Nonato Guedes
O ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) decidiu entrar em cena nas últimas horas para tentar debelar a crise entre seus aliados políticos em Campina Grande, que está tomando proporções de descontrole, tendo como causa o ensaio de confronto entre o ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos) e o atual prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil), pré-candidato à reeleição. Cássio fez ponderações ao próprio Bruno para refletir sobre sua responsabilidade como sucessor de uma vasta geração de prefeitos (incluindo ele, por três vezes) que deixaram sua contribuição em prol da Rainha da Borborema nos últimos cinquenta anos. Ao mesmo tempo, preveniu Romero de que, se romper com o grupo, ele não terá espaços no esquema político do governador João Azevêdo (PSB), que está aliado aos Ribeiro e a outras forças políticas atuantes em Campina. O ex-governador sinalizou, enquanto isso, que Romero terá apoios para uma candidatura ao governo em 2026 ou, se preferir, a uma outra vaga de senador, já que os Cunha Lima estão comprometidos antecipadamente com a reeleição de Veneziano Vital do Rêgo (MDB) a uma cadeira.
Embora emitindo sua própria opinião em torno da necessidade de entendimento entre antigos aliados como condição para vitórias futuras, nos pleitos de 2024 e 2026, Cássio Cunha Lima apelou para a maturidade dos contendores e sugeriu iniciativas por parte do próprio Romero e do prefeito Bruno no sentido de dialogarem e acertarem os ponteiros, superando ressentimentos, mal-entendidos e ambições individualistas. A Bruno, afirmou que o exercício do poder envaidece e deslumbra, admitindo que ele mesmo chegou a passar por essa fase quando se repetiu no Executivo mas que é preciso resistir a essas tentações e não perder a capacidade de procurar agregar sempre, para poder governar melhor. A mediação de Cássio foi bem recebida, de público, pelo atual prefeito, que o reconheceu como uma grande liderança no cenário político estadual e, em particular, de Campina Grande, juntamente com seu filho, Pedro Cunha Lima, que concorreu ao governo do Estado em 2022 e enfrentou João Azevêdo no segundo turno, perdendo por estreita margem de diferença no bojo de uma campanha memorável que empolgou eleitores de diferentes regiões da Paraíba.
Apesar de alguns comentários de que Cássio teria se precipitado ao acenar apoio a uma candidatura de Romero ao governo em 2026, sabendo que o senador Efraim Filho, do União Brasil, e o prefeito Bruno têm pretensões nessa direção, o fato é que a estratégia adotada pelo ex-senador foi no sentido de acomodar as coisas para a eleição à vista, que é a do próximo ano, pelo reflexo que poderá ter na correlação de forças para a disputa seguinte, dois anos depois. Cássio entende que a desagregação pode ocasionar um processo incontrolável de defecções, o que seria rude golpe para um esquema que se sentiu fortalecido com a volta à polarização na disputa estadual. Por outro lado, a hegemonia no controle da prefeitura de Campina Grande, com a reeleição de Bruno Cunha Lima, é indispensável para fazer frente às investidas do grupo da senadora Daniella Ribeiro (PSD) e do seu filho, vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, que busca se firmar como candidato ao Palácio da Redenção após ter sido lançado com bastante antecedência pelo governador João Azevêdo, presumível candidato a uma das vagas de senador, juntamente com o deputado federal Hugo Motta, do Republicanos.
A reestreia de Cássio em alto estilo no cenário político paraibano teve indiscutível repercussão pelo respeito que ele ainda detém na conjuntura local e pela capacidade de mobilização do ex-governador nos meios políticos, com tentáculos, inclusive, no plano nacional, onde consolidou amizades e influências ao longo dos mandatos de deputado federal e de senador, bem como pelo conceito firmado no período em que administrou a Paraíba como resultado de duas eleições consecutivas ao Palácio da Redenção. No PSDB nacional, por outro lado, Cássio sempre foi voz respeitada, pela independência de posições e pela densidade de conteúdo na abordagem de temas da problemática nacional, impressionando presidentes da República, como o atual, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar das divergências ideológicas. Desde a campanha eleitoral de 2018, quando anotou derrota no seu currículo na tentativa de se reeleger ao Senado, ficando em quarto lugar no páreo, contrariando prognósticos de que era franco-favorito à recondução, Cássio tem se mostrado arredio à militância política, passando a cuidar dos netos e de atividades na advocacia e no assessoramento parlamentar. Na campanha em que o filho concorreu ao governo, evitou interferir na linha de frente, mas foi presente ativo nos bastidores, coordenando démarches que fortalecessem o projeto de Pedro de ascender à cadeira que ocupou no Palácio da Redenção.
Para não ser incomodado por jornalistas sobre trivialidades da política, Cássio Cunha Lima adotou como lema a máxima de que “há vida inteligente fora da política” mas não há registro de que tenha rompido de vez com ela como se fosse uma maldição contagiosa. Expoente de uma família que é referência no Nordeste e no Brasil, Cássio mantém-se informado, muito bem informado, sobre as coisas da política, e antenado com os ventos que sopram na Paraíba. No íntimo, identifica que a Era socialista inaugurada por Ricardo Coutinho e continuada por João Azevêdo está com prazo de validade vencido em pouco tempo, abrindo-se espaço para rearrumação de cenários e mesmo para a volta dos que já foram. Sobre o ex-governador e ex-prefeito de Campina Grande, a propósito, já circulam rumores de que poderá retornar a mandatos pela Câmara Federal, onde começou sua trajetória, bem jovem, como constituinte, ao lado de notáveis como Ulysses Guimarães e Mário Covas. Não é uma aposta que se descarte, embora, em se tratando de Cássio, pretensões pessoais não constituem propriamente sangria desatada. Por ora, o que lhe preocupa é a unidade do esquema para a eleição em Campina Grande.