Nonato Guedes
Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), já confirmou presença no evento organizado pelo Palácio do Planalto em Brasília para o dia 8 de Janeiro, um ano após os ataques golpistas aos prédios dos Três Poderes na Capital Federal. No contraponto, governadores alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro, não apenas filiados ao PL mas a outros partidos, já se preparam para fugir da manifestação e até mesmo do país, agendando viagens a paraísos no exterior para não coonestar com o ato que terá forte simbolismo em defesa da democracia. No começo do mês de dezembro o presidente Lula anunciou que convidaria todos os governadores e explicou que o evento tem o objetivo de “lembrar o povo que houve uma tentativa de golpe, que foi debelado pelas forças democráticas brasileiras”.
O governador João Azevêdo esteve solidário com o presidente Lula no próprio dia dos acontecimentos fatídicos na Capital Federal que mobilizaram ministros do governo recém-instalado e lideranças políticas, a exemplo do vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que estava no exercício da presidência da instituição. Em relação aos governadores bolsonaristas, eles têm frequentemente atacados pela base ligada ao ex-presidente ao participarem de atos comandados pelos petistas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que cumpriu agendas com o presidente Lula e foi ministro da Infraestrutura na gestão de Jair Bolsonaro, está na Europa e só deverá retornar ao Brasil no dia 9 de janeiro, um dia após a realização do ato. O vice-governador Felício Ramuth, do PSD, está na China, e o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado, que figura na linha constitucional de sucessão, é filiado ao PL e não se sente motivado a comparecer a Brasília. Tarcísio de Freitas foi alvo de críticas em janeiro quando foi a Brasília se encontrar com Lula e os demais governadores após os ataques golpistas.
Em julho, Freitas voltou a ser alvo da militância bolsonarista ao dar entrevista coletiva ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para defender a reforma tributária. O jornal “O Globo” informa que nas últimas semanas a relação de Tarcísio com Lula foi marcada por acenos em Brasília e saia-justa em São Paulo. Principal herdeiro político de Bolsonaro, ele protagonizou uma troca de afagos com o presidente em evento no Palácio do Planalto em 19 de dezembro. Na oportunidade, o governo federal anunciou financiamento de R$ 10 bilhões para melhorias nos Estados. Tarcísio de Freitas pelo escalado pelo petista para falar na solenidade e aproveitou para agradecer a Lula e elogiar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais apostas da gestão Lula, novamente, neste terceiro mandato. Já o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também não comparecerá á solenidade do dia 8. Em 9 de janeiro deste ano, dia seguinte às ações golpistas, o Supremo Tribunal Federal afastou Ibaneis do cargo por conduta “dolosamente omissiva” em relação ao ataque. Na ocasião, o ministro Alexandre de Moraes afirmou, ao fundamentar sua determinação, que os atos de vandalismo só poderiam ter acontecido com a anuência do governo do Distrito Federal. Ibaneis retornou ao posto dois meses depois, em 15 de março.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Comunicação afirmou que a agenda do governador Romeu Zema (Novo) ainda não está definida. Em meio a negociações envolvendo o pagamento de parcelas da dívida de Minas Gerais, Zema trocou farpas com Lula recentemente. Também já acusou o governo do líder petista de privilegiar Estados do Norte e do Nordeste do país em suposto detrimento de Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o que chegou a ser interpretado como senha para alimentar ideias separatistas que, no entanto, não encontraram eco na sociedade. Há outros governadores que deverão fugir da convivência com aliados do presidente Lula em Brasília no começo de janeiro de 2024, como o de Santa Catarina, Jorginho Mello, o do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o de Goiás, Ronaldo Caiado. A rigor, não constitui propriamente surpresa a debandada de aliados bolsonaristas das manifestações em defesa da democracia e de condenação a atos atentatórios que foram praticados. Eles não estão apenas tentando se livrar de cobrança das bases dos seus Estados, inclusive, de olho nas eleições municipais do próximo ano, mas estão ratificando fidelidade à cartilha de Bolsonaro, por mais superada e antidemocrática de que ela seja revestida.
No seu livro “O Que Vi dos Presidentes”, contando fatos e versões da história do Poder no Brasil, a jornalista Cristiana Lôbo (in memoriam), que contou com a colaboração da jornalista Diana Fernandes, deixou registrada esta observação, referindo-se ao que aguardava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na travessia do terceiro governo: “Com os eventos do 8 de janeiro, sua tarefa imediata passou a ser a preservação da democracia. Garantir uma democracia plena capaz de evitar o radicalismo dos extremos. Ou de sobreviver a novos sustos. Vencendo essa batalha, terá a chance de promover a transição para uma geração que surge como perspectiva de um novo ciclo na política brasileira – seja da direita democrática, do centro ou da esquerda. O desafio estava lançado”. Cabe completar que, além de inéditos na História do Brasil recente, os atos de 8 de Janeiro foram de uma gravidade extrema para a própria soberania nacional, diante da violência com que vicejou a destruição de prédios e monumentos públicos, numa marcha ensandecida que intentava intimidar as forças progressistas que resistem estoicamente no país. Daí porque recordar é urgente.