instituições políticas em geral, não somente para receber subsídios de gestão correta e aplicação dos recursos públicos como para definir prioridades que serão contempladas a partir de agora, na nova gestão que está sendo empalmada no organismo.
Ressalte-se como um aspecto extremamente louvável a iniciativa que foi agitada por um grupo de empresários atuantes em João Pessoa, liderados por Roberto Santiago, proprietário do Manaíra Shopping, que montou uma força-tarefa para a quitação de salários de médicos contratados e para a regularização da situação de funcionários, inclusive, com a eliminação de abusos ou de absurdos que têm sido descobertos ao longo do processo investigatório. Havia o receio, em alguns setores, de que não houvesse tempo hábil para o restabelecimento da normalidade dos atendimentos e dos trabalhos que são desenvolvidos – e que, desse ponto de vista, o Hospital Padre Zé estaria fadado a sucumbir, como tantos outros empreendimentos filantrópicos ou de cunho humanitário que foram intentados pela porção voluntária da sociedade comprometida com seus deveres decorrentes da sensibilidade social. O que se antevê, em meio às notícias que têm vazado sobre o pós-escândalo, é um amplo ciclo de reestruturação do próprio funcionamento do Instituto-Fundação Padre Zé, que passa a se reger por normas atualizadas como corolário das mudanças inerentes à dinâmica de uma sociedade em constante movimento e ebulição.
O arcebispo Dom Manoel Delson, confrontado com as primeiras informações sobre a extensão do escândalo que acometeu o Hospital e o Instituto Padre Zé, não escondeu seu profundo desapontamento com o estado a que as coisas chegaram, demonstrando, mesmo, desconhecimento de muitas das irregularidades que eram patrocinadas num conluio de vaidades e ambições de figuras que perderam inteiramente a confiança não apenas da Igreja Católica, mas, sobretudo, dos fiéis seguidores da doutrina. Os depoimentos em tom de desabafo que foram formulados por padres e outros agentes pastorais de paróquias de João Pessoa e da Paraíba retrataram a medida da estupefação que tomou conta, a ponto de um dos clérigos expoentes admitir, no púlpito, que a Igreja estava “sangrando” no Estado por culpa do mau exemplo de ex-convertidos ou discípulos que traíram os sentimentos e ensinamentos da cristandade e tentaram enlamear uma instituição que se impôs ao respeito de pessoas humildes, da Capital e de municípios do interior, de diferentes regiões, que sempre tiveram no “Padre Zé” uma espécie de porto seguro, além de bálsamo para as aflições espirituais do dia a dia. O padre Egídio de Carvalho e as pessoas que ele atraiu para a cilada da ganância não conseguiram abalar os alicerces do que se tornou sólido pela justeza de que se revestia a causa.
As perspectivas para o ano de 2024 são francamente auspiciosas para o funcionamento de entidades constituídas no modelo inspiracional do Instituto Padre Zé e do Hospital Padre Zé. A sensação na sociedade paraibana é a de que o pior já passou e que é possível reconstruir o Bem em cima da terra arrasada que povoou o Estado no ano que está se despedindo. As investigações terão prosseguimento até o seu desfecho, não havendo qualquer especulação ou dúvida sobre caminho de volta nesse terreno pantanoso, mas isto está entregue às autoridades, que dispõem de instrumentos para comparar dados e vasculhar o que porventura ainda esteja oculto na zona de sombra dos malfeitos que repercutiram nacionalmente, tisnando a imagem da Paraíba lá fora. O Instituto Padre Zé fecha o ano redivivo como a Fênix e com um capital de solidariedade que é seu trunfo maior para manter acesa a chama junto á sociedade pessoense e paraibana.