Nonato Guedes
O deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) continua no centro da polêmica sobre candidatura do esquema governista de Campina Grande à prefeitura da cidade em 2024, gerando engajamento, nas últimas horas, por parte do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) com vistas a tentar a união do grupo em torno do projeto de reeleição do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil). Cássio propôs acenos a Romero para a disputa de cargo majoritário em 2026, provavelmente o governo do Estado, reconhecendo tratar-se de um quadro político importante junto ao eleitorado da Rainha da Borborema, na constelação política vigente. A sinalização de Cássio repete gestos que já haviam sido feitos pelo seu filho, o ex-deputado Pedro Cunha Lima, e por outros expoentes do esquema, a exemplo do senador Efraim Filho, que tem interesse numa pacificação como indispensável para embates que se estendem além do calendário do próximo ano, mas Romero permanece encenando o papel de “esfinge” no processo, adiando uma definição concreta.
Se não chega a assumir a ambição de ser novamente candidato a prefeito de uma cidade que governou por duas vezes consecutivas, Romero também não assume compromisso com a pretensão de Bruno Cunha Lima, de quem está distanciado no diálogo ou nas tratativas sobre cenário político de Campina Grande. Alega o parlamentar que está focado no seu mandato em Brasília e na perspectiva de vir a assumir, no ano que está à porta, a liderança do Podemos na Câmara, para a qual foi praticamente aclamado e que lhe dá a oportunidade de integrar o colégio de líderes nas decisões relevantes na Casa presidida por Arthur Lira (PP-AL). Romero afirma que está empenhado em carrear benefícios para a população campinense, sobretudo no segmento da Saúde, e está atento a demandas da Rainha da Borborema em outros segmentos, como o do Turismo, cuja Comissão na Câmara passou a presidir este ano. Tem salientado, ainda, que no tocante às questões políticas-eleitorais, irá consultar a própria consciência e definir seu posicionamento, provavelmente já em janeiro, baseando-se, também, em opiniões de correligionários que ele consulta a respeito.
A verdade é que Romero continua sendo cortejado, simultaneamente, pelo esquema em que sempre militou, o dos Cunha Lima, e pelo esquema ligado ao governador João Azevêdo (PSB), interessado em dividir para reinar no poder em Campina Grande. Só que há pessoas no entorno de João que começam a “desembarcar” de qualquer estratégia de aproximação com Romero por insegurança quanto ao seu real interesse no jogo, a começar do próprio governador, que passou a mencionar como alternativas contra Bruno os nomes da senadora Daniella Ribeiro (PSD), do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra (PSB) e do deputado estadual Inácio Falcão, do PCdoB. A reação mais explícita e mais agressiva veio da parte do deputado federal Gervásio Maia, presidente estadual do PSB, que considerou “manjada” a estratégia adotada por Romero Rodrigues, cujo objetivo, segundo entende, seria o de valorizar o seu próprio passe junto aos aliados políticos, não o de tomar posições firmes e autônomas no tabuleiro político. Em resposta à investida de Gervásio Maia, Romero Rodrigues limitou-se a pontuar que ela não interfere na decisão que vier a tomar e, consequentemente, anunciar. Foi quando revelou que decidirá depois de ouvir a sua própria consciência.
O impasse que ronda o posicionamento do ex-prefeito na conjuntura que está sendo montada para o próximo ano no segundo colégio eleitoral do Estado tem implicações decorrentes de desalinhamento na cronologia de fatos que tem se sucedido desde o final das eleições de 2022, quando Pedro Cunha Lima perdeu a disputa pelo governo do Estado por margem estreita de diferença em relação a João Azevêdo, o ungido. Um desses fatos foi a aproximação consumada entre o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o prefeito Bruno Cunha Lima, seguido da iniciativa do senador Efraim Filho de filiar o atual gestor campinense ao União Brasil, retirando-o das garras do PSD onde possuía incompatibilidades notórias com o grupo da senadora Daniella Ribeiro. Ao mesmo tempo, declarações ufanistas de Bruno sobre a própria gestão soaram, para Romero, como indício de sutil provocação às duas gestões que empalmou na prefeitura municipal de Campina Grande. Pelo menos informalmente, é certo que essa versão foi amplificada pelos especialistas em redes de intrigas entre parceiros políticos e o resultado foi o completo distanciamento entre Rodrigues e Bruno Cunha Lima.
A retroalimentação da polêmica envolvendo o deputado federal e ex-prefeito Romero Rodrigues tem a ver, indiscutivelmente, com o seu prestígio e a forte liderança que exerce em Campina Grande, conforme detectado por pesquisas informais de intenção de voto que lhe creditam percentuais expressivos, a despeito de todas as evidências sinalizarem para a recandidatura de Bruno Cunha Lima. O próprio Romero chegou a se sentir estimulado a massificar, em out-doors pela cidade, flagrantes de obras que marcaram sua passagem pela administração da Rainha da Borborema, cedendo à ânsia pela comparação sobre obras e serviços canalizados em favor da população. Para além dessas picuinhas da política de campanário há líderes preocupados com o trunfo maior em jogo – o controle da prefeitura de uma das mais importantes cidades do interior do Nordeste, que pode escapar das mãos do grupo atualmente representado por Bruno, não por Romero.